2 de novembro de 2023
Alguma alma sebosa destruiu
a estátua em homenagem à poetisa Henriqueta
Lisboa. Vi fotografias mostrando as mãos decepadas e a pichação nos olhos,
violência que contrasta com a delicadeza da estátua que pode ser descrita como
uma mistura bonita do estereótipo de uma vovó do interior indo à missa e uma
diretora de colégio dos anos de 1950. Por causa da destruição da estátua é que
resolvi comprar a Obra Completa, de Henriqueta Lisboa. Claro que procurei
conhecer um pouco alguns poemas dela, antes.
Comprei como presente
principal do meu aniversário de 40 anos. Junto com um novo par de calçados e
meias. Combina: poesia e calçados; ambas servem para ir além do horizonte.
Ser supersticioso é que dá
azar. É verdade, mas é bom anotar a lista. Coisas do século XVII.
Um encontro com algum
“torto” logo de manhã (*),
Derramar sal na mesa,
Quebrar um espelho,
Cantar o cuco ou galinha,
Chover durante o casamento,
“O espirrar o morrão da
candeia” (**),
O uivar do cão e
Entrar com o pé esquerdo.
* “Torto”, eu pesquisei em
dicionários antigos daqui, pode ser “pessoas com problemas de visão”, “pessoas
com corcunda, problemas graves na coluna” e “marido da avó que não seja o pai
sanguíneo dos filhos dela”.
Na Inglaterra do início do
século XX, nas áreas de mineração, conta-nos George Orwell, em O Caminho para Wigan Pier, que muitos mineiros ao
sair de manhã ao trabalho voltavam para casa imediatamente se no caminho vissem
uma mulher. O trabalho nas minas era extremamente mortal e ver uma mulher na
rua logo pela manhã a caminho do trabalho não era um bom agouro.
** Também depois de
pesquisar em dicionários antigos, descobri que são candeeiros, aquela estrutura
algo sofisticada em que se colocam velas. Velas, enfim. Não espirre a ponto de
apagar uma vela.
Só sabem que era um
religioso, um frade. Mas não morava em Ipujuca (Pernambuco) e nem trabalhava no
convento de lá. Um mistério, um mistério. O que se sabe é que ele expulsava na
base da vara, alguns cavalos que os holandeses colocavam dentro do convento. Os
holandeses faziam do pátio, da área interna do convento, a estalagem para os
seus cavalos. Histórias do Brasil holandês.
Outra história envolvendo
holandeses invasores e religiosos católicos no Brasil setecentista (1701-1800).
O Diabo tinha possuído uma mulher (de repente ocorreu-me que homens não são
comuns nessas histórias de possessão, por quê?), que fora levada prontamente à
igreja do Convento de Santo Antônio de Pojuca (mais uma vez em Pernambuco).
Parentes da mulher, amigos, curiosos, religiosos do lugar e alguns holandeses
também presentes. O Diabo, pela boca da mulher, começou a falar em holandês
todos os pecados e crimes que os holandeses estavam cometendo em terras
brasileiras e até algumas coisas de que eles fizeram até em sua própria terra.
Os holandeses ficaram muito impressionados e arrependidos de tudo. Logo em
seguida o principal líder católico do convento veio e executou o exorcismo. A
partir desse dia os holandeses tiveram muito mais respeito pelos líderes
católicos brasileiros.
Desnecessário uma análise
sociológica e política de uma história popular como essa, não é? O lugar dos holandês nunca foi aqui...
Este João de Deus não é um
médium que abusou de mulheres e da fé das pessoas de uma cidade inteira
(2010-2018, Abadiânia, região metropolitana do Distrito Federal), este João de
Deus era um frei que durante uma viagem por um rio pareceu ter se afogado. O “negro
Manuel” mergulhou para salvá-lo. Encontrou o frei sentado no fundo do rio
rezando com o seu breviário. Ele, e seu breviário, saíram do rio completamente
secos. E mais, o frei disse que estava apenas esperando alguém mergulhar para
salvá-lo.
Por que a edição portuguesa
do livro do John Mawe (1764-1829) é
incompleta?
E um escravo acha um
diamante de 17 quilates e meio. Grinalda de flores na cabeça, procissão até o
administrador que lhe dá liberdade e indenização “ao seu senhor”; além de
permissão de trabalhar por contra própria.
Luís
da Câmara Cascudo chama John
Luccock de um dos “mais vivos e originais informantes” do Brasil do início
do século XIX, mas discorda do inglês que a carne de carneiro seja pouco
consumida no Brasil. Motivos religiosos (Cordeiro Divino que tomou para si os
pecados do mundo); mas Câmara Cascudo
afirma ao contrário que sim a carne de carneiro é bastante consumida no Brasil.
Polêmica interessante. Perguntar para algum pecuarista patrício se a carne de
carneiro é ou não popular por aqui.
E a religiosidade de nós
brasileiros deixava mesmo o pobre John
Luccock confuso. Nós não cortamos a
banana transversalmente porque o miolo lembra uma cruz e isso ofende, mas
cortamos do mesmo jeito a “flor da paixão (maracajá, passiflora)” e conversamos
alegremente sobre os símbolos da crucificação que ali aparecem.
O povo português parecia, a John Luccock, muito calado em
comparação aos escravos que cantavam para tornar o trabalho mais leve e
recordar com saudade a terra natal que nunca mais veriam.
De repente fiquei com muita
muita curiosidade de saber como eram as ruas, o dia a dia do Brasil em meados
do século XVIII e XIX. Mas não quero comprar a História da Vida Privada no Brasil. Primeiro que as edições
recentes são pequenas e não tem mais as ilustrações que fazem diferença;
segundo porque suspeito que os textos iriam fazer o tempo todo referência aos
livros clássicos, muito dos quais eu já tenho e não li ainda porque sou marmota
e tonto. Por outro lado... História da
Vida Privada no Brasil é uma antologia com diversas autoras e autores e
isso é uma qualidade grande. Mas não vou comprar.
Começou com os padres e
terminou com escravos e portugueses molhados. Bolas ocas de cera de cores
variadas cheias de água, mas água benta. Aí todo mundo ia para o céu cristão,
até quem não queria. O povão gostou deste método heterodoxo do clero católico e
logo logo portugueses e escravos em ocasiões festivas também faziam as suas
bombas de água que molhavam todo mundo. Uma boa pista para conhecer uma comunidade
é conhecer as suas festividades. As bombas de água eram particularmente
populares durante o carnaval (entrudo).
O que é ser herói?, me faz
perguntar este curtíssimo aforismo de Nietzsche.
Nem sempre jogar-se no meio da multidão de inimigos é sinal de coragem, pode
ser sinal de covardia. O “herói” queria era fugir, fugir para sempre... E uma
fala que vi no filme brasileiro O Homem
da Capa Preta concorda com a dúvida nietzschiana: “Coragem demais é
burrice!”. E tem aquela música do Claudio
Roberto Andrade de Azeredo e Raul
Seixas, Cowboy fora-da-lei.
Mas fica a pergunta: o que é
ser um herói?
Oskar
Schindler fez a coisa certa e ao mesmo tempo era um bon vivant; se bem que na verdade ele
vivia na corda bamba o tempo todo prestes a ser descoberto e também a angústia
por saber que podia ter feito muito mais o enforcava constantemente quando ele
ia dormir.
Mas fica a pergunta: o que é
ser um herói?
Agora um voo de balão com Santos Dumont pelas notícias. Conferir
se o mundo já foi salvo.
http://www.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=320761&ACT=&PAGE=0&PARM=&LBL=ACERVO+DE+MAT%C9RIAS
No dia 25 de outubro nasceu
o Conselho da Federação, um grupo permanente reunindo a presidência da
república e governadores de estado. Uma maneira de promover mais união e
trabalhos em conjunto. Bom, pode dar certo. O Brasil é continental, precisa
mesmo de união. E os problemas não conhecem fronteiras. Só espero que a
estrutura deste grupo seja muito caro de ser mantida.
Não tenha problemas
cardíacos graves se estiver no Rio Grande do Norte. Desde setembro de 2023 esta
parte da saúde pública do Estado está em grave estado. No dia 31 de outubro foi
enviada a Brasília um pedido de tutela. Mais dinheiro, revisão de contratos, de
tudo um pouco. Tomara que tudo se resolva. É urgente, então não é hora de
apontar culpados. Mas como é que se chega a este ponto com tanta gente
inteligente e organizada trabalhando nos bastidores?
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