ÁGUA
PARA TSAI E SHIMON
HISTÓRIA
DAS CAVERNAS AO TERCEIRO MILÊNIO – Myriam Becho Mota e
Patrícia Ramos Braick,
1998.
(1a.
Edição, 1998, Editora Moderna Ltda, São Paulo, SP.)
A
sorte do Carlos Fernandes e do Frank Lynch estava
dentro de uma caverna a 1500 metros de altitude, na ilha de Mindanao
(Filipinas). Era 1971 e eles encontraram um grupo humano que vivia
como nossos mais antigos antepassados. Os tsai.
Grupo
pequeno, recolhem alimentos, tem poucos instrumentos, alguns casais
(hétero afetivos) e nem sinal aparente de práticas religiosas.
Simples simples mesmo, pois para o trabalho de recolher alimentos uma
manhã basta; tendo o resto do dia para descansar e conversar. Nem
formas de liderança foram encontradas, sendo as decisões na base da
conversa e consenso simples: como um grupo de moleques decidindo se
foi pênalti ou não em uma partida de futebol na rua. Bem simples.
Bom,
isso é maravilhoso. Longa vida aos tsai! Que a gente os ajude
da forma que for melhor para eles! Se eu algum dia vou visitar as
Filipinas? Nem penso nisso. Agora é interessante observar que se
eles desconhecem agricultura e caça, ficam muito muito
vulneráveis aos “humores” da floresta. Assim; e se chover demais
ou de menos? Se uma planta ou animal estranho ao local aparecer e
mudar a ecologia do trem lá? Imagino que isso já tenha acontecido e
a solução dos tsai tenha sido mudar de lugar. Um paraíso,
mas um paraíso meio delicado... Outra coisa é que o grupo é
pequeno e isso é fundamental na estrutura social deles. Um paraíso,
mas um paraíso meio delicado... Mas é maravilhoso! E numa caverna a
1500 metros de altitude!
No
Brasil temos os índios txucarramãe, mas por mais que na
legenda da foto fale em atitudes paleolíticas; não é possível
ignorar que a mulher na fotografia usa um vestido beeeem
não-indígena. A fotografia foi realizada pelo Arthur F. Costa.
Procurar
informações sobre a Fundação Paramin.
Procurar
o livro “900 Textos e Documentos de História”, de Gustavo
Freitas (Editora Plátano, Lisboa, 1977.) Senhoras e senhores,
olhem o nome deste livro! Minha formação humanista está com água
na boca. Eu preciso deste livro Eu preciso deste livro!
O
chamado “elo perdido” seria um espécime que dividiria
características primatas e humanas. Achar o danado ainda é difícil,
mas, pelo menos, sabemos que ele teria vivido aproximadamente há 800
mil anos. Parece uma pista fraquinha, mas para as cientistas e
cientistas é muito.
Preconceito
é ruim, então cuidado ao falar das primeiras sociedades humanas.
“Ah, mas eles não tem escrita, não tem Estado, sem tecnologia,
sem isso e sem aquilo e blábláblá...” E você é um sem noção!
Não é nivelar ou achar que o passado é melhor; é ter respeito e
humildade na hora de entender e se colocar no lugar deles!
Silex,
obsidiana (vidro de vulcões), basalto, quartzo e quartzito.
Materiais que ajudaram a nós humanos a “fazermos” este mundo.
Disso
aí eu só conheço, - e conheço mal –, o quartzo. O meu amado
Câmara Cascudo em uma
citação recolhida pelo Diógenes da Cunha Lima fala
bem poeticamente do basalto como um material muito resistente. Vou
procurar imagens pela internet, pois se eu tropeçar em um basalto
nem vou saber como é a aparência do trem. Ah, sim, a citação que
falei é essa:
“-
Exijo que você escreva o prefácio desta segunda edição. Livro é
como basalto: fica para a posteridade. Eu quero que no mesmo livro
estejam reunidos Dante
Alighiere, Câmara
Cascudo e Franco
Jasiello.
Só
consegui pegar na mão do mestre e beijá-la. Ao meu gesto, a
resposta:
– Deus
te abençoe, meu filho. Vá baixar em outro terreiro.”
(Câmara
Cascudo Um brasileiro
Feliz,
de Diógenes da
Cunha Lima.
Quarta edição. Escrituras Editora, 2016, São Paulo. Página 187.)
O
homem de Neanderthal foi um caçador sofisticado sim.
Revolução
neolítica ou revolução agrícola. E dentro desta a “grande
pedra”, uma cultura que valorizava grandes esculturas (cultura
megalítica). Aqueles monumentos que nos encantam até hoje e nos
fazem pensar como nossos antepassados conseguiram realizá-las.
Alguns, de tão encantados, pensam até em alienígenas e deuses (e
deuses que eram astronautas). Estes monumentos podem ser encontrados
na Europa ocidental, no Mediterrâneo e ao norte da África. É, isso
mesmo leitoras e leitores, entre os exemplos megalíticos temos as
famosas pedras de Stonehenge. O escritor Eduardo Bueno,
comentando a crise de luz elétrica que atingiu o Estado do Amapá
(2021) em um vídeo do YouTube; menciona que no Amapá também tem um
monumento de rochas grandes semelhantes ao Stonehenge. Perto da Linha
do Equador, a escultura megalítica do Amapá provavelmente era uma
espécie de relógio solar.
Outro
livro que me atraiu: “Imperialismo ecológico”,
de Alfred
W. Crosby.
No
Velho Mundo havia maiores agrupamentos humanos e havia isso há mais
tempo do que no Novo Mundo, de modo que no
Velho Mundo a transição do
estilo de vida mais nômade e caçadora para um estilo de vida mais
sedentária e agrícola aconteceu mais rápido. Bom bom para lembrar
a diferença que faz o ambiente: em tal cidade tem muita gente? Em
tal cidade tem menos gente? Imagino o que acontece quando numa cidade
pequena aparece uma mineradora. Trabalhadores do país inteiro
aparecendo
ali em menos de seis meses! Imagine a transformação! Isso
também sugere uma “lei” da histórica: a tendência é o grupo
humano crescer muito aí ou fica sedentário ou fica nômade, mas os
nômades não tem sucesso ou ficam sempre em menor número… Mas
esse trem de falar em “lei” da história não me parece
agradável: preciso comprar e ler “A Miséria do
Historicismo” do Karl
Popper!
E
na Austrália o Paul Tacon descobre que nós fazemos guerra
uns contra os outros há, pelo menos, o dobro do tempo que
imaginávamos.
Antes
da chamada “idade dos metais”, aproximadamente 3 mil anos antes
de Cristo.
Agora
já temos caça, agricultura, animais domesticados, guerras
organizadas com vencidos
tornando-se escravos, metal
dominado, práticas
religiosas, centros
populacionais que podem se chamar “cidades” sem falsa humildade…
Pronto, estamos prontos para
as primeiras grandes civilizações!
Antes,
uma notinha sobre a ocupação humana na
América.
Belo exemplo de como a
ciência é atraente: a cada pergunta, ergue-se diante de nós mil
horizontes de hipóteses; a cada resposta, mil novas perguntas e o
ciclo recomeça.
Sabemos
pouquíssimo a respeito da ocupação humana no continente americano.
Foi
atravessando a Sibéria e o Alasca? Mas e os sítios arqueológicos
mais ao sul da
América
e que são mais antigos que os 11500 anos da
referida travessia? A Marta
Mirazón Lahr lembrou do
sítio de Monte Verde, no Chile. Eu lembro de Niéde
Guidon e da sua grande
obra, o Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí). Para complicar
mais; a pesquisa genética parece indicar que os primeiros americanos
não são próximos dos antigos chineses, japoneses e coreanos (o
nordeste asiático, de onde partiram quem atravessou o estreito de
Bering mais ou menos no
período citado de 11500 anos atrás).
E antes de terminar, para o Peter
Lund aqueeeele
abraço!
Não
foi o fato que por pouco um estacionamento para ônibus cheio de
turistas iria ser construído bem em cima destruindo-o,
e sim o surpreendente é
o fato de que a descoberta aconteceu justamente
num sítio arqueológico que
todo mundo pensava que já estava esgotado. “Ônibus
cheio de turistas”, um sítio arqueológico saturado de tão
investigado… Estamos falando de décadas e décadas estudando
o Antigo Egito e o seu
encantamento irresistível. Temos até um nome para isso:
egiptologia!
Bom
bom, no caso eu me referia à descoberta de uma tumba mais complexa
do que as tumbas normalmente encontradas. O crédito vai para Kent
Weeks e sua equipe da
Universidade Americana do Cairo. A
propósito, imagine a quantidade de artigos e ensaios publicados
sobre o Antigo Egito em jornais
e revistas científicas no
mundo todo todo mês!
Como uma pessoa leiga poderia acompanhar as últimas descobertas
sobre egiptologia?
O
rio Nilo + o rio Tigre + o
rio Eufrates = Ocidente.
O
local, o nome de uma verdadeira lenda: o “crescente fértil”!
Temos
as primeiras grandes civilizações: Egito antigo e a Mesopotâmia.
Somos
ocidentais filhos do oriente
que estava terminando o neolítico.
O
rio Nilo nos deu um presente
e este presente é o Antigo Egito.
Havia
dois antigos “egitos”: o reino do norte e o reino do sul.
Mais tarde os dois se unem sob a liderança daqueles que eram
chamados de “faraós”. Daí, cerca de três mil anos antes de
Cristo até trinta antes de Cristo quando os romanos a
conquistam, temos a “aventura egípcia” propriamente dita.
Agricultura, irrigação, pirâmides, conhecimentos astronômicos e
meteorológicos uma vez que o comportamento do rio era importante
para a alimentação, conhecimento de anatomia e cirurgias
sofisticadas no crânio e no estômago como consequências das
práticas de mumificação… É, a egiptologia é mesmo
irresistível. Vamos parar por aqui, pois senão eu não termino.
Mas
vale uma notinha filosófica: viver é bom, mas para o Antigo Egito a
morte não era um fim triste. Outra
notinha, desta vez política: durante grande parte de sua história,
a parte mais feliz, eles eram pacifistas e isolados. No final do
período os antigos egípcios são invadidos e começam a guerrear e
a invadir outros povos. Crescem de território, mas a decadência já
tinha começado. E uma nota assustadora: a decadência do
Antigo Egitodurou séculos.
Séculos! Você imagina que uma coisa dessas seja rápida. O medo
aqui é quando olhamos para o nosso “umbigo temporal” de 2021: e
se nós estivemos em plena decadência de
nosso mundo? Qual
a profunda e radical mudança que
ainda estaria invisível diante de nós prestes a torna-se visível?
Isso é meio assuntador e excitante!
Castas
sociais, religiosidade onipresente, centralização do poder do
faraó, tributos e funcionários de um aparato burocrático que
fiscalizava coisas como exploração de terras e a distribuição do
excedente agrícola.
Havia
muito respeito entre as pessoas, como nas tribos pequenas africanas
mais antigas e pequenas que
viviam mais ao sul da África;
mas o senso igualitário realmente
não era mais o
mesmo. Por exemplo: é
registrado que as mulheres até poderiam trabalhar e
ganhar por isso e
recorrer aos tribunais em
caso de serem vítimas; mas
nos estudos o caminho não era assim tão livre a
elas no Antigo Egito.
A
palavra escrita.
Aparentemente
os primeiros livros foram feitos no Antigo Egito. O mais famoso é
chamado de “O Livro dos Mortos”; uma compilação de
regras para as almas terem um caminho feliz depois da morte.
Nem
todo mundo tinha uma pirâmide imensa a servir de túmulo, mas todo
mundo tinha o direito ao embalsamento. Havia formas mais baratas de
embalsamentos.
Um
antigo ditado judaico diz que todos os milagres concedidos por Deus
ao povo de Israel estavam relacionados com a água.
A
história não parou durante a aventura egípcia. Na mesma época de
seu nascimento, lá em cima, na parte mais asiática da “Lua” da
região do Crescente Fértil nasceram outros povos. Foi entre rios,
foi a Mesopotâmia. Eram os sumérios, acádios, assírios e
babilônios.
Pausa.
Como
eram os acádios?
Fim
da pausa.
O
Antigo Egito, lembremos, na sua fase mais feliz era pacifista e
isolado. Méritos deles; mas também havia ali um deserto do Saara
para protegê-los, né? Bom, na Mesopotâmia havia nada disso. Ao
contrário, o local parecia mais uma avenida livre para povos
invadirem. A história ali foi tumultuada.
Bom
bom, mas os sumérios tiveram tempo e talento para conquistas
fundamentais para o gênero humano nos campos da escrita,
arquitetura, comércio.
Quem
fundou a famosa Babilônia foi um povo invasor que veio do meio do
deserto da Arábia, o povo amorita. “Amorita”, “amorita”, já
li esse nome em algum lugar… É o momento de nomes familiares:
Hamurábi e seu código de leis, a Lei de Talião,
Nabucodonosor… Pausa para escutar Verdi!
Império
Assírio foi outro nascimento importante. A violência deste povo os
diferenciava dos outros povos que ficavam mais ao sul do Crescente
Fértil. O Império Assírio também se destaca pelo seu
expansionismo; em seu auge a área dominada foi imensa.
Mas
nada dura para sempre e um povo semita, os Caldeus, derrotam os
assírios. Foi quando apareceu o já citado Nabucodonosor.
Os
famosos jardins suspensos ficam no atual Iraque. As
construções babilônicas eram bastante coloridas, mas infelizmente
isso se perdeu com o tempo.
É triste também
que o atual Oriente Médio seja um local tão violento, pois isso
dificulta a visita de turistas. Seria bom que ruínas tão gloriosas
fossem vistas por mais gente.
Sobre
o dia a dia, vale destacar que a matemática teve grande
desenvolvimento pelos povos da Mesopotâmia. Outro destaque é que as
fronteiras entre religião, magia e ciência eram tênues; de modo
que um templo religioso também era hospital, biblioteca e também
onde astrônomos trabalhavam e seleiro para guardar comida! Uau! A
sociedade era dividida em castas.
Agora
é outro reino e neste reino tivemos a cidade de um dos poemas mais
famosos do Manuel Bandeira (Pasárgada)
e do livro da Marjane Satrapi
e do filme de
Vincent Paronnaud e
Marjane Satrapi
(Persépolis).
O
Reino da Pérsia surge da união dos dois grandes povos que viviam no
Planalto do Irã, os medos ao norte e os persas mais ao sul.
Pausa.
Os
povos medos!
Cara,
estudar história é muito muuuuito doido!
Fim
da pausa.
“Ciropédia”
ou “Educação do Ciro”, um livro que eu
tenho e que ainda não li. Depois do Ciro, veio o Cambises
e depois deste o Dario I e aí é que o trem fica sério
mesmo. Cambises morreu sem deixar herdeiros, de modo que Dario
I foi escolha da cúpula política. Escolha inteligente. Nem todo
império sobrevive a um momento delicado como uma sucessão. Sorte
dos persas pela escolha. Mas vamos continuar.
Continuar
pela “estrada real” do Dario I! Quase três mil
quilômetros de uma estrada vigiada por patrulhas, algo tão
importante quanto o surgimento da primeira moeda aceita
internacionalmente. Dario I teve um descendente e aqui temos
outro nome famoso: Xerxes.
Mais expansão e controle de um imenso império, mas as guerras
contra as cidades-estados do mundo grego marcam o início do fim do
Império Persa. Mas é preciso destacar que só acaba nas mãos de
ninguém menos que o invencível Alexandre da Macedônia.
Culturalmente
falando o Império Persa encantou
o mundo por ser bastante eclético devido à influência de diversos
povos que eles conquistaram. Mas principalmente a área religiosa a
mais popular para nós.
No
início era o antigo
totemismo: adoravam animais,
o sol, o vento… E sacrifícios lhe eram oferecidos. Diversidade que
é centralizada e organizada, muito tempo depois, pelo aparecimento
de Zaratustra e o
livro sagrado “Zend
Avesta”. Agora é a
luta entre o bem e o mal (Ahura-Mazda ou Ormuz; e Arimã). Juízo
Final, o triunfo final do Bem, a vinda do Messias, a liberdade do
humano ajudando ou atrapalhando o triunfo final do Bem, o
paraíso, a volta dos mortos;
o mazdeísmo influenciou as três grandes religiões monoteístas da
região: judaísmo, cristianismo e islamismo. Curiosamente acho que a
leitora e o leitor nunca deve ter lido e ouvido a respeito do
mazdeísmo.
Falamos
no passado de judaísmo e água e vamos terminar comentando
um trecho de “O
Novo Oriente Médio”,
livro de Shimon Peres
(Editora Relume Dumará, 1993, Rio de Janeiro).
Mau
planejamento e exploração predatória do meio ambiente são dois
dos motivos para o Oriente Médio sofrer com a falta de água. Não é
questão do Thomas Malthus
ser o espectro que ronda a questão ali, mas os rios não estão
crescendo como a população está crescendo. Tem cientistas bancando
profetas e eles não são profetas agradáveis. Um caso especialmente
trágico é o Egito e a Síria, mas a comunidade internacional também
deveria ajudar a Etiópia e o Sudão quanto a esta questão da água.
Mas a questão envolve todo o mundo. Em 1987 a Turquia sonhou com um
aqueduto da paz ligando os países da região o excedente de água;
mas alguns países árabes não queriam a participação de Israel e
este foi o fim do projeto turco. Na
questão da água quanto em outras questões, o Oriente Médio seria
mais feliz se o Amor vencesse o ódio.