“Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima. Mais tarde as vozes começaram na falaria:
– De onde vem você?
– Do reino de Acelóis!
– Como vai o príncipe?
– Vai mal, coitado, não tem remédio!
– Ora não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma moça donzela que queira morrer por ele!
Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo quando ela avistou o reinado de Acelóis.”
(O Papagaio Real)
“O rei perguntava:
– Como vai, Quirino?
– Com a graça de Deus e o favor do meu amo!
– A obrigação?
– Em paz e a salvamento.
– As vacas?
– Umas gordas e outras magras.
– O boi barroso?
– Vai forte, valente e mimoso!
O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia.
– Vamos apostar, Majestade?
– Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com os chifres dourados?
– Está apostado!
O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego.
Rosa se vestiu como mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso.”
(Quirino, Vaqueiro do Rei)
“O conto transcrito é, evidentemente, um espécimens as sobrevivência africana na literatura oral brasileira com o motivo puro e legítimo da aranha, talqualmente vivia há séculos no continente negro onde nasceu e emigrou. Uma aranha agindo na Bahia sem influência cristã moralizadora.”
(Nota sobre o conto “A Aranha-Caranguejeira e o Quibungo)
CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL – Luís da Câmara Cascudo.
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