domingo, 28 de fevereiro de 2021

Belo porque queremos

 

É só uma nuvem e um poste com a luz acesa de dia, mas eu gosto. Eu gosto desta fotografia. Não, não adianta chamar o Alfred Adler, o William James, o Jurandir Freire Costa. Ninguém explica porque eu gosto tanto desta fotografia. Rio Acima, 2010.


MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 5

- Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas a TV Manchete passou mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


8 - Cartoon de Oldack Esteves ironizando o carnaval tedioso de Belo Horizonte (Jornal Estado de Minas do dia 3 de fevereiro de 2008).

Achei o desenho interessante na época, então recortei-o e guardei no meu arquivo como um testemunho cultural.

Pouco tempo depois o carnaval de Belo Horizonte renasceu e virou notícia no Brasil inteiro, com um batuque e uma alegria que era sentida do Rio de Janeiro a Recife! Nada acontecesse por acaso exige a nossa vaidade tão humana: acho que o carnaval de Belo Horizonte renasceu por minha causa e do Oldack. Isso não parece óbvio a você? Obrigado, sou bastante humilde e escrevo mesmo para leitoras e leitores sinceros.


9 - "Blitz da beleza homenageia as mamães de BH na praça Sete" (JornalO Tempo” do dia onze de maio de 2006.)

A reportagem da Magali Simone é curtinha e simples, o mesmo acontece com a fotografia realizada por Élcio Paraíso que a ilustra; mostrando a troca doce de olhar e sorriso entre a modelo sofisticada e a mulher simples que por acaso estava passeando ali na rua na hora. Para piorar, o meu descuido e o tempo prejudicaram bem o pequeno recorte de jornal. Mas há uma maneira de potencializar a beleza ali: querendo. Olhando novamente. Olhando com atenção. É bonito. E fica mais bonito cada vez que olhamos com mais atenção.


sábado, 27 de fevereiro de 2021

Noite de Almirante, 1884


 

Mais aranha, mais aranha aqui nas fotos. Essa Salticidae gigante ficou brava com a minha atenção durante a sessão de fotos e olhou-me descontente expressando a sua desaprovação: “mamífero estúpido, pare de tirar fotos de mim!”.




                  Noite de Almirante (Histórias Sem Data, 1884)


Genoveva não errou, mas o Deolindo também não errou. E então? Então a simplicidade.


Foi bem antes de conhecer mais este conto clássico do Pai Machado de Assis. Foi quando pensava e pensava sobre o filme “Excalibur, A Espada do Poder” (Excalibur; Cherie Lunghi, Thomas Malory, 1981, John Boorman, Nigel Terry e etc). Eu gosto muito deste filme porque ele marcou a minha infância (os comerciais anunciando que ia passar o filme na televisão e a música do Carl Orff; explicando: eu só fui assistir mesmo o filme depois de adulto). Bom, uma das coisas que pensei foi sobre o significado de duas cenas com o cavaleiro da Távola Redonda Percival encontrando-se com Deus. Na primeira cena ele foge, mas no segundo encontro com Deus ele não sente medo. Uma diferença visível é a roupa dele. Quando foge Percival está usando a sua armadura; mas na segunda vez ele veste apenas uma ceroula (aquela cueca gigante, que mais parece uma calça de pijama). Ora, diante de Deus e sua onipotência obviamente o uso de uma armadura é inútil. Diante de Deus você não mente, você não pensa em usar um escudo para proteger-se; você tem que ser sincero, coração sincero, peito exposto, peito totalmente exposto. Para o que der e vier. Tem que ser simples.

Diante da Deusa ou de Deus ou dos Deuses ou de Atma… E também diante do Amor, do Desejo… Tem que ser simples. Você tem que ser simples.

Isso nos cura da possibilidade de chorar na cama pensando nos dois juntos? Isso nos cura dos vexames públicos motivados pelos ciúmes? Isso nos cura da vontade de escutar The Smiths e Raimundo Fagner o tempo todo? “A lógica sabe ser mais simples que a vida”, ensina meu amado Will Durant; mas qual é a alternativa? Vamos sofrer porque a Genoveva apaixonou-se pelo José Diogo? Sim, mas não muito. Mas não muito. Dê a caixa de presentes, dê um “adeus” e saia Deolindo. Mantenha o nível, a elegância, a classe; leitoras e leitores.


Vede que estamos aqui muito próximos da natureza. Que mal lhe fez ele? Que mal lhe fez esta pedra que caiu de cima? Qualquer mestre de física lhe explicaria a queda das pedras. Deolindo declarou, com um gesto de desespero, que queria matá-lo. Genoveva olhou para ele com desprezo, sorriu de leve e deu um muxoxo; e como ele lhe falasse de ingratidão e perjúrio, não pode disfarçar o pasmo. Que perjúrio? Que ingratidão? Já lhe tinha dito e repetia que quando jurou era verdade. Nossa Senhora, que ali estava, em cima da cômoda, sabia se era verdade ou não. Era assim que lhe pagava o que padeceu?

O conto “Noite de Almirante” é muito interessante. Tem um pouco de sociologia: gente humilde, casas humildes, religiosidade popular, a possibilidade de gente humilde de entrar na marinha a assim ganhar respeito e um futuro melhor… Assim como “Teoria do Medalhão”, ele é simples do ponto de vista lírico; mas rico do ponto de vista filosófico.


Antes de retirar-me, era o caso de confessar que estou escutando sem parar “A Saudade Mata a Gente” (João de Barro Braguinha e Antônio Almeida) na interpretação do sempre sofisticado Emílio Santiago? Talvez não. Só imagino, lá no Hades, o Machado de Assis e o Will Durant sorrindo para mim.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Cabelos Cabelos


 A mesma aranha da fotografia postada aqui ontem. Ah, e essa aranha não se chama “Claudio”. Fico publicando fotos para acompanhar textos e ambos nada tem em comum a não ser a autoria, então pode dar alguma confusão em quem me lê. Rio Acima, 2010.



MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 4

Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas a TV Manchete exibiu no Brasil mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


6 - A pequena reportagem é sobre os supostos efeitos abortivos do mamão (Revista Veja, 23 de fevereiro de 1994).

A fotografia foi realizada pelo Edu Oliveira. A fotografia é bonita pela simplicidade e a modelo é bonita pela sua expressão doce e principalmente pelo seu cabelo que é crespo. Naturalmente ela finge saborear um pedaço de mamão, para combinar com a reportagem. Ela é branca, tem traços delicados em seu rosto e veste uma blusa com estampas floridas muito bonitas. Mas o seu cabelo crespo parecendo uma nuvem pintada de marrom e preto em pinceladas desordenadas; é realmente o "fator X" que torna tudo tão especial nesta fotografia realizada pelo Edu.



7 - "Ministério da Cultura, Museu Inimá de Paula e Santander apresentam NARRATIVAS POÉTICAS - Coleção Santander Brasil Museu Inimá de Paula 23 de outubro de 2013 a 26 de janeiro de 2014".

Este folheto é rico em textos e imagens. Cito algumas informações que achei mais interessantes. Nomes de alguns artistas plásticos para a gente procurar na internet: Fernanda Rappa, Renata de Bonis e Tuca Reinés. E no verbete “contemporâneo” aprendi que há diversos “modernismos” ao longo da história da arte e ali é mesmo tudo meio relativo e que “contemporâneo” nas artes é aquilo que nasce depois da Segunda Guerra Mundial (1945).


Mas o que torna este folheto especial para mim realmente é a pequena reprodução do óleo sobre tela "Figura" (1948), de Milton Dacosta. É uma tela linda linda que adoraria ter para mim e que posso ficar olhando por muito muito tempo!

Mais uma imagem bonita e mais uma vez vou treinar minhas “habilidades narrativas”. Coitado do Milton! Coitado de vocês!


Parece a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, mas é infinitamente mais bonita e enigmática. Ela é bem mais jovem, talvez mesmo seja uma estudante de algum colégio. Olhem esta tiara no cabelo e esta cadeira tão simples.


Depois de algum tempo, acho que descobri de onde vem os triângulos que sombreiam o rosto e o pescoço dela de maneira misteriosa. É que podemos ver atrás dela pequenos triângulos azuis-claros flutuantes sobre um fundo azul mais escuro. Mais escuro que este último azul é o azul do chão.


Falei em sombras misteriosas e vou me explicar. O seu nariz triangular e o seu vestido branco sem estampa, são sombreados de maneira equilibrada: a área escura é do mesmo tamanho que a área clareada. Mas mesmo aqui há mistério, pois a fonte de luz vem de sentidos opostos. Já a sombra do pescoço, além de não acompanhar a sombra do vestido parece maior e esta “derramada” de maneira inclinada. O rosto de nossa estudante é sombreado por um triângulo invertido. Enfim, sombras misteriosas.


Os traços faciais indicam cansaço, seriedade, tédio e tristeza. Por causa da aula que ela esta assistindo?; não quero esta hipótese. Ou ela sente isso por causa de sua vida ou por causa da vida de quem a observa? Não podemos perguntar para ela sobre estas dúvidas, pois os desenhos das orelhas são simples demais: ela não nos escutaria. O seu rosto esta inclinado e as duas linhas curtas e simples que formam suas sobrancelhas estão um pouco arqueadas, o que sugere movimento recente. Talvez o fim do julgamento a respeito do que ela deve fazer?


As sombras dos triângulos que cobrem o rosto e o pescoço quase se tocam e se isso acontecesse poderíamos ver a silhueta de uma ampulheta justamente na metade do seu tempo. Metade do tempo…


Acho que nossa estudante está em um momento decisivo e, - quando lembro que “cabelo é vida” (minha professora de literatura do colégio cujo nome esqueci) e o dela além da cor (marrom) e de ser muito grande destaca-se pelos contornos ondulares, - e não retos dos outros elementos da tela –, acredito que a decisão da estudante a fará destacar-se neste seu mundo de formas geométricas regulares demais.

(Gostei, mas não tanto assim de minha descrição. Descrever é difícil. De qualquer forma, a mensagem principal minha aqui é que o óleo sobre tela “Figura” (1948) de Milton Dacosta é uma tela linda; e que vocês devem procurar conhecer.)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Quem Fotografou o Celso?


 

Uma aranha bonita. Repare na transparência de seu corpo. Desde então não mais vi uma aranha semelhante a essa por aqui. Rio Acima, 2010.


MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 3

Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas a TV Manchete passou mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


4 - É triste e comum no mundo da fotografia. Vejam só: é uma das fotografias mais lindas que tenho em meu arquivo e eu não sei quem a realizou! Eu sou um fotógrafo bem marmota, mas pergunte a qualquer fotógrafa ou fotógrafo profissional o que eles acham quando publicam uma foto e nos créditos o pessoal coloca “divulgação” em vez do nome. Ah, o pessoal da fotografia fica furioso! Isso eu garanto! Uma vez visitando o Sindicato dos Jornalistas, lá em Belo Horizonte, um fotógrafo me falou isso. E ele estava sério, muito sério. Explicada a lição, vamos à foto.

Ela mostra o artista Celso Viáfora descendo uma escada acompanhado de crianças de alguma escola de balé. Sei disso por causa das roupas dos pequenos. O próprio Celso deve ser um dançarino. Escrevo isso por causa do modo como Celso posicionou as suas pernas ao posar para a fotografia. Os seus pés estão cruzados de uma maneira que apenas um dançarino seria capaz de movimentar-se; principalmente em uma escada de concreto tão duro. Ele parece parado enquanto as crianças estão em movimento, uma combinação que torna rica a composição e é mais uma virtude desta fotografia realmente realmente bela.


5 - Uma fotografia do escritor Luiz Vilela realizada por Jair Amaral.

Acho esta fotografia bonita e a recortei e guardei por causa da expressão do Luiz, a sua “pose” de escritor, os livros ao fundo e… os seus óculos grandes e de lentes amarelas! Algum dia eu serei tão extrovertido e moderno a ponto de comprar um óculos de lentes grandes e amarelas?


Atualização do Dia 25 de Fevereiro de 2021

Pesquisando na internet, descubro que o Celso Viáfora é, na verdade, um cantor e compositor; e não, como eu pensei, um dançarino. Mas antes das canções dele vou procurar a fotografia que recortei do jornal; pois ela é linda demais e é óbvio que alguém a deve ter colocado on line.

Não colocaram! Só eu achei a foto bonita? Quer saber? Vou colocar a conta em nome do preconceito que sofre Minas Gerais, só pode. O Brasil não conhece Minas! Os trem acontece aqui e ninguém fica sabendo!

Pronto, feito o protesto vamos às música. Celso Viáfora tem uma longa carreira como cantor e compositor, mas só nos últimos anos os seus discos apareceram e suas composições começaram a receber a atenção devida. Isso é muito comum. Lembro de uma frase de um artista estadunidense cujo o nome me escapa. Era mais ou menos assim: “Eu levei trinta anos para fazer sucesso do dia para a noite”. O mundo das artes pode ser cruel. Celso Viáfora tem um canal no site YouTube e uma das coisas que me chamaram a atenção ali imediatamente é o Celso junto com ator Ailton Graça interpretando um trecho de um romance escrito pelo… Celso! Então é isso. Acho que você e eu já temos o suficiente: escutar o Celso e ler o Luiz, ler o Celso e ler o Luiz, e dizer sempre o nome de quem fotografa. Na dúvida “fotógrafo (a) desconhecido/Agência Fulano de Tal”.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Não Minta Para Ela


 

Ainda sobre a enchente de 2009 no Conjunto João Paulo II, Barreiro. Esta fotografia, no dia seguinte à tempestade da noite e madrugada, mostra um detalhe do muro que cerca o condomínio de apartamentos populares. Segundo ouvi de moradores, se o muro não tivesse caído, com caiu em vários pontos, a água dentro do condomínio teria subido muito muito mais do que subiu. E mais, vale o registro aqui de uma vizinha de minha vó materrna e que lembro bem: “Deus do céu! A água entrou na portaria! Ela nunca tinha entrado antes até aqui!”.


MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 2

- Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas a TV Manchete passou mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


2 - "Filhos do Divórcio" (Revista Veja, edição de 17 de março de 1999).

Não recortei a reportagem toda, apenas uma página por causa de uma fotografia de família onde vemos uma jovem segurando pratos de porcelana. Ela é linda demais. Vamos lá Aldrin, banque o escritor!

Ela é jovem, entre 25 e 22 anos é o meu palpite. Branca, de uma pele tão dourada quanto o seu cabelo curto encaracolado. Esses caracóis dos cabelos ficam mais claros nas extremidades dos fios. Os olhos azuis são espertos, então não adianta mentir para ela. O seu narizinho é fininho, assim como os lábios que formam um sorriso que não é tímido. Ela está usando jeans e uma camiseta de crochê colorida. A camiseta de crochê é toda listrada, quase um arco-íris deitado. Linda, linda demais! E ainda pergunto-me porque na hora da família toda posar para a foto, ela quis segurar aqueles dois pratos de porcelana com desenhos em azul-escuro.


3 - Luiz Lyrio por Jaques Franco

É uma fotografia mostrando o escritor Luiz Lyrio lendo o que parece ser uma revista chamada "Estalo,". Isso mesmo, pelo que vi na fotografia a vírgula faz parte do nome da revista. É a única fotografia que eu tenho que mostra o Luiz Lyrio. Eu gosto do Luiz desde que li um livro dele de memórias, quando eu estava na faculdade. Foi por causa disso que recortei a foto. Nem lembro o nome de quem me emprestou e nem o nome do livro que li durante meus estudos sobre jornalismo. Sem internet agora, não sei mais detalhes do Luiz e da revista que tem uma vírgula no nome. A fotografia foi realizada pelo Jaques Franco. Não sei a data e nem de onde fiz o recorte.


Nota do dia 24 de fevereiro de 2021

Agora com internet, mas com algumas limitações. Rs rs Uma pesquisa rápida pela internet descobri mais coisas sobre o Luiz Lyrio. Fundador da revista “Estalo” (é sem vírgula no título), escreveu “Nos Idos de 68” (provavelmente o livro que li durante a faculdade), e escreveu outros livros; foi bastante premiado e homenageado. Bastante mesmo. Nossa. E ele tinha um carinho especial pelos grêmios estudantis, escrevendo e realizando diversas palestras a respeito em diversos lugares.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Teoria do Medalhão, 1882


Foi chocante e assustador; mas também foi “jornalístico”. No apartamento de minha avó materna, testemunhei uma enchente forte que atingiu aquele conjunto habitacional e realizei algumas fotografias. Conjunto João Paulo II, Barreiro, 2009. No dia seguinte toda a água da noite e madrugada já tinha ido embora, o que por si só é um fenômeno a mais que impressiona. Assim como a destruição que essa mesma água deixou. Marcou-me particularmente o drama de uma floricultura da região, atingida duas vezes pelas enchentes e que ainda foi roubada pelas pessoas insensíveis ao drama dos donos dessa floricultura.


Teoria do Medalhão (Papéis Avulsos, 1882)


Você sabe quem é você? Difícil, mas se você não sabe, é bom aprender a mergulhar no mar. Pois se você não conquista a glória imortal sendo você neste mundo, você pode alcançar a glória imortal sendo ninguém. Uma gota de água se parece com outra gota de água ali, mas, pelo menos, o mar sempre vai estar ali.


Já na década de 1880 o que viria a ser conhecido como “sociedade de massas” já mostrava os dentes e garras aos espíritos mais perspicazes da época. Como o nosso Pai Machado de Assis neste conto “Teoria do Medalhão”. Falei em “mar”, mas podemos usar, - com o perdão ao Hesse e ao seu “Sidarta” -, a imagem do “rio”. Se deixar levar pelo rio das massas anônimas em seu mundo de luzes fortes e efêmeras e dos óleos das máquinas que nunca dormem; sem a responsabilidade pesada de ser originalmente humano.

Conversar sobre a participante mais nervosa de um programa de televisão, sobre um deputado corrupto, a descoberta científica da semana; tudo histórico e tudo cabendo em um jornal de ontem amassado no lixo… Tudo vindo, tudo indo… Pegue uma boia para não se afogar e seja um medalhão. Ou o trecho sobre o trem de passageiros de “O Pequeno Príncipe”, de Exupéry. Mas talvez o parente mais próximo, por ser brasileiro inclusive, do conto “Teoria do Medalhão”, seja o conto “O Homem Que Sabia Javanês”; do Lima Barreto. Palavras pomposas e vazias, fingir entender concordar a respeito da última moda intelectual vinda de Paris ou Nova York ou do Rio de Janeiro…

Quando as grandes metrópoles nasceram o humano ficou menor. E hoje? Não vou falar das supercidades, mas da rede mundial de computadores. Na internet todo mundo fala, todo mundo de expõe; e quem se comunica? Parece ser apenas barulho e barulho.


Tu poupas aos teus semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes! - E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra pelos espíritos como um jorro súbito de sol.

Vejo por aí que vosmecê condena toda e qualquer aplicação de processos modernos.

Entendamo-nos. Condeno a aplicação, louvo a denominação.”

Sou um juiz suspeito aqui, pois achei a “Teoria do Medalhão” o conto mais fraco do ponto de vista lírico dos contos que já li do Pai Machado de Assis; mas provavelmente assim julguei porque estou com vergonha de ser muito mais velho que o Janjão e estar tão tão tão longe da independência de um adulto.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Primeiro Xingu, 1985

 


Nossa, quando eu tirei esta foto eu me achei o super hiper super fotógrafo. Era 2009 e eu tinha descoberto a fotografia. Ainda não sou um fotógrafo profissional no sentido “constante” do termo, mas o desejo continua. Rio Acima, 2009.



MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 1

- Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas passou na TV Manchete mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.
Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


1 - "A diplomacia dos glúteos"
(Revista Veja, edição de 28 de maio de 1997).
Uma nota da seção "Gente" sobre a primeira visita da Maria do Bairro (Thalia Ariadna) ao Brasil. Recortei por causa da foto em que ela aparece dançando no antigo "Programa Livre", de Serginho Groisman. Não pela Thalia "bancando a Carla Perez", mas por causa de uma jovem que aparece na fotografia também. Apenas podemos vez o seu rosto no canto, inclinando a cabeça e sorrindo desaprovando o gesto da atriz. Achei curioso. Curioso o contraste, entendem? A fotografia foi realizada pelo fotógrafo Carlos Manfredo. Novelas mexicanas, incluindo "Maria do Bairro", fizeram muito sucesso no Brasil em meados da década de 1990. Foi um dos fenômenos culturais centrais daquela década. Lembro que eu ficava nervoso e quase chorava quando não conseguia assistir a um dos episódios da primeira versão de "Carrossel". O Cirilo esperando em vão debaixo da chuva, em frente a casa de Maria Joaquina. Os filhos se parecendo fisicamente demais com os seus pais. Outra coisa era os telefones fixos, cujos os teclados eram na parte do aparelho onde se escuta e se fala e não na parte fixa sobre a mesa. Para ficar em três itens que ocorreram-me agora. Algum dia visitarei o México?

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Aniversário da Maria Bola

 Hoje de manhã testemunhei um milagre e este é autêntico. Eu vi uma Maria Bola trocar de pele, ou renascer ou simplesmente fazer aniversário. Maria Bola é uma aranha também conhecida como Nephilis cruentata; segundo a WikiPédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Nephilingis_cruentata) ela é de origem Africana em suas regiões mais quentes. Os registros mais antigos de sua presença na América do Sul datam do século XIX.

As Maria Bola são especiais para mim. Primeiro porque são aranhas e eu acho as aranhas bonitas e segundo porque ficar parado que nem bobo olhando para cima para elas nas teias é uma das principais composições de minha memória da infância. Por alguma poesia desagradável, elas sumiram aqui de casa justamente quando eu deixei de ser criança e só retornaram há uns dois anos. Começou com uma fêmea grande, linda, perfeita; ela teve filhotes e depois morreu. Passaram alguns meses e nada. Mais algum tempo e também nada. De repente um monte de Maria Bolas estavam aqui, me olhando de cima. Que lindo!

Neste texto de 2016 da Fapesp (Fundação de Amparo À Pesquisa do Estado de São Paulo], - "Antes da Primeira Mordida" [ https://revistapesquisa.fapesp.br/antes-da-primeira-mordida/ ], do Rodrigo de Oliveira Andrade; podemos ler sobre as pesquisas da Adriana Lopes e sua equipe (Instituto Butantan) a respeito da complexa digestão desta aranha (quantas enzimas astacinas, héin?) e as pesquisas do Hilton Japyassú (Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia) a respeito da memória dessas aranhas e de como elas aprendem a construir teias de acordo com o tamanho das presas que costumam ser mais frequentes aparecer para elas e também de acordo com a fome (naturalmente). É um texto científico fácil de ler, meu único comentário negativo é o Rodrigo ter referido às Nephilis cruentata pelo nome de "aranhas gigantes"; um nome bem sem graça eu acho.

Meu Will, Oh Meu Will!


 

Lembro bem de como fiquei decepcionado quando vi uma formação rara de flores e galhos se repetir muitas vezes aqui no terreno de casa. O mesmo acontece com as nuvens. É raro ou é você que não costuma olhar para o céu? É difícil o meio termo: ou tudo é divino e maravilhoso ou nada o é. Rio Acima, 2009.




NOTAS SOBRE UMA PRIMEIRA LEITURA DE "HERÓIS DA HISTÓRIA", DE WILL DURANT. (Tradução de LAURA ALVES e AURÉLIO BARROSO REBELLO, L&PM Editores, 2012)


Nunca vou falar demais sobre o meu Amor pela prosa linda de Will Durant. Algum dia terei coragem e dinheiro para fazer uma viagem sacra aos Estados Unidos da América para conhecer a Fundação Will Durant?


Eu achava que esse "Heróis da História" era "apenas" uma forma condensada do monumental "História da Civilização", que Will escreveu em colaboração com a sua Ariel amada. E, coisa de amante exigente, isso tornava o livro para mim desprezível. O fato do formato do livro ser pequeno, possuir uma capa sem graça e o fato de que "História da Civilização" estar fora de catálogo há décadas; contribuíram para esta minha impressão. Era o que eu pensava quando via este livro nas livrarias. Mas... Mas quando eu finalmente depois de anos, - de anos! -, peguei este livro em minhas mãos e li os textos introdutórios... Percebi que era, na verdade, um trabalho inédito, um manuscrito que estava perdido. Uma espécie de “testamento”, pois foi o último trabalho importante deste historiador estadunidense.


Esqueci de desmaiar de emoção porque fiquei cheirando o livro, e escolhendo o exemplar mais novo disponível na estante giratória da editora (pois eu compro livro igual como a gente sai para comprar maçãs ou peixes em uma feira no começo do mês). A seguir algumas notas minhas feitas após uma primeira leitura do livro.


Depois da galinha, ovelha, porco, cachorro ao redor da caverna ou cabana, o homem é outro animal útil que ainda vai ser domesticado pela mulher. Essa lição já tinha sido ensinada por Will Durant em seu "História da Filosofia", de 1926. Ou seja, quase cinquenta anos antes do “Heróis da História”! Will também repete outras coisas de seus livros anteriores e reconhecê-las foi um prazer especial para mim. Longe de achar que um dos autores que eu mais amo diminuiu-se por repetir-se, eu passei a gostar mais dele. Hã? Não estou pedindo para vocês entenderem mesmo. É Amor e Amor não pede ou implora migalhas ou ouro, ele existe e o resto do universo que se vire quanto a isso.


Podemos começar a conhecer o mundo infinito da poesia chinesa procurando poemas do Li Po.


Teatro da Grécia Antiga é todo glorioso, mas ao procurar as obras mais valiosas não esqueça você da trilogia de Ésquilo "Oresteia".

(Em Os Grandes Pensadores [1939], o Will citava como o maior nome do teatro grego Eurípedes; que por sinal, ao lado do nosso Garrincha (“a alegria do povo”) e do líder huno Átila (“a praga de Deus”); tinha o apelido mais legal de todos: “Eurípedes, o humano”.)

Então o resumo é esse: em caso de dúvida, compre Ésquilo e também o Eurípedes. Como é bom ser diplomata, se sobrar um pouco do “vil metal”, lembrar do Sófocles e do Aristófanes. Vai que esses dois últimos resolvam transformar-se em fantasmas nervosos?


Praxíteles: procurar fotos das esculturas dele na internet.


Nunca tinha lido sobre a Roma antiga, apenas sabia o básico mais pobre. Ou para ser sincero, nem nem isso! Bom... Uaaau! E mais "uaaaaaau!"!


- Mas como Will Durant escreve? Talvez você esteja curioso. Acho que eu não preciso dizer que eu espero essa curiosidade. Um parágrafo será uma boa amostra e além de também aqui suprir alguma necessidade de polêmica; normal quando se estuda história geral.

"Em 65 d. C., os judeus se revoltaram contra Roma; os judeus cristãos, indiferentes à política, retiraram-se para Pela, na margem oriental do Jordão. Os judeus acusaram os cristãos de covardia e traição, e os cristãos saudaram a destruição do Templo, em 70 d. C., como o cumprimento de uma das profecias de Jesus. O ódio mútuo inflamou as duas fés e propiciou a escrita de parte da literatura mais piedosa desses dois grupos."


A literatura medieval é muito rica. Entre as canções que resistiram aos séculos e séculos, podemos lembrar da alemã "Unter den Linden"; composta pelo Walther von Der Vogelweide.


Há muitas maneiras de tentar decifrar este mistério infinito que é ser um humano. Um dos caminhos mais inteligentes é estudar a história da Igreja Católica. Lembrar, portanto, de procurar nas livrarias uma “História Geral da Igreja Católica” que seja mais imparcial possível e ler e estudar atenciosamente.


E se estivessem escutado o “selvagem eremita” Bartolommeo Carosi, o Brandano naquela Quinta-Feira Santa?


O anabatista Baltasar Hubmaier escrevendo o primeiro documento defendendo a tolerância religiosa de que temos o registro. Uau!


O livro “Heróis da História” termina na Inglaterra de Elisabeth I e de Francis Bacon. A morte não teve piedade nem mesmo do meu amável e gentil Will Durant! O projeto de escrever um texto para programas de televisão (a origem do manuscrito que virou o livro) não pode prosseguir. Uma pena. Sentindo isso eu li o final do livro de maneira melancólica. Não obstante, aprendi que Elisabeth I foi a melhor governante que os ingleses já tiveram e que Bacon amou a ciência como poucos amaram antes e depois dele.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

O Espelho, 1882

 

O universo desta aranha Salticidae pode ser tão infinito e glorioso quanto o nosso. Rio Acima, 2009.




O Espelho” (Papéis Avulsos, 1882)


Nem esperei o Pai Machado de Assis dá-me a quarta frase do conto e eu já estava apaixonado pelo texto. Amigos em uma noite, onde a luz da sala misturava-se à luz da Lua, decifrando os maiores mistérios da existência. Eu já contei a vocês que acho que eu comecei a gostar de filosofia ainda bem criança por causa das conversas de adulto que eu ouvia durante os churrascos de família?


Se discordarem de mim é para a gente apagar o charuto e ir dormir. Adorei essa. Anotei. Bom para o Brasil de 2021, sempre violento e com o barulho da falta de diálogo.

Se discordarem de mim, é mais um pedaço de bolo de fubá e um gole de café e “tchau!”.


A curiosidade está na base da civilização. Will Durant acrescenta o Pai Machado de Assis ao lembrar do dinheiro.


Não é muito, mas um pouco do cotidiano de uma casa na época da escravidão podemos conhecer por meio deste conto.


Voltarete” e “piparote”, duas palavras de origem espanhola da época do Pai Machado de Assis.


Eu realmente amei este conto!

Todo o humano tem duas almas.

Uma alma que olha de dentro para fora e outra alma que olha de fora para dentro.

A nossa alma que olha de fora para dentro pode ser do tipo mutante; ser o poder e depois ser um cargo seguro na Secretaria de Transporte onde a gente se acomoda ou mesmo uma linda coleção de sapatos ingleses. Raramente esta alma é do tipo que seja apenas uma coisa, a não ser que você seja um Júlio César e aí o poder e apenas o poder seja esta sua segunda alma, entende? … (Aqui eu lembro de mais um trecho do meu Bryan. Que a Editora Martins Fontes perdoe-me mais uma vez!

Quando li as palavras “a solução do enigma do mundo somente é possível através da ligação correta entre a experiência exterior e a interior”, foi como se alguém tivesse acendido uma luz dentro da minha cabeça.”

(CONFISSÕES DE UM FILÓSOFO, de Bryan Magee; tradução de Waldéa Barcellos, Editora Martins Fontes, 2001).

Machado e Schopenhauer; não é raro que duas pessoas cheguem à mesma conclusão.

O humano é metafisicamente uma laranja. Uma laranja… Eu sou uma laranja. E porquê não? Gostei disso. Eu sou uma laranja! Lembrei-me da professora de gramática e literatura do colégio que sempre sempre elogiava o Dicionário de Símbolos. Para procurar, se houver, o verbete “laranja”. Já encontrei este livro em livrarias, mas ainda não o comprei. Se não me falha a memória o livro é de autores franceses.


E por falar em franceses tem o Jean-Paul Sartre, pois o nosso Pai Machado de Assis antecipou “A Náusea”. (Não conheço esta obra do existencialista francês; minha referência aqui é aquele vídeo do site da internet YouTube, onde o professor de filosofia Clóvis de Barros Filho conta aquela história do emprego perdido e do fichário de alunos deixados na padaria.). O garçom de “A Náusea”; a psicóloga presunçosa do Recursos Humanos; e o Espelho. Ora, ora, leitoras e leitores. O que a gente é? Cumprimos bem o papel que a sociedade espera de gente? Sem sentirmos escravos e sem sentirmos enjoo e sem confundir um espelho que não mente? Bom, não sei qual foi a resposta aí do outro lado do monitor do computador ou do celular; o que eu sei é que, pelo menos, os escravos do conto puderam fugir. Mas a gente não é escravo, não é?


Gostei muito do conto, mas não sei se concordo com o título dele.


Óps, mencionei que gostei muito do conto e não vou fazer uma citação? É gostoso fazer uma citação, a gente se sente na pele de quem escreve o livro! Já imaginaram como é estar na pele do Pai Machado de Assis? O sangue brasileiro nosso pega fogo.

Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei com este famoso estribilho: Never, for ever! — For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: — Never, for ever!— For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita ou mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro, ninguém em parte nenhuma... Riem-se?

Sim, parece que tinha um pouco de medo.

Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria.”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Um Lindo Dia na Vizinhança, 2019

 

Meu primo materno João gostou desta foto. Destaco isso porque não é sempre que o marmota aqui agrada a família. Rio Acima, 2009. A formiga aventureira subiu e subiu e depois voltou. Nem todo mundo sabe quando ir adiante e quando parar e retornar o caminho. Você sabe?




Não contei porque isso seria muito vulgar diante de um evento tão especial, mas assisti ao filme bem mais do que duas vezes; além de assistir a longos trechos quando durante as inúmeras reprises dos canais da Família HBO: “Um Lindo Dia na Vizinhança” (A Beautiful Day in the Neighborhood, 2019, Marielle Heller, Tom Junod, Noah Harpster, Micah Fitzerman-Blue, Chris Cooper e etc.).


Você fica comovido o filme todo, mas há dois momentos em que você derrete-se em lágrimas na chuva do final do primeiro filme Blade Runner e no rio Amazonas e também no oceano Atlântico. Quando o carteiro aparece pela segunda vez e a gente percebe que não é o McFeely e sim do pai do Lloyd; e ele nos diz: “é uma entrega rápida”. E depois no restaurante chinês, quando o Rogers faz uma coisa com o seu olhar que-eu-não-vou-dizer-o-que-é-porque-você-que-me-lê-vai-também-ver-o-filme-da-Marielle-Heller e descobrir.


Por quê eu assisti a este filme tanto assim e o compreendi tão plenamente como se eu mesmo o tivesse feito, do roteiro à digitação dos créditos finais? Tem alguma coisa haver com o filme brasileiro “Lavoura Arcaica” (2001, Simone Spoladore, Luís Fernando Carvalho, Raduan Nassar e etc.) e o meu pai? Por quê eu me considero defeituoso e equivocado na linha de produção do mundo e queria algo bonzinho e perfeitinho? Por quê eu queria chorar? Por quê eu queria sair daqui onde estou e pular na televisão para morar naquela vizinhança?


O filme de Marielle Heller é realmente belo, o que significa que é verdadeiro e também redentor. Porque é isto que a beleza é e faz. Eu me sinto inspirado agora. Obrigado, Marielle e Freddie.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A Chinela Turca, 1882

 


Gradiente da luz nos cabelos da fotógrafa e a pergunta que o olhar do tocador de tuba nos provoca, “ele olha para mim ou para algum pensamento distante do Parque Municipal?”. Belo Horizonte, 2009. Assim como na fotografia anterior, eu estava sentado no chão, na grama, assistindo feliz a apresentação de corais latino-americanos em homenagem ao nosso Heitor Villa-Lobos.



A Chinela Turca” (Papéis Avulsos, 1882)


A chinela da mulher (“(…) o corpo, cujas formas aliás desenhava, pouco para os olhos, mas muito para a imaginação.”) é turca e o meu paralelo é alienígena. Sem vênia para a leitora ou o leitor, uma vez que o nome faz parte do nosso destino e o meu “Aldrin” foi inspiração paterna originária de um astronauta que foi à Lua.

É que pensei que, embora acabasse com nossa solidão, a descoberta de vida inteligente fora do planeta Terra também atingiria a nossa vaidade. O filho predileto, a funcionária que merece um aumento de salário antes da colega, o sorriso mais atraente da festa… E quem não é? Ser uma pessoa única. Ser um humano. Você não gosta, não é um milagre cujo único adjetivo que se acompanha é mesmo o “divino”? Por exemplo, me encontre uma Ninfa disposta também a salvar um macaco ou uma beterraba de algum major enfadonho que sonha tornar-se um artista! É bom nem tentar, pois é difícil mesmo. Lendo o conto “A Chinela Turca” aprendemos que somos todos especiais e enquanto escuto “Como Nossos Pais”, de Belchior na voz de Elis Regina; evito pensar na responsabilidade que acompanha o privilégio de ser um humano.


Achei “A Chinela Turca” um pouco mais bem escrito que “O Alienista” e também um pouquinho precursor de Kafka na parte do sonho.

É interessante os modos aristocráticos da época, naquele final do século XIX. Hoje, 2021, somos mais grosseiros no trato com as pessoas no dia a dia. Mas a hipocrisia e os desejos nossos; estes continuam os mesmos.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O Alienista, Papéis Avulsos, 1882

 

Uma das minhas fotografias favoritas. Belo Horizonte, 2009. Gosto desta fotografias por causa dos rostos, das expressões. Quantas histórias há aqui? Mistério.


O Alienista” foi o meu começo com o Machado de Assis. Apenas li Machado de Assis durante a faculdade de jornalismo, quando eu tinha mais ou menos 22 anos de idade. E o livro era “Dom Casmurro” e o motivo era que a capa era belíssima. Mas sobre este episódio falarei mais tarde, bem mais tarde. A questão é que não li Machado de Assis durante o colégio. Ou melhor, sequer me lembro se isso aconteceu. Na verdade os meus anos de colégio foram anos de dor intensa e não quero falar a respeito. Há uma lembrança vaga a respeito de alguma atividade ligada ao conto “Missa de Galo”, mas é só.


Bom, a questão do conto “O Alienista” é o seguinte. Nesta mesma época do colégio, talvez em 1997 ou antes, lembro-me de folhear um desses anúncios de livros que as editoras fazem. Você, leitora ou leitor, já deve ter visto. Uma reprodução pequena da capa do livro, o título, o nome do autor e uma sinopse brevíssima com letras miúdas, um catálogo impresso… Enfim, a lembrança é d´eu criança perguntando ao meu pai o que significava “alienista”, impressionado que eu estava com a capa realizada pelo artista plástico Jayme Leão. Desenho de um homem com barba e cabelo de Deus, expressão severa e apontando o dedo inquisitorial a nós (“Série Bom Livro” da Editora Ática; que também registra Fukuko Saito e Antônio U. Domiêncio como arte-finalistas da referida edição). E fiquei apenas nisso. Agora aos 37 anos eu vou ler as principais obras de Machado de Assis. Por uma questão cronológica “O Alienista” é justamente o primeiro texto.


O Alienista” (Papéis Avulsos, 1882)


Quase no final do conto Simão Bacamarte pergunta à esposa, familiares e amigos quem era ele, Simão Bacamarte. E isso é o início do fim trágico do conto.


A ciência torna-se perigosa se não souber olhar para si mesma, assim como G. E. Moore foi um filósofo medíocre por não olhar para si mesmo; como escreve meu Bryan neste trecho particularmente perturbador para mim de um livro que li e reli incontáveis vezes:

A falta de imaginação é quase total. Essa combinação específica é bastante familiar na vida acadêmica, mas a maioria das pessoas consegue pôr na sua obra o melhor de si (não o todo de si). Moore, entretanto, era dotado de uma extraordinária simplicidade de coração, ingenuidade e falta de constrangimento – todos que o conheceram parecem concordar a esse respeito –, e o resultado é uma espécie de auto-revelação despudorada na sua obra. Sua voz é semelhante à de uma criança inteligente que ainda não conhece nada do mundo, não tem nenhuma compreensão real de que possa haver pontos de vista diferentes dos seus e questiona o que os adultos dizem com uma inteligência desconcertante, embora sem consciência de si mesma, jamais pensando em dirigir o mesmo tipo de questionamento para suas próprias suposições.

(CONFISSÕES DE UM FILÓSOFO, de Bryan Magee; tradução de Waldéa Barcellos, Editora Martins Fontes, 2001).


Olhar para si mesmo, conhecer-se. Eu não sou uma criança, não sou o G. E. Moore e nem o Simão Bacamarte; mas aprendi com “O Alienista” que é fácil uma ilusão enganar a gente. Uma ilusão nos enganar. A facilidade de julgar o mundo antes de ser justo com quem nos olha pelo espelho todo dia de manhã quando acabamos de acordar… Ah! Mais humildade, mais silêncio.


O Alienista” é um conto maravilhoso. Uma boa porta de entrada para o universo de Machado de Assis. Muita coisa é mostrada sem ser mostrada, muita coisa é dita rapidamente em um poderoso exercício de concisão e é interessante conhecer um pouco como era algumas cidades do interior do Brasil do final do século XIX. Imagine um tocador de matracas reunindo a multidão para anunciar a melhor tesoura no mercado, as últimas notícias e o melhor discurso do ano… Que curioso e que lindo. Ah, e o trecho do conto sobre o livro de Averróis e a estante de livros é de partir o coração. A mim partiu.


A leitura do conto foi marcada por uma cena doméstica bastante comum aqui na casa de meus pais nestes últimos meses. É a minha vovó Ambrosina que ouço a cantar lá na sala onde ela assiste a uma missa católica. Levanto-me para vê-la. Ajoelhada ela está. A posição, a voz doce e fraca, a pele enrugada flácida e manchada de negro sobre um corpo tão pequeno e magro, o tempo e a morte pairando sobre esta casa silenciosa e melancólica; tudo tudo isso parte meu coração e tenho vontade de chorar. Não sou mais um neto distante, e sim próximo e carinhoso com ela. E já é assim há algum tempo. Isso consola-me, mas não muito. Te amo, vovó Ambrosina! Que Deus exista apenas para que pessoas como ela sejam protegidas. Minha vovó com a divindade, eu com a minha formação humanista.


Um tio materno visitou-nos hoje. Normalmente ou com quarentena por causa da Covid-19, não costumamos receber visitas aqui em casa. Fiquei assustado quando o meu tio disse a idade dele. O tempo passa. Olhe, Aldrin, quantos anos você tem. Quem é você? Pois é.

Esqueci

 Esqueci de um marcador.

A Bênção de Machado de Assis


 O nome da fotografia é Ache o Culpado. Foi feita em 2009 com um celular. A fotografia ficou pequena porque eu não sabia ainda mexer bem nos controles do celular.

De volta ao blog. Fiz uma lista de livros e de outras publicações para ler e aqui estarão publicados comentários. Começarei com o Joaquim Maria Machado de Assis. Mas também estou preparando alguns textos "de reserva", para facilitar este blog ser atualizado diariamente. É difícil, mas vou tentar.