Vidas queimadas, 1997
Olha só o Gerson Camarotti! Uma das estrelas da
rede de televisão GloboNews. Eu não sabia que ele tinha sido repórter da
revista Veja. Se bem que na faculdade de jornalismo eu aprendi que é muito
comum jornalistas trabalharem em vários veículos de comunicação em suas
carreiras. E a Sandra Brasil, de
Brasília, também colaborou na reportagem. Sandra
Brasil aparece muito neste meu arquivo de material jornalístico que
construí em todos estes anos. Sem dúvida uma das mais talentosas repórteres do
Brasil.
“Brasil
Planalto selvagem
Numa noite de tédio, cinco garotos
melancólicos e
apáticos tocam fogo num índio para se
divertir”
O subtítulo da reportagem
diz praticamente tudo sobre o Caso Índio
Galdino Jesus dos Santos, mas quero destacar um trecho quase no final do
texto.
“Hoje, os pataxós são pouco mais de 4000
indivíduos aldeados e mais de 3000 dispersos pelas cidades e roças do sul da
Bahia. De seu idioma, apenas palavras soltas persistem. Quase nada ficou da
tradição: cocares que usam nas solenidades são copiados das imagens de índios
que vêem em velhos livros escolares. Na cerimônia fúnebre de Galdino, uma pataxó chamada Michelle – sim: Michelle – Souza Santos, 10 anos, desfilou orgulhosa seu cocar, emprestado de um índio mais
velho. No adorno havia peninhas cor-de-rosa tiradas de um espanador.”
(Planalto Selvagem, reportagem de Daniela Pinheiro e Gerson Camarotti publicada na revista Veja em sua edição do dia 30
de abril de 1997. Há o registro da colaboração de Cíntia Campos, da cidade de Pau Brasil, na Bahia; e de Sandra Brasil, em Brasília.).
E hoje, em 2023, como
estamos? A Bahia aparece nos noticiários nacionais há mais de uma semana por
causa da violência policial, dado que no combate ao crime muitas mortes andam
acontecendo por lá. O uso de câmeras nos uniformas policiais, coisa que já
acontece nos Estados Unidos, ainda é polêmico no Brasil.
Não sei como anda os índios
da tribo pataxó que vivem na Bahia. O Caso
Índio Galdino Jesus dos Santos, eu lembro, chocou o Brasil inteiro; se
pessoas inteligentes souberam aproveitar o momento talvez hoje os pataxós
estejam um pouco melhores do que outras tribos neste nosso Brasil tão injusto
com os indígenas.
Hum, vamos dar uma pesquisa
aqui agora. Coisa rasa, um pouco mais que nada.
https://www.pib.socioambiental.org/pt/Povo:Patax%c3%b3
Uau! Começamos bem,
começamos em um site perfeito. O povo pataxó é a água caindo do céu para beijar
a terra, as pedras; e depois caminhar abraçar os rios e os mares.
- Vivem no sul da Bahia e no
norte de Minas Gerais.
- A língua pataxó faz parte
do tronco Macro-Jê e da família Maxakalí. Está quase totalmente perdida, mas já
faz mais ou menos 30 anos que o pessoal tentar recuperá-la. Algumas vitórias
foram obtidas.
- Os números disponíveis são
velhos, mas a gente tem que usar o que temos. Brasil é Brasil; difícil fazer
pesquisas.
“No Censo Demográfico 2010, os Pataxó compõem
a tabela 1.14 - pessoas indígenas, por sexo, segundo o tronco linguístico, a
família linguística e a etnia ou povo - com um total de 13.588 hab, sendo 6.982
homens e 6.606 mulheres.”
- O evento O
Fogo de 1951. Um assalto misterioso provocou retaliação violenta contra
índios pataxós e num grande incêndio na Barra Velha (Bahia). Índios que viviam
em uma aldeia lá se dispersaram com consequente marca psicológica e emocional
aos envolvidos. Também muitos índios foram presos. A sombra do acontecido ainda
está bem viva por aquela região.
https://terravistabrasil.com.br/indios-pataxos/
Outro site interessante.
- Muitos índios pataxós
participam do mercado turístico da Bahia. Redes sociais, barracas, serviços de
hospedagem e etc. Ao mesmo tempo em que mantém os seus costumes ancestrais.
- As famílias são grandes.
Uma mulher pode ser líder da aldeia. Se a tribo não estiver satisfeita com a
liderança, é reunião para escolher outra pessoa.
https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/pelos-mundos-indigenas-pataxo/
Outro material interessante.
É bom consultar o meio acadêmico brasileiro.
- Pataxó ou Pataxoop.
- Havia antigamente
casamento entre primos envolvendo desafios como carregar toras de madeira. Uma
bebida popular era o “caium”.
http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2011/11/conheca-historia-dos-indios-pataxo.html
Outro e último site. Também
com material interessante.
- O evento O
Fogo de 1951 tem um relato ainda mais dramático.
“Meninas foram estupradas e homens,
espancados. Muitos precisaram se submeter à escravidão porque ficaram sem
opção. Oito anos antes, o governo havia criado o Parque Monumento Nacional do
Monte Pascoal e expulsou os índios que viviam nesse território. Começara aí a
dispersão dos pataxós em pequenos povoados.”
- São fãs da mandioca. A
mandioca, o “pão do Brasil”. Também chamada pelo meu amado Luís da Câmara Cascudo de a “Rainha do Brasil”.
Agora algumas palavras sobre
os cinco jovens de Brasília.
- Jovem pobre já tem que
trabalhar desde cedo, às vezes até para sustentar uma família surgida
precocemente. Não tem tempo para sentir apatia e melancolia e depois fazer esse
tipo de m*.
- Estavam sofrendo por causa
do mundo? São sensíveis demais? Tem artista que é solitário e fica no canto
dele sem fazer m* com os outros.
São questionamentos
previsíveis e um pouco grosseiros também, mas o importante aqui é que falta
muita coisa. Um pouco mais de objetividade: evidentemente alguma coisa errada
naquelas famílias de classe média alta (a propósito disso, a entrevista do
pediatra Daniel Becker ao Programa
Roda Viva em 2013 https://www.youtube.com/watch?v=dhduFNQUQz8)e
evidentemente problemas nas escolas chamam a atenção para uma possível
negligência da orientação pedagógica. Complica ainda mais quando nos
aproximamos do livre arbítrio: por que fizeram isso? O que faltava a eles? Eu
não tenho respostas.
Post
scriptum 1
Eu recortei uma pequena
matéria da Folha de S. Paulo sobre a condenação dos quatro rapazes (o menos de
idade já tinha sido julgado antes, em separado). Se chama:
“CASO PATAXÓ Sentença foi
anunciada às 4h15 de ontem; defesa anunciou que vai recorrer e índios comemoram
a decisão
Jovens são condenados a 14
anos de prisão” (mantive a diagramação original, preciso lembrar que o
subtítulo no caso fica do lado de cima do título.)
A defesa fez o que podia:
tentou transformar em lesão corporal seguida de morte. Também se discutiu se
havia ou não um cobertor envolvido. Eu destaquei um trecho, mas tive que omitir
o nome por medo. Esse pessoal de direito é meio manhoso e estamos no Brasil.
Liberdade de expressão é um mistério. A minha falta de importância pode ser uma
vantagem ou desvantagem (lição do Millôr
Fernandes sobre humoristas e prisões políticas).
“Para outros, as disputas de eloquência pelo
convencimento dos jurados era puro divertimento. “Isso é como um show. Eu
vim para me divertir. Fiquei tão empolgado no outro dia que nem consegui dormir”, disse M. T., 18, aluno de direito do primeiro semestre.”
(Jovens são condenados a 14 anos de prisão,
reportagem de Silvana de Freitas e Leila Suwwa publicada pela Folha de S.
Paulo em sua edição do dia 11 de setembro de 2001.)
Post
scriptum 2
Falamos um pouco sobre o
evento O Fogo de 1951 e hoje fico
sabendo de mais um crime tenebroso contra minorias na Bahia: assassinatos de
ciganos.
Seis mortos. Três mulheres,
sendo que uma estava grávida. Uma criança de quatro anos também morreu. Por
enquanto é isso que sabemos.
Post
scriptum 3
A entrevista do pediatra
Daniel Becker ao programa Roda Vida da Rede Cultura. Vou ver se consigo colocar
o vídeo aqui.
Olha, eu consegui!