Lembro
bem de como fiquei decepcionado quando vi uma formação rara de
flores e galhos se repetir muitas vezes aqui no terreno de casa. O
mesmo acontece com as nuvens. É raro ou é você que não costuma
olhar para o céu? É difícil o meio termo: ou tudo é divino
e maravilhoso ou nada o é. Rio Acima, 2009.
NOTAS
SOBRE UMA PRIMEIRA LEITURA DE "HERÓIS DA HISTÓRIA",
DE WILL DURANT. (Tradução de LAURA ALVES e AURÉLIO BARROSO
REBELLO, L&PM Editores, 2012)
Nunca
vou falar demais sobre o meu Amor pela prosa linda de Will Durant.
Algum dia terei coragem e dinheiro para fazer uma viagem sacra aos
Estados Unidos da América para conhecer a Fundação Will
Durant?
Eu
achava que esse "Heróis da História" era
"apenas" uma forma condensada do monumental "História
da Civilização", que Will escreveu em
colaboração com a sua Ariel amada. E, coisa de amante
exigente, isso tornava o livro para mim desprezível. O fato do
formato do livro ser pequeno, possuir uma capa sem graça e o fato de
que "História da Civilização" estar fora
de catálogo há décadas; contribuíram para esta minha impressão.
Era o que eu pensava quando via este livro nas livrarias. Mas... Mas
quando eu finalmente depois de anos, - de anos! -, peguei este livro
em minhas mãos e li os textos introdutórios... Percebi que era, na
verdade, um trabalho inédito, um manuscrito que estava perdido. Uma
espécie de “testamento”, pois foi o último trabalho
importante deste historiador estadunidense.
Esqueci
de desmaiar de emoção porque fiquei cheirando o livro, e escolhendo
o exemplar mais novo disponível na estante giratória da editora
(pois eu compro livro igual como a gente sai para comprar maçãs ou
peixes em uma feira no começo do mês). A seguir algumas notas
minhas feitas após uma primeira leitura do livro.
–
Depois
da galinha, ovelha, porco, cachorro ao redor da caverna ou cabana, o
homem é outro animal útil que ainda vai ser domesticado pela
mulher. Essa lição já tinha sido ensinada por Will Durant em seu
"História da Filosofia", de 1926. Ou seja,
quase cinquenta anos antes do “Heróis da História”!
Will também repete outras coisas de seus livros anteriores e
reconhecê-las foi um prazer especial para mim. Longe de achar que um
dos autores que eu mais amo diminuiu-se por repetir-se, eu passei a
gostar mais dele. Hã? Não estou pedindo para vocês entenderem
mesmo. É Amor e Amor não pede ou implora migalhas ou
ouro, ele existe e o resto do universo que se vire quanto a isso.
–
Podemos
começar a conhecer o mundo infinito da poesia chinesa procurando
poemas do Li Po.
–
Teatro
da Grécia Antiga é todo glorioso, mas ao procurar as obras mais
valiosas não esqueça você da trilogia de Ésquilo
"Oresteia".
(Em
Os Grandes Pensadores [1939],
o Will
citava como o maior nome do teatro grego Eurípedes;
que por sinal, ao lado do nosso Garrincha
(“a alegria do
povo”)
e do
líder huno Átila
(“a praga de
Deus”);
tinha o apelido mais legal de todos: “Eurípedes,
o humano”.)
Então
o resumo é esse: em caso de dúvida, compre Ésquilo e também o
Eurípedes. Como é bom ser diplomata, se sobrar um pouco do “vil
metal”, lembrar do Sófocles e do Aristófanes. Vai que esses dois
últimos resolvam transformar-se em fantasmas nervosos?
–
Praxíteles:
procurar fotos das esculturas dele na internet.
–
Nunca
tinha lido sobre a Roma antiga, apenas sabia o básico mais pobre. Ou
para ser sincero, nem nem isso! Bom... Uaaau! E mais "uaaaaaau!"!
-
Mas como Will Durant escreve? Talvez você esteja
curioso. Acho que eu não preciso dizer que eu espero essa
curiosidade. Um parágrafo será uma boa amostra e além de também
aqui suprir alguma necessidade de polêmica; normal quando se estuda
história geral.
"Em 65 d. C., os judeus se revoltaram contra Roma; os judeus
cristãos, indiferentes à política, retiraram-se para Pela, na
margem oriental do Jordão. Os judeus acusaram os cristãos de
covardia e traição, e os cristãos saudaram a destruição do
Templo, em 70 d. C., como o cumprimento de uma das profecias de
Jesus. O ódio mútuo inflamou as duas fés e propiciou a escrita de
parte da literatura mais piedosa desses dois grupos."
– A
literatura medieval é muito rica. Entre as canções que resistiram
aos séculos e séculos, podemos lembrar da alemã "Unter
den Linden"; composta pelo Walther von Der
Vogelweide.
– Há
muitas maneiras de tentar decifrar este mistério infinito que é ser
um humano. Um dos caminhos mais inteligentes é estudar a história
da Igreja Católica. Lembrar, portanto, de procurar nas
livrarias uma “História Geral da Igreja Católica” que seja mais
imparcial possível e ler e estudar atenciosamente.
– E
se estivessem escutado o “selvagem eremita” Bartolommeo
Carosi, o Brandano naquela
Quinta-Feira
Santa?
– O
anabatista Baltasar Hubmaier escrevendo o primeiro documento
defendendo a tolerância religiosa de que temos o registro. Uau!
– O
livro “Heróis da História” termina na Inglaterra
de Elisabeth I e de Francis Bacon. A morte não teve
piedade nem mesmo do meu amável e gentil Will Durant!
O projeto de escrever um texto para programas de televisão (a
origem do manuscrito que virou o livro) não pode prosseguir. Uma
pena. Sentindo isso eu li o final do livro de maneira melancólica.
Não obstante, aprendi que Elisabeth I foi a melhor governante
que os ingleses já tiveram e que Bacon amou a ciência como
poucos amaram antes e depois dele.