segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Olhos tristes

 

OLHOS TRISTES

MICHAEL KELLEY e sua fotografia (EC6653-001)

stone® da getty images™

gettyimages.com/stone


É uma coisa que eu já vi e não vi. Vi porque vi por meio de jornais, revistas, livros, televisão, computador e cinema. Não vi porque nunca estive lá. Nunca estive vendo um rio no meio de um corredor apertado de montanhas.



Pausa.

Nunca estive vendo...”

Nunca estive vendo...”

(Que construção gramatical estranha. Parece estranha aos olhos. Pronunciando-a ela soa também estranha. E é preciso lembrar do conselho do Gustave Flaubert (via Will Durant) sobre o melhor teste para uma frase suspeita de feiura: a leitura em voz alta. “Uma frase mal feita não resiste a este teste”, diz o autor de Madame Bovary.



Então é isso. Um rio em meio a um corredor estreito de montanhas. Estreito, mas nem tãããão estreito. Na verdade entre o rio e a montanha há bastante espaço e terra. E muita vegetação, mas esta não chega a ser bem uma floresta. Grama, algumas árvores juntinhas como um prato cheio de brócolis verdes mas não muito extensa esta área. O céu e a atmosfera da foto não são alegres. Ao contrário, elas sugerem melancolia. Não há cores vivas e eu gosto de cores vivas, saturadas até. Mas aqui não, parece na foto que falta um minuto para começar a noite do apocalipse zumbi. Tem até algumas nuvens de chuva. Até bordas embaçadas, desfocadas na fotografia. É bonito um rio em meio a um corredor de montanhas, mas os olhos do Michael estavam tristes.

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