sexta-feira, 11 de março de 2022

Guerras

 

Guerras



Quinta-feira, dia 24 de fevereiro de 2022. O dia começa com eu tomando café da manhã e escutando na Rádio Itatiaia as notícias sobre a invasão do exército russo na Ucrânia e o Aécio Neves em um áudio se explicando no Jornal da Itatiaia porque a Justiça estava triste por ele. Foi na “Conversa de Redação”, a parte final do Jornal da Itatiaia. Esse tipo de coisa, - um áudio de mais de dois minutos (uma eternidade em se tratando de rádio) -, é muito raro na “conversa de redação”. Ainda mais em se tratando de um político. Um dos âncoras da Itatiaia até se sentiu obrigado a explicar, antes de publicar o áudio do Aécio Neves no ar, dizendo coisas sobre “contraditório”. Mas a Rádio Itatiaia gosta muito e há muito tempo do Aécio Neves. Aécio é muito poderoso em Minas Gerais e há muito tempo é assim.

Eu já o vi uma vez. Foi poético e sociológico o trem. Eu estava em um auditório e a porta do mesmo estava aberta. Aí eu sentado distante, ouvi alguma coisa vinda do corredor lá fora. Olhei para a porta aberta e o Aécio passou cercado e acompanhado por uns vinte puxa sacos. Incrível! Parecia um astro de cinema ou futebol! Pura sociologia do poder! Aquela multidão junta passando e a cabecinha dele lá no meio. Pura sociologia do poder!

RAYMUNDO FAORO, MAX WEBER E ÉMILE DURKHEIM: - Vamos com calma, filhote…

Na sexta-feira, dia 25 de fevereiro de 2022, já à a noitinha, vejo no canal do UOL no site YouTube que Aécio está ajudando brasileiros a fugir da Ucrânia em guerra. Aécio estava sumido há meses e meses do noticiário. Aí a justiça fica aborrecida com ele, mas em menos de dois dias ele deu a volta por cima.

RAYMUNDO FAORO, MAX WEBER e ÉMILE DURKHEIM: - Bom, isso aí já foi um pouquinho mais inteligente. Mas faltou comentar o detalhe da foto dele no thumbnail do vídeo do UOL, politicamente isso o ajudou também. E o próprio título do vídeo. Pegue os detalhes e os grandes detalhes. Guerra de propaganda é divertida e quem tem amigos tem tudo.

– “Guerra de propaganda é divertida e quem tem amigos…”

RAYMUNDO FAORO, MAX WEBER e ÉMILE DURKHEIM: - Anota, marmota!

O auditório em que eu estava era na Assembleia Legislativa de Minas Gerais ou na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Não lembro. Foi entre 2002 e 2006, durante a faculdade de jornalismo. Eu estava acompanhando uma líder comunitária em um evento político. Mas não lembro o nome dela.

O que meu coração-memória quis guardar foi outro líder comunitário de outro bairro pobre: o velhinho pacifista José Neto. Dele eu lembro mais. E do diretor do colégio Princesa Isabel na época, que não lembro o nome mas sei que era professor de matemática porque uma vez eu conversei com ele sobre divisão por zero. Ele combatia a violência no colégio abrindo o colégio para a comunidade nos fins de semana. Aí eu me lembro de um dos conselhos do Gustavo Ioshpe: a gente esquece de valorizar as diretoras e diretores das escolas. Mas onde eu estava? Ah, sim, era um jornal comunitário que esses líderes comunitários e meu professor Eustáquio e alguns colegamos meus da faculdade de jornalismo fazíamos. Escola em Ação era seu nome. Muito orgulho de ter participado disso!




Sexta-feira, 26 de fevereiro de 2022. O Governo do Estado de Minas Gerais reorganizou os leitos dos hospitais e agora não vai ter essa classificação “leitos exclusivos para covid-19”. Nos comentários os jornalistas da Rádio Itatiaia ficaram tão felizes que deram uma indireta de isso significaria que para o Governo do Estado de Minas Gerais a epidemia acabou ou, pelo menos, o pior já passou depois de quase dois anos. Otimismo demais por parte dos jornalistas? Lembro quando a epidemia começou, nos comentários dos jornalistas da Rádio Itatiaia as vezes eles faziam comentários venenosos sobre quarentena e o trânsito que continuava com congestionamento por excesso de veículos… rs rs Guerra de propaganda! Além de Aécio, a Rádio Itatiaia gosta muito também do Governo Bolsonaro. Eu não sou muito sociável, mas sei que escolher amigos é muito importante. Isso diz muito sobre a gente.




27 de fevereiro de 2022, meio dia e meia e uma da tarde. A âncora da CNN Brasil já mandou para o brejo a imparcialidade por causa do Putin falando em armas nucleares; mas a parte mais curiosa veio agorinha mesmo: “Fica cada vez mais difícil a China ficar neutra...”

Só uma breve nota: neste começo da guerra a imprensa, querendo ser imparcial, chegou a lembrar dos pecados dos Estados Unidos no Afeganistão e nesta última Guerra do Iraque. Tudo bem, situação nova; como as grandes potências vão se comportar diante da agressão russa e etc. Etc. Só que nós somos latinos e a memória da TV brasileira podia ter ido mais longe e perto: os pecados dos Estados Unidos na América Central na década de 1980.

Não sou especialista em política; li “Toda Mafalda” do Quino e “O antigo regime e a revolução” do Tocqueville, é verdade; mas ainda me falta Platão, Aristóteles e Maquiavel; por exemplo. Mas a gente usa as ferramentas que tem e que o mundo mais facilmente nos colocou em mãos.

Filme “The Search” (“The Search”, 2014, Bérénice Bejo, Annette Bening, Michel Hazanavicius, Abdul Khalim Mamutsiev, Maksim Emelyanov e etc.)

Assisti em um dos canais da família HBO. Há um pouco mais de um mês. Há pouco mais de um mês antes da invasão russa. Se não tem oficialmente título brasileiro deve ser difícil você assisti-lo. Mas, por outro lado, como minha família assina o pacote mais barato do serviço por TV por assinatura da Sky… Talvez não seja a você que me lê tão difícil assim encontrar e assistir a este filme. Apesar dele parecer não ter sido reprisado desde aquele dia em que eu o assisti.

Filme maravilhoso e inesquecível! Inteligente e com uma narrativa não-linear que no final nos surpreende. E que também nos faz olhar para a Rússia com tristeza. Tão chocante quanto o sofrimento de Hadji e sua família muçulmana é a cena em que Kolia conversa animadamente com o seu colega (antigo antagonista!) de exército russo e nos fundos a gente fica vendo um prédio em chamas de um país vizinho da Rússia. A Chechênia de 1999. É esta a Rússia de Tchaikóski, Chekov, Turguêniev, Tolstói, Olga Afanasiyevna Raftopulo e Ivan Kramskoy? Não pode ser.

Por favor por favor por favor por favor, assistam a este filme!



A conquista da Etiópia – sonho de um império, de A.J. Baker. 1971.

Coleção História Ilustrada do Século da Violência, Editora Renes, 1979, Rio de Janeiro.

(Barrie Pitt, Basil Liddell Hart, Renaldo A. Essisnger e Armando S. Campbell. Publicado originalmente pela Ballantine Books Inc., de Nova York, Estados Unidos.

Mas gostaria de destacar as mulheres da equipe estrangeira: a diretora de arte Sarah Kingham, a pesquisa fotográfica perfeita foi a missão cumprida por Jasmine Spencer e Carina Dvorak. Na equipe brasileira temos a Lília Pinheiro Dias, responsável pela revisão (junto com o Rubem Martins Jorge).

Mas não posso esquecer também o tradutor brasileiro Edmond Jorge. Autodidata, ele traduziu tanto a Nova Enciclopédia Católica, quanto a Química Moderna. E, claro, a maior parte desses livrinhos sobre guerra da Editora Renes.

Li este livro há muitos anos, mas lembro bem bem de sua mensagem central: Mussolini invade a Etiópia e a Liga das Nações fracassa em cumprir o seu papel. As sanções e o isolamento acabam servindo de desculpa para que o italiano violento se aproxima daquele alemão cujo nome me recuso a escrever aqui. Eu fiz algumas anotações no livro e relendo-as fico chocado com as atrocidades do exército italiano fez na Etiópia.

Agora que os italianos haviam ocupado Adis Ábaba, as democracias esperavam que o Negus se resignasse com o seu destino e, como o ato final já fora representado, permitisse que o pano se fechasse. (Na verdade, a Grã-Bretanha estava tão ansiosa por não ofender a Mussolini que, quando Selassié chegou a Gibraltar, foi transferido do cruzador Capetown para um navio de passageiros comum – artifício de que se valeu o governo britânico para evitar a cerimônia de recepção.)”

[Página 132.]

A Europa e o mundo sabe o que é uma grande guerra, mas também sabe o que quer? A OTAN sabe o que quer? A Rússia sabe o que quer? A Ucrânia sabe o que quer? A gente sabe o que as famílias dos não poderosos querem: viver em paz.



Esses livrinhos antigos da Editora Renes sobre guerras são facilmente encontrado em sebos ou livrarias que também vendem livros velhos. O meu pai, professor de geografia e história interessando pela Segunda Guerra Mundial, tem dezenas e dezenas desses livrinhos. Eu li alguns deles com bastante proveito. Aproveito para recomendar uma das minhas leituras inesquecíveis: O incêndio do Reichstag, do R. John Pritchard. Se eu fosse diretor de cinema fazia um filme com esta história.


11 de maio de 2022

Nem se fosse de propósito ia ser tão coreografado. A depressão, tristeza, auto sabotagem, hipocondria jurídica… Demorei semanas para publicar este texto e justamente hoje… O tucano mineiro realmente é poderoso.

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