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sábado, 4 de novembro de 2023

4 de novembro de 2023

 


4 de novembro de 2023

 

Sorriso é tudo.

 

A Obra Completa de Henriqueta Lisboa. Organizado por Reinaldo Marques e Wander Melo Miranda. Revisão de Mineo Takatama. Projeto gráfico e diagramação luxuosas de Silvia Amstalden. Editora Peirópolis. Caixa, três volumes. Lendo devagar porque cada grão de areia é uma safira. Chique pra caramba o trem. Delicado em um mundo tão violento e vulgar.

E é poesia, p*!!!!

E é poesia, p*!!!!

Tudo bem, mas isso é suficiente para a minha redenção? E para a redenção do mundo?

 

 

Os pais eram ingleses, mas o solo e o Sol que testemunharam o seu primeiro abrir de olhos eram de Portugal. Veio ao Brasil por motivo de saúde e a retribuição veio na forma de relatos das viagens do estrangeiro que mais amou e conheceu o nordeste brasileiro. Este brasileiro que é burro e fica debaixo da cama por medo, te saúda ó sábio e corajoso Henry Koster!

(De Antologia do Folclore Brasileiro, vamos para outro livro. Parafraseando Nietzsche sobre as Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida, de Eckermann; vocês vão ler um trecho do mais belo livro escrito em língua portuguesa.)

Conselho. No Rio de Janeiro, um professor com ar de mestre, gestos afetados, orienta Cascudo:

- O senhor precisa ler Henry Koster. Escreveu um trabalho precioso sobre o Nordeste brasileiro.

- O senhor leu o original inglês? – pergunta Cascudo.

- Não, senhor. Há uma versão anotada em português.

- O senhor se recorda do nome do tradutor e anotador?

- Não me lembro.

- Foi este seu criado...

(Câmara Cascudo – um brasileiro feliz, de Diógenes da Cunha Lima. 2016, Editora Escrituras. Página 70.)

(Agora vamos voltar à Antologia do Folclore Brasileiro.)

O nome do livro é Viagens ao Nordeste do Brasil, de Henry Koster. Tradução e notas de Luís da Câmara Cascudo. Volume 221 da Coleção Brasiliana. 1942, São Paulo.

 

E Henry Koster devia ser simpático, mas também pode ser coisa mesma dos nossos índios alegres. Os índios, a serviço do Henry, pediam para dançar em frente a casa dele à noite. Fogueira e vizinhos convidados. Alguns “negros livres” também participavam, mas de maneira afastada em frente ao dormitório deles. É emocionante ler o Henry Koster descrevendo aquilo que conhecemos hoje como berimbau.

 

Os brancos zombam muito, mas deixa que eles são sem graça mesmo. Cada distrito tem um Rei Congo. É março e é hora dos negros elegerem o seu rei, pois estamos na cerimônia anual de Nossa Senhora do Rosário. Temos rei, rainha e o Secretário de Estado. Henry Koster descreve tudo, das roupas às teorias; mas gosta mesmo de observar que o vigário na igreja estava sem almoçar a um tempão então quando finalmente o cortejo real chegou ele fez toda a cerimônia bem rapidinha. Não sem antes ficar bem nervoso com dois ou três.

 

A festa da Nossa Senhora do Rosário é grande e bonita, mas a festa praieira Batismo do Rei dos Mouros é enoooorme. A cidade inteira se reúne para o grande teatro.

 

Falta muito, mas o que entendemos por economia brasileira madura e independente está chegando. Meados do século XVIII. E na parte das riquezas do nosso solo muito muito devemos às observações pioneiras de Wilhelm Ludwig von Eschwege.

A parte disso, Eschwege aparece aqui na nossa festa do folclore brasileiro por causa de suas observações a respeito dos ermitões. Figuras muito populares no sul do Brasil. Ou eremitas. São homens que para destruir dentro de si pecados ou algum crime, escolhem proteger e cuidar de alguma capela. Pedem esmolas para poder comer e para melhor cuidar da dita capela. Barba cresce, cabelos crescem e se vestem muito humildemente. Carregam consigo uma pequena caixa de vidro contendo a imagem do santo ou da santa que abençoa a capela onde o ermitão dorme. Frequentemente esses ermitões chegam a andar distâncias médias, mas sempre voltando à suas capelas. Eschwege, porém, acrescente que, como é muito frequente no Brasil, há os abusos. Muitos ermitões pedem esmolas porque não querem trabalhar e sempre estão bebendo à custa da fé do povo.

 

Mais um alemão a apresentar o Brasil a nós brasileiros: Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825).

Uma cruz pregada no chão. É que aqui há um cadáver e aqui é um lugar de passagem. Cada um que vê a cruz reza o Pai Nosso e de Pai Nosso a Pai Nosso, aquela alma que estava no Purgatório, por não ter sido absolvida no devido tempo, consegue chegar aos Céus.

 

O nome é um mistério: “índios coroados”. Mas sabe-se que eram de Minas Gerais. Mistério ainda maior vem depois: a natureza da vingança e a estabilidade política entre tribos. Aí um índio é assassinado por outro índio. Naturalmente que o assassino não vai ser entregue à tribo atingida, o que faz a vingança recair em algum índio da outra tribo que nada tinha haver com a história. Aí as duas tribos ficam em paz novamente, como se nada tivesse acontecido! Se bem que se a gente olhar com novos olhos a Questão Israel-Palestina em outubro-novembro de 2023...

 

Uma nota triste: apesar da tradição e da atração lasciva que a dança Batuque tinha, as danças inglesas já dominavam as grandes cidades brasileiras. Isso é o que? As observações de Georg Wilhelm Freyreiss são do finalzinho do século XVII e comecinho do século XVIII.

 

O Príncipe Maximiliano dispensa apresentações. Este militar prussiano de sucesso apaixonou-se pela então chamada “História Natural” (mistura de biologia, antropologia, sociologia, etnografia, teologia e etc. que na época as ciências de hoje estavam muito próximas) e viajou pelo Brasil e pelos Estados Unidos. Os seus textos e o seu material recolhido encontram-se em centros de estudo na Europa e Estados Unidos. O príncipe Maximiliano Alexandre Felipe de Wied-Neuwied era fera.

 

Descrição de uma luta grupal indígena, incluindo as mulheres. Incrível, selvagem. Medo de guerra o índio brasileiro não tinha. A descrição do Príncipe Maximiliano da luta foi muito bem feita, digna de um romancista competente. Os índios eram da tribo Botocudo, hoje chamamos eles de Aimorés.

Além desta luta selvagem que tinha lá as suas regras, havia entre os índios o duelo como nós conhecemos da Europa. Isso mesmo, com toda a liturgia a que se tem direito. O príncipe descreveu-a, infelizmente, muito brevemente. Uma sugestão aos etnógrafos do futuro. De 1816 ao futuro. Ainda dá tempo?

 

 

E Nietzsche revela um segredo importante dos ambiciosos. Pessoas ambiciosas tem que disfarçar o desprezo que sentem quando se veem cercados de bajuladores. Tem que transformar o desprezo secreto que sentem em complacência pública. Aí não correm perigo.

 

 

Agora um voo de balão com Santos Dumont pelas notícias. Conferir se o mundo já foi salvo.

 

Ou não. A internet está tão ruim que não consigo navegar nem lentamente. Realmente é um problema. Não sei como dribla-lo.


Alô, há alguém aí? Ah, ser um astronauta perdido...

Aldrinianas – Tentando aprender e Amar. (wordpress.com) 

Meu novo site. Como é o plano gratuito ele não tem muitos recursos, mas pelo menos o tema é francês (expressionismo, Claude Debussy, reverie). Minha nova casa. 

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Elizabeth Lloyd Mayer e a Psicologia da Mulher 1 de 10

 

Elizabeth Lloyd Mayer e a Psicologia da Mulher 1 de 10

 

Olha a organização, os 31 textos reservas deste blog já acabaram e como eu faço pra esse trem aqui continuar diário? (risos) Aproveito e acabo de vez com os comentários sobre Teorias da Personalidade, pois quero seguir adiante. Vai ser uma maratona. Quantos textos consigo escrever antecipadamente? (risos)

 

Nas teorias de Freud, Reich, Adler e Jung seria uma tanto injusto destacar o machismo nelas, é mais educativo e sábio lembrar que o movimento feminista a partir das décadas de 1960 e 1970 cresceu e marcou tanto que a exigência de um reexame dessas teorias se tornou necessário. Ao mesmo tempo em que o clamor óbvio por novas teorias. Não romper ou negar, mas olhar de novo e também criar. Isso pode parecer óbvio, mas política é paixão e às vezes o trem cresce e a gente fica com vontade de mandar tudo para o inferno e recomeçar do zero. E isso não é inteligente.

 

 

Livremente inspirado em Uma Apreciação da Psicologia da Mulher nas Teorias da Personalidade: Freud, Reich, Adler e Jung; por Elizabeth Lloyd Mayer. Apêndice do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Quando eu era fotógrafo


Pequena integrante de um grupo folclórico. Apresentação no ExpoMinas, durante uma Feira de Artesanato. Belo Horizonte, 2011. Minha família teve uma barraca de artesanato lá em algumas edições.


Ao contrário do que eu disse na última foto, não é o meu hd externo que foi para o brejo e sim o meu notebook que aos poucos está indo para lá. Daí que não consigo acessar as informações do hd, que incluiria o nome dos grupos artísticos as quais eu registrei as apresentações em fotos. E também não é muito exato dizer que as apresentações tinham pouca audiência, fora das apresentações noturnas no fim de semana também havia muita gente na plateia quando os grupos folclóricos se apresentavam. E também alguns grupos musicais mais simples.
Mas fui exato na mensagem principal: foi o meu momento melhor como fotógrafo. Era bonito, era fácil porque havia beleza em qualquer lugar não importando quem estava no palco. Sempre havia beleza e brasilidade. Foi como um sonho.
Por quê não volto a fotografar? Me afastei muito antes do começo da pandemia de Covid-19.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Caçador de Dois Sorrisos

 



Agora vai aparecer muitas fotografias das apresentações de grupos folclóricos durantes as exposições no ExpoMinas quando minha família participava como expositora. A gente tinha uma barraca e até que vendemos alguma coisa. Era maravilhoso, quase um sonho para mim. O palco era baixo e próximo, quase não havia público e eu conseguia realizar fotografias à vontade. Era maravilhoso. Meu HD Externo foi para o brejo então vou dever o nome do grupo folclórico em questão. Belo Horizonte, 2011.

quarta-feira, 15 de março de 2023

Tópicos de Política Internacional

 

Tópicos de Política Internacional


Meus sentimentos a todas as famílias e amigos atingidos nesse um ano de Guerra Rússia-Ucrânia. Uma negociação aparece no horizonte de forma mais concreta. E o Brasil participa das negociações, inclusive. Parabéns aos nossos embaixadores.”.

Demorei bastante para publicar e o texto acima ficou desatualizado. Ou relativamente desatualizado.


É interessante pensar nos mecanismos da “guerra indireta”: espionagem de um país eliminando figuras chaves de outro país e com isso atrasando o desenvolvimento de tecnologias e/ou planos políticos, ataques cibernéticos, satélites espiões cada vez mais potentes, as sansões econômica relevando infelizmente o quão difícil é lidar com governos autoritários e o quão débil é os bons organismos internacionais em momentos decisivos, o povo pobre dos países envolvidos sofrendo sempre, o custo das palavras vazias dos políticos nessas horas para a fé do grande público a respeito da liderança política a médio e longo prazo… Pragmaticamente é melhor que uma guerra “convencional”, mesmo assim o sofrimento é grande e imagino a médio e longo prazo se a precária paz atual se sustenta. É sério: 1945 pode ser ontem ou há muito tempo dependendo do seu referencial; leitora ou leitor.



Por exemplo, a crise na União Europeia é sinistra. Com certeza você sabe que a União Europeia não é somente para turistas viajarem mais fácil ou melhorar o livre comércio; mas também para evitar que a Europa não brigue. É, a Europa não é exatamente um local tranquilo. Vou repetir: 1945 pode ser ontem ou há muito tempo dependendo do seu referencial.



Agora uma notinha sobre os balões meteorológicos misteriosos da China. O trem já passou e eu não li muito a respeito. Mas me chamou a atenção a influência dos Estados Unidos na imprensa brasileira; bem grande mesmo. Aceitaram muito a versão de Washington facilmente. E um aspecto que não sei se você que me lê vai concordar: e se for uma provocação da China: o serviço de espionagem chinês detectou um momento em que o território estadunidense estava desguarnecido por alguns dias e eles mandaram os balões meteorológicos para provocar um constrangimento? “Há há! Pegamos vocês com as calças na mão!” Eu ouvi falar que há muitos anos, justamente para provar o seu poder, alguns caças israelenses sobrevoaram o espaço aéreo de Damasco; foram e voltaram sem problema só para mostrar à Síria quem tem mais poder na região. Outro exemplo mais ou menos da mesma “família”: olhem uma manchete assim: “No litoral da Califórnia moradores afirmaram terem visto um OVNI. Ele media cerca de dois metros de comprimento, tinha uma fórmula triangular e movia-se em alta velocidade fazendo manobras que surpreenderam pilotos profissionais ouvidos pela reportagem.” Uai, como a China, Rússia, Coreia do Norte e Irã escutariam uma reportagem assim? “Olha só o meu último modelo de drone, seus mother foca!”.

Não queria terminar o texto melancolicamente, mas realmente não sei se a guerra indireta vai evitar uma grande guerra convencional por muito tempo. Ah, sim: na África e em várias regiões da Europa Oriental e na Ásia também o pessoal continua “clássico”. Tristemente “clássico”.



Demorei tanto para publicar o texto que preciso fazer referências breves a dois acontecimentos recentes.

Meus sentimentos às famílias e amigos das pessoas atingidas pelos ataques criminosos ocorridos no Rio Grande do Norte. Várias cidades atingidas e mais uma vez percebemos que não temos controles de nossas penitenciárias. Pois parece que as ordens foram dadas de lá. E é a terra do meu amado Luís da Câmara Cascudo!

Meus sentimentos à família e amigos do Canisso (José Henrique Campos Pereira), músico integrante do Raimundos. Nunca fui a um show deles, só ficava assistindo pela televisão a MTV Brasil; mas sou testemunha da importância dos Raimundos no renascimento do rock brasileiro de meados da década de 1990. Um momento muito rico da cultura brasileira.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Para o Mundo

 

Para o Mundo


Já escrevi aqui sobre a lista de autores e livros que por causa do Brasil e do Eduardo Bueno ([História do Brasil (1997, Folha da Manhã e Zero Hora/RBS Jornal. Segunda edição.)], eu quero preciso comprar. Mas isso é por causa do Brasil. Agora vamos para uma lista de sonhos por causa do mundo.



Paidea – A Formação do Homem Grego; de Werner Jaeger. Naturalmente que a beleza vai mais longe que a ciência e a religião, então seria melhor Homero, Ovídio e Eurípedes e outros da família; mas aqui é na não-ficção. No mais vai ter mesmo algumas obras literárias que eu só teria acesso mesmo indiretamente em livros de não-ficção.



Filosofias da ÍndiaHeinrich Zimmer (Obra póstuma, organizada por meio de seleção de textos por ninguém menos que o Joseph Campbell). A cultura indiana, acho que posso dizer, é quase tão divulgada quanto a cultura grega. Acho que posso dizer que vou mais do que simplesmente molhar os pés neste oceano infinito.



Poesia Chinesa Antiga. Tem várias antologias publicadas no Brasil. Não saberia indicar a melhor. Uma edição que seja profissional terá introdução com os dados filosóficos e sociológicos necessários. Se for comprar um livro in loco você folheia o livro e vê se a introdução parece razoável ou se o cara está apenas tentando parecer inteligente. É preciso ter um pouco de malícia para diferenciar. Uma coisa objetiva é se na introdução tiver uma parte sobre a tradução. Seria uma dica objetiva, mas temos o problema de ser um livro traduzido do oriente. Então é claro que teria um trecho sobre as dificuldades da tradução. Ah, sei lá. Você folheia a introdução rapidamente e se no texto a pessoa lamenta, se coloca de forma humilde eu acho que seria suficiente. Tradutor que não sabe o que é angústia, com certeza, não é confiável.



Alguma coisa sobre judeus, muçulmanos e árabes? Eu tenho e comecei a ler, mas depois parei, O Livro das Mil e Uma Noites. Holocausto – A Saga da Família Weiss (“Holocaust”, 1978, Joseph Bottoms, Tovah Feldshuh, Rosemary Harris, James Wood e etc.), que eu assisti quando criança pela Rede Manchete de Televisão. Sei que assisti a todos os episódios na companhia de meu pai e que por causa da série fiz um desenho dramático. O desenho se perdeu, assim como lembranças mais específicas. Eu também li o livro A Trégua, de Primo Levi. Foi há mais ou menos uma década e a lembrança é mais viva, temperada pelo contraste ambiente do livro ambiente de onde fiz a leitura: li o livro no verão, na praia. Gostei muito e pretendo ler mais o Primo Levi. A propósito: assistam assistam assistam assistam ao filme “Primo” (Primo, 2007, Anthony Sher, Richard Wilson e etc.)! Filme maravilhoso na mensagem e na técnica narrativa. Há ainda Humor Judaico – Do Éden ao Divã (seleção, organização e edição por Patricia Finzi, Moacyr Scliar e Eliahu Toker. Editora Shalom, Buenos Aires e São Paulo, 1990.) A edição mais recente deste último livro é de 2017.



Sobre a África eu já tenho em PDF a História Geral da África (Vários Autores, Unesco, 1981). Cadê o link do Domínio Público? Internet lenta e mudança de endereço. Agonia!

Ora, ora… Surpresa boa! Mas vamos começar pelo começo.

A coleção de 8 volumes pode ser downloadada aqui https://ipeafro.org.br/gratuito-historia-geral-da-africa-em-8-volumes-7357-paginas-em-pdf/ ou aqui https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000190257 . Mas vejam só, a história vai ser aumentada! História é vida e humanidade. Estamos em movimento, portanto. https://www.gov.br/mec/pt-br/etnico-racial/noticias-1/historia-geral-da-africa-2013-nono-volume Destaco um trecho da entrevista que Rosilene S. da Costa (Ministério da Educação) realizou com Ilma Fátima de Jesus, Coordenadora-Geral de Educação para as Relações Étnico-Raciais. É a última pergunta.

Foi a primeira vez que você esteve na África. Qual o sentimento de pisar em solo africano e de participar de alguma forma da elaboração deste tão importante livro?


O sentimento de pisar em solo africano pela primeira vez para quem tem consciência das raízes africanas presentes na vida é de uma emoção imensa, principalmente quando se tem uma trajetória no movimento negro que reivindicou a inserção da História da África e dos negros no Brasil no currículo escolar brasileiro. Eu esperava ansiosamente pelo momento em que teria condições de realizar uma viagem para o continente africano, porém não tinha noção de quando seria e, enfim, esse momento se concretizou para minha felicidade. Sou muito grata pela oportunidade que me foi dada e me sinto imensamente feliz por ter ido à Etiópia, país africano que pesquisei no final dos anos 90 quando cursava o Mestrado em Educação na UFMA. Eu pesquisei a comunidade remanescente de quilombo de São Cristóvão, no município de Viana, Maranhão, estado onde nasci, e que o líder quilombola, Senhor Diomar, informou que os "brancos" da sede do munícipio de Viana se reportavam aos quilombolas daquela comunidade como o povo da Abissínia, hoje Etiópia. Isso fez com que aprofundasse o meu conhecimento sobre aquele país. A emoção também foi grande ao visitar o palácio do imperador da Etiópia, Haile Selassie, conhecido como o que encerra o ciclo de impérios na Etiópia e que participa da criação da Organização da Unidade Africana e tem reconhecida influência sobre o movimento negro, em especial em lideranças do movimento negro como Martin Luther King e Nelson Mandela.

(A entrevista realizada pela Rosilene, feita em 2013, pode ser lida na íntegra aqui: https://www.gov.br/mec/pt-br/etnico-racial/noticias-1/historia-geral-da-africa-2013-nono-volume .).



O trem realmente fica complicado na parte da Oceania. E eu amei amei amei amei tanto tanto Moana – Um Mar de Aventuras (Moana, 2016, Ron Clements, John Musker, Don Hall, Chris Williams, Pamela Ribon, Aaron Kandell,Jordan Kandell e etc.)! Ou a situação não é assim tão complicada?

Coleção Infantil Descubra o Mundo Volume OceaniaMarta Ribon. Primeira edição, 2009. Primeira e única edição.

Brasil e Oceania – Gonsalves Dias. Héin? Pausa. É que o poeta era funcionário do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e ele tinha que atender um pedido do imperador Dom Pedro II. Daí a monografia, organizada postumamente pelo amigo do poeta Antônio Henriques Leal. Primeira e única edição, 2013. O livro tem 400 página, acho que deve ser encarado como algo mais do que curiosidade de um poeta talentoso que precisava pagar suas contas.

Raga: Uma viagem à oceania, o continente invisívelJ.G.M. de Le Clezio. O ganhador do Nobel de Literatura conta, de forma romanceada, a chegada dos europeus à Oceania. Primeira edição, 2011.

Historia Postal da OceaniaAdeilson Nogueira. Não há tento introdutório na Amazon a respeito do livro. Parece que o livro é parte de uma coleção que apresenta lugares do mundo através de cartões-postais. O que é uma ideia ótima sim. Não tenho certeza se existe edição impressa, ou se só há edição eletrônica do livro.

Notinha técnica: todos esses livros que selecionei sobre a Oceania estão em suas primeiras edições. Tem livro de 2009 e 2011! Ninguém se interessa pela Oceania aqui no Brasil? Tadinha da Oceania! Tudo bem que só olhei pelo site da Amazon, mas mesmo assim… É um detalhe técnico interessante.



E a América e a Europa? Pois é, acho que mesmo a América Central e os países europeus eu conheço bastante. Ah, vocês me entenderam. Agora comprem esses livros para mim! É, você, compre esses livros todos para mim!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Obrigado, Pelé e Edson

 

Obrigado, Pelé


Chamou a atenção o pequeno número de ex-jogadores de futebol e de dirigentes de clubes de futebol no funeral do principal nome do mais popular esporte do mundo. Mas o povo compareceu tornando a fila enorme e o cortejo do caixão pelas ruas de Santos realmente foi emocionante. E os órgão de imprensa também fizeram o seu papel direitinho.

Mas chamou a atenção que os vencedores de 1994 e 2002 tenham sido assim tão distantes, assim como os dirigentes dos clubes. Pelé não era tão querido assim? Era assim tão difícil viajar a Santos? Ah… Não julgar para não ser julgado, mas… Ah… Gratidão é virtude, gratidão é virtude. Mas a mágoa venceu.



Pelé é o Rei do Futebol. Um dos nomes mais populares do século XX, um homem que mudou o mundo sem precisar fazer guerras. Aliás, ele parava guerras quando ia jogar futebol. Os jornais lembraram um ou dois episódios a respeito. Os títulos, os recordes, o homem que ajudou a construir a imagem do Brasil no exterior. Quantos turistas e jornalistas em situação de risco foram salvas pelo “Ah, Brasil? Pelé? Ah, então tudo bem!”? Quando os meus pais quiseram me colocar numa escolinha de futebol na esperança de tornar-me normal, lembro da minha mãe me falando sobre Pelé para me inspirar. Não deu certo, mas lembro do argumento de minha mãe: ele venceu o preconceito e nem precisava tocar na bola pois o time adversário se deslocava todos para marcar mais ele. Diga-se de passagem que são argumentos sofisticados.



Fomos muito injustos com Pelé. Preconceito e inveja. Falou que devemos pensar nas criancinhas e reclamaram que ele estava fazendo política. Falou que era bobo votar em Cacareco, Pelé ou Zico como forma de protesto; e reclamaram que ele estava dizendo que nós brasileiros não sabemos votar. Isso foi, respectivamente, décadas de 1970 e 1980. Agora estamos na primeira metade da década de 1990 e exigimos que seu coração humano seja controlável. Ora…



Eu não diferencio o Pelé do Edson, pois sei a envergadura que todos nós humanos igualmente possuímos. A questão é saber aqui que temos mais a agradecer do que ficar magoado. Obrigado, Edson.

Correção. O gol mil, ocasião em que Pelé menciona a necessidade de que o Brasil cuidasse da infância, foi ainda na década de 1960. A data, histórica, é 19 de novembro de 1969.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O Caminho do Eduardo

 

O Caminho do Eduardo


No final de sua História do Brasil (1997, Folha da Manhã e Zero Hora/RBS Jornal. Segunda edição.), Eduardo Bueno dá muitas indicações valiosas de leitura. É um verdadeiro tesouro este final de livro, esta bibliografia crítica. Segue uma seleção minha. Ah, que lista de desejos…!


Comecemos pelo começo, pela visão geral: os nossos dois grandes historiadores: Capistrano de Abreu e Sérgio Buarque de Holanda. Interessante em Capistrano é que não podemos ficar nos seus três livros “prontos” (Descobrimento do Brasil, Caminhos Antigos e Povoação do Brasil e Capítulos de História Colonial), mas também temos que procurar volumes que reúnam parte de suas cartas. É, cartas. Não sei onde li, mas uma vez saí por aí pela internet à procura de Capistrano de Abreu e descobri que ele escrevia cartas demais e isso até prejudicou ele que era desorganizado e assim ficou sem conseguir escrever a sua História Geral do Brasil. Ele sofria de “febre de cartas”, coisa comum na belle époque. Acho que hoje, 2022, Capistrano de Abreu ficaria viciado em redes sociais de internet sempre querendo chamar a atenção pelos seus comentários. Já o Sérgio Buarque de Holanda o caminho é reto: Raízes do Brasil, Caminhos e Fronteiras, Monções e Visão do Paraíso.

Agora dois nomes interessantes: José Honório Rodrigues e Francisco Iglesias (não é meu parente). Estes dois merecem uma olhada também.


Agora o trem fica mais pessoal. Do enigma brasileiro, os três temas para mim mais especiais: índios, negros e a república.

História dos Índios do Brasil – Organizado pela Manuela C. Da Cunha.

O Escravagismo Colonial – Jacob Gorender.

A Escravidão no BrasilPerdigão Malheiro.

Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin e a BahiaPierre Verger.

A Abolição do Tráfico de Escravos no BrasilLeslie Bethell.

Os Últimos Anos da Escravatura no BrasilRobert Conrad.

Abolição da EscravidãoSuely R. Reis de Queiroz.

O Tigre da AboliçãoOsvaldo Orico.

O Precursor do Abolicionismo no BrasilSud Menucci.

A Escravidão ReabilitadaJacob Gorender.

Os Republicanos Paulistas e a AboliçãoJosé Maria dos Santos.

Dialética da ColonizaçãoAlfredo Bosi.

Os Militares e a RepúblicaCelso Castro.

Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que Não FoiJosé Murilo de Carvalho.

O Exército na PolíticaJohn Schultz.

Relações entre Civis e Militares no Brasil (1889-1898)June Hahner.

Baile da Ilha FiscalJosué Montello.


Eu sonho e vocês compram esses livros todos para mim!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

O Incêndio do Reichstag, R. John Pritchard

 

Não se pode dizer que H* fez qualquer tentativa para disfarçar suas intenções ditatoriais básicas. Ele não preparou conspiração e não marcou datas. Era simplesmente um grande improvisador. O eleitorado na Alemanha iludiu-se ao pensar que o latido de H* fosse pior que sua dentada, depois que assumisse o poder; isso sempre acontecera com os líderes que o precederam, de modo que parecia razoável esperar o mesmo do futuro. A iminência da catástrofe, mesmo quando divulgada, raramente é reconhecida. O mesmo aconteceu à Alemanha nos anos 30.”



Primeiro de fevereiro de 1933. O Reichstag é formalmente dissolvido. O General Ludendorff, ex-aliado de H* em 1923, telegrafa a seu colega de tempo de guerra, Hindenburg: “Nomeando H* Chanceler, você entregou a sagrada Pátria Alemã a um dos maiores demagogos de todos os tempos. Vaticino-lhe que esse homem maligno mergulhará nosso Reich no abismo e causará desgraça imensurável à nação. As futuras gerações o amaldiçoarão, em sua sepultura, por esta atitude”. “

(…)

7 de fevereiro de 1933. Braun apela ao Supremo Tribunal de Leipzig, num esforço por anular o edito de Hindenburg, alegando que ele é inconstitucional. Sem resultado.”

(…)

22 de fevereiro de 1933. Hindenburg está desesperado com o que fez, mas não vê como modificar a situação. Caracteristicamente, põe a culpa em Papen.”



O Gleichshaltung naz* também atingiu os campos literário e cultural. Por volta de junho de 1933 The Round Table (Londres) concluiu que, a despeito da autoridade concedida ao Governo H* pelo Reichstag, não havia sinal de um declínio no terrorismo dos naz*. Sua busca implacável para destruir obras antinazistas e outra oposição levavam ao saque de residências particulares, bibliotecas, livreiros e igrejas em busca de material suspeito. Milhares de livros foram confiscados e acabaram em enormes fogueiras. Músicos, cantores, atores foram demitidos dos seus postos em organizações culturais. Intelectuais e homens de ciência alemães eram hostilizados, ou então preferiam abandonar a pátria para fugir às perseguições. Muitos alemães buscaram refúgio em outros países. Listas de ódio eram preparadas contra comunistas, judeus ou pessoas antinazistas e suas obras. A reforma da nação alemã estava-se tornando gradualmente num repúdio à tradição cultural. O Berlinger Lokal-Anzeiger disse a 7 de maio: “Não somos nem queremos ser a pátria de Goethe e Einstein. De maneira alguma”. “


O INCÊNDIO DO REICHSTAG – R. John Pritchard.

(História Ilustrada da 2a. Guerra Mundial; seção Política em Ação volume seis. Editora Renes, 1972 [original] e 1976 [edição brasileira]. Dado que o assunto é grave, vai aí as páginas para intelectuais curiosos (e preguiçosos): páginas 33, 46-48 e 85.). Esses livrinhos da Renes sobre guerras e líderes militares são razoavelmente fáceis de serem encontradas em sebos. Eu gostei muito do Irlanda Sangrenta (A. J. Barker), A Conquista da Etiópia (A. J. Barker) e A Guerra dos Seis Dias (A. J. Barker).

Pausa.

Fui na biblioteca para conferir os nomes dos autores e descubro que é o mesmo. (risos) Você tem um historiador militar britânico favorito? (risos) Eu tenho! A. J. Barker. Ou melhor: A. J. Barker. É que também faz tempo que eu li os livros e também sou meio distraído. De qualquer forma uma nota: se alguém falar para você que o apoio naz* a Franco na Espanha durante a Guerra Civil Espanhola foi o grande evento precursor da Segunda Guerra, não acredite; foi a invasão de Mussolini à Etiópia. O comportamento da Liga das Nações e dos outros países foi constrangedor. 

Mas onde eu estava? Ah, no meu tempo (tempo de faculdade) os livros em sebos custavam em média 10 Reais. Hoje aumentou muito o preço. Mas ainda vale a pena, pois o material da Renes é muito bom.

Notas.

Achei prudente censurar o nome do demagogo genocida e a sua ideologia, não tenho assessoria jurídica e o pessoal julga muito fácil os outros nesses tempos. Eu é que não arrisco. Este meu blog não é importante, mas eu escrevo como se ele fosse. No mais eu já escrevi aqui que sou hipocondríaco jurídico.

O julgamento em si não foi mencionado nos trechos que escolhi divulgar do livro de R. John Pritchard, mas a história toda daria um filme bem didático: Alemanha pré-naz*, Alemanha naz*, diálogos inteligentes pois grande parte do filme se passaria no tribunal (Dimitrov preso acusado todo desvantagem e mesmo assim derrotando Göring e Goebbels nos debates no tribunal) e todo mundo gosta de oratória, sem mencionar a tragédia humana em Van der Lubbe e as cenas do prédio em chamas. Alguém sabe o telefone do Steven Spielberg e do Terry Gilliam?

E eu estou indo comprar os dois primeiros volumes já lançados no Brasil da trilogia italiana sobre o Mussolini escritas pelo Antonio Scurati. E você também! Já fez? Bom bom leitora e leitor! A história é uma professora importante, ensinou e ensina Cícero.

sábado, 16 de julho de 2022

Mais deste ar

 O Canal Futura vai transmitir de novo o filme africano "Ar Condicionado". Estão repetindo tanto quanto o filme argentino "Medianeras". E tudo bem, pois são filmes maravilhosos! Fica aí o aviso: hoje, as 22 horas, o filme angolano "Ar Condicionado".

Sonhos, sonhos, sonhos, uma brisa leve e efêmera, uma vida tão pesada... É difícil ser um humano...

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Contos Tradicionais do Brasil, Cascudo

 

Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima. Mais tarde as vozes começaram na falaria:

De onde vem você?

Do reino de Acelóis!

Como vai o príncipe?

Vai mal, coitado, não tem remédio!

Ora não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma moça donzela que queira morrer por ele!

Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo quando ela avistou o reinado de Acelóis.”

(O Papagaio Real)


O rei perguntava:

Como vai, Quirino?

Com a graça de Deus e o favor do meu amo!

A obrigação?

Em paz e a salvamento.

As vacas?

Umas gordas e outras magras.

O boi barroso?

Vai forte, valente e mimoso!

O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia.

Vamos apostar, Majestade?

Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com os chifres dourados?

Está apostado!

O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego.

Rosa se vestiu como mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso.”

(Quirino, Vaqueiro do Rei)


O conto transcrito é, evidentemente, um espécimens as sobrevivência africana na literatura oral brasileira com o motivo puro e legítimo da aranha, talqualmente vivia há séculos no continente negro onde nasceu e emigrou. Uma aranha agindo na Bahia sem influência cristã moralizadora.”

(Nota sobre o conto “A Aranha-Caranguejeira e o Quibungo)


CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL – Luís da Câmara Cascudo.

Lendas Brasileiras, Cascudo

 

Ao amanhecer, o chefe foi a cavalo, acompanhado por um pajem, à pedra indicada por Jaíra, mas só achou ali a roupa da infeliz criatura, com uma coroa de flores de maracujá do mato, em cima. O tenente soltou um grito de desespero, e ficou tão alucinado, que se lançou à corrente e não veio mais a terra.

A senhora branca soube do ocorrido, dirigiu-se a cavalo ao rio, onde só viu a roupa de Jaíra e o lugar em que sucumbira o esposo, e em prantos, a vociferar, amaldiçoou o rio em que cuspiu três vezes. Então as águas cavaram o solo e se esconderam no fundo da terra, os peixes ficaram cegos, a mata fanou-se e morreu!…

Contam que quem descia, de noite, à gruta de Itararé veria Jaíra, vestida de branco, com agrinalda de flores de maracujá, tendo ao colo o corpo do moço que morrera por ela. Às vezes, a sua sombra vinha à beira da estrada, matava os viajantes, tirava-lhes o sangue e com ele ia ver se reanimava o seu morto querido.”

(A Lenda de Ítararé)


Desta vez o amor fizeram mais um milagre. A madrugada surpreendeu, fora da sua furna, a salvadora do bandeirante. Despertando em sobressalto, levou as mãos aos olhos e com gestos desesperados tentou arrastar o moço para a caverna. Só então pôde vê-la e por ela conhecer os da sua tribo. Era pequenina e branca; cabelos longos, de um louro embaçado, caíam-lhe abundantes sobre as costas. Quanto mais clareava o dia, maior parecia a angústia da princesinha dos “tatus brancos” que tapava com as mãos os olhos gázeos, bracejava e gemia, incapaz de caminhar, às tontas, como inteiramente cega. O bandeirante olhou uma última vez para a triste selvagem, e fugiu da terra maldita.

- Eis aí, se não me traiu a memória, a lenda, lida em criança, da existência de uma tribo de canibais trogloditas, ou habitantes das cavernas, notívagos como as corujas.”

(Os tatus brancos)


LENDAS BRASILEIRAS – Luís da Câmara Cascudo.

Rede de Dormir, Cascudo

 

"Uma denúncia é a pergunta aos amigos hóspedes: "Dorme em cama ou em rede?"

Há, forçosamente, de ambas na residência ou no hotel do interior. Há poucos anos dizia-se, torcendo o lábio num esgar de desprezo: "É um homem cheio de luxos, de "bondades"; só dorme em cama!..."


"Uma condição essencial para antropologistas e etnógrafos é ser um bom poeta. Mesmo que não faça versos. Sem a poesia os seus trabalhos perdem, no plano da comunicação fiel e positiva, a graça verídica, a possibilidade justa, a idéia da vida, valendo, pela glacial explanação verídica, relatório de autópsia. Jamais darão, fora dos iniciados sonolentos que, em última análise renunciaram ao direito natural da vibração e do entusiasmo, nada mais do que um frio parecer de comissão de tomadas de contas em balanço de banco de crédito hipotecário. Não me diagam que a Ciência é nua e despida de ornatos e galanterias porque a Deusa Minerva, que devia entender dela, despojando-se das vestes alguma vez o fez para disputar um concurso de beleza."


"Ainda nos dias presentes há uma maioria alta de redes no quarto de dormir ao lado da cama bonitona. Serve para "o primeiro sono". Para "refrescar". Para "descansar". Depois vão fazer companhia à mulher. E muitos voltam para a rede, para "acabar o sono"."


REDE DE DORMIR - UMA PESQUISA ETNOGRÁFICA - Luís da Câmara Cascudo.

Antologia do Folclore Brasileiro, Cascudo

 

"Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão de saber que eles são súditos tributários das Amazonas, e conhecida a nossa vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós a vimos, que andavam combatendo diante de todos os índios como capitães e lutavam tão corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, ao que fugia diante de nós, matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.

Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entraçado e enrolado, na cabeça. São muito menbrudas e andam nuas em pêlo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma dessas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porcos-espinhos."

(Frei Gaspar de Carvajal)


"Deve ser ainda mencionada aqui uma farsa, denominada SERRAÇÃO DA VELHA, indicadora de que já passou metade da quaresma. Essa brincadeira é organizada pelos soldados. Para a zombaria é escolhida, entre as moradoras da cidade, uma mulher já idosa, mas ainda coquete. Quando pois, é chegado o tempo, já essas mulheres estão preocupadas e temerosas de serem colhidas pela sorte. Faz-se uma figura recheada de palha, tão parecida quanto possível com a mulher em apreço, com trajes iguais aos que ela costuma usar, de modo a ser reconhecida imediatamente. Numa das mãos põe-se-lhe um rosário e na outra uma serra para indicar que o jejum quaresmal é cortado ao meio. Então a figura é posta numa padiola e, acompanhada pelos soldados com sabres desembainhados e archotes, é conduzida por quatro negros através da cidade, por entre a jubilosa gritaria dos negros e das crianças. Um grotesco mascarado abre o cortejo e, durante as paradas, lê o testamento da velha, composto com grande exagero, em que são vituperadas as suas vaidades da maneira mais inconveniente. Toda a tropilha aplaude furiosamente. Finalmente, chegando cortejo à residência da própria mulher, a figura é serrada em duas e queimada, o que sempre termina em pancadaria, porque os parentes da vítima se sentem igualmente ofendidos e procuram enxotar os indelicados visitantes."

(Johann Emmanuel Pohl)


"Começou a seguir um caminho muito longo. Lá adiante encontrou Acarajé e pediu-lhe que o ajudasse a preparar-se que lhe ensinaria o caminho. Ela o fez de boa vontade e ele indicou-lhe a estrada. Andou, andou e lá adiante encontrou umas pedras grandes com forma de gente que lhe pediram que ela os colocasse melhor. A menina com muito esforço conseguiu fazer e as pedras lhe ensinaram o seu caminho. Adiante encontrou Adjinacu (Cágado?) que também lhe pediu prestasse o serviço de auxiliá-lo no trabalho que estava fazendoe a menina prestou-se de boa vontade. Também Adjinacu mostrou-lhe o caminho. Muito adiante encontrou uma onça parida, a quem pediu que ensinasse o caminho e a onça lhe perguntou se não tinha medo de ser comida, repondeu que a comesse logo para acabar com a sua lida. A onça ensinou-lhe o caminho. Adiante encontrou um menino que batia feijão. Pediu que lhe ensinasse o caminho, e o menino disse que o fazia se ela o ajudasse."

(Raimundo Nina Rodrigues)


"A PIRANHA

Compõe-se de homens, mulheres e até crianças que formam uma grande roda, saindo ao meio dela um dos dançantes que executa passos variados ao tempo, em que os da roda girando à direita e à esquerda, cantam:

Chora, chora, piranha.

Torna a chorar, piranha:

Põe a mão na cabeça, piranha.

Piranha!

Põe a mão na cintura...

Piranha

Dá um sapateadinho.

Mais um requebradozinho...

Piranha

Diz adeus ao povo,

Piranha

Pega na mão de todos,

Piranha

A tal piranha faz o que se lhe manda, chorando, pondo a mão na cabeça, etc. Por fim conseguindo agarrar a mão de um qualquer dos da roda, puxa-o para o meio do círculo, tomando-lhe o lugar. Assim se continua."

(Antônio Americano do Brasil)


ANTOLOGIA DO FOLCLORE BRASILEIRO – Luís da Câmara Cascudo.