Primeiro de Novembro de 2023
Agora não lembro se foi
alguma professora de Literatura & Gramática, se foi o professor de Religião
ou se foi aquela mulher numa visita da minha sala ao local onde a biblioteca do
colégio ficava de improviso... Lembro-me, isso sim, o mais importante: a lição:
livro bom é livro que se desmancha de tanto manuseio. Sinal de que ele é lido o
tempo todo, sinal de que sua mensagem é importante, sinal de que é um livro
amigo/cúmplice. A minha edição de Dicionário
do Folclore Brasileiro, de Luís da
Câmara Cascudo, está com a capa-lombada quase totalmente descolada, solta.
Apenas a contracapa é que prende o trem. Coisa bonita, isso. É tão ou mais
significativo que qualquer elogio que posso fazer ao professor dos professores,
o mestre dos mestres, a mistura de Aristóteles
e poesia, a mistura do Luar que perfuma o rio Potengi com o Sol que vivifica o
Rio Grande do Norte.
Minha internet está lenta
demais. O que me força a usar a internet de maneira inteligente? Algumas vezes.
É coincidência ou é o universo
espirrando uma poesia para mim? Eu já escrevi aqui várias vezes que
frequentemente deixo de ler/estudar/embriagar-me/transbordar-me de Friedrich Nietzsche por muito tempo. Às
vezes por meses e meses. Aí quando volto para os braços do meu bigodudo
alemão... Êxtase das deusas e deuses!
Há quanto tempo estou lendo Aurora? Eis que recomeço hoje e o
aforismo é sobre... fanatismo e heróis! Vai me ajudar a interpretar o atual
Conflito Israel-Palestina e o bolsonarismo? Acho que sim.
O fanático é terrível e
invencível quando nega, pois foi dali que ele nasceu e dali ele conhece tudo.
Mas o fanático erra quando afirma, constrói, pois aí ele elege heróis e ideais
abstratos demais irreais demais. Mas ele sabe que esses ideais e heróis são
falsos, então o fanático voluntariamente se martiriza e em vez de suprema
humildade isso é suprema vaidade. Talvez essa observação nietzschiana não seja suuuuper original, mas a observação da
responsabilidade tanto de Napoleão quanto de Thomas Carlyle para algumas das paixões políticas europeias nos
séculos XVIII e XIX sim.
Aliás, eu tenho um livro do Carlyle sobre a Revolução Francesa.
Hum, hum. Mais espirro poético do universo a me dizer algo? Vou lembrar-me,
quando chegar a hora, que Thomas Carlyle
era inteligente e talentoso; mas também um vovô trapalhão e resmungão!
Mas como é o Luís? Luís da Câmara Cascudo? Um pedacinho de uma nota introdutória para
o já citado Dicionário do Folclore
Brasileiro pode ajudar-nos:
“A estatística das omissões é sempre fácil e
natural aos incapazes do exemplo. Prefiro expor a minha emoção agradecendo as
vozes generosas de aplausos, em correspondência privada ou jornais, denunciando
a permanência miraculosa da flor da simpatia nos espíritos sempre unidos em
ressonância compreensiva às iniciativas culturais, desinteressadas
financeiramente, mas constantes e leais em serviço do entendimento brasileiro.
Natal, agosto de 1979.”
Difícil não é? O estilo/voz
do Luís lembra aquele tio-avô
distante que quase você não vê durante o ano e que fala como um padre de um
jeito inteligente e profundo mas também alienígena. Você tem que sentar-se à
mesa e prestar a atenção. Aí você entende. As vezes é muito chato, mas vale a
pena.
Quando eu crescer eu
gostaria de ser uma mistura de Luís da
Câmara Cascudo e Rubem Alves.
Duas das mentes mais iluminadas que o Brasil já produziu. Será que eles já se
encontraram pessoalmente? Ambos trabalharam com educação, então provavelmente
sim. Acho que um encontro desses mudaria o espaço-tempo e as conexões quânticas
dos fundamentos da existência.
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