quarta-feira, 13 de julho de 2022

Contos Tradicionais do Brasil, Cascudo

 

Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima. Mais tarde as vozes começaram na falaria:

De onde vem você?

Do reino de Acelóis!

Como vai o príncipe?

Vai mal, coitado, não tem remédio!

Ora não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma moça donzela que queira morrer por ele!

Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo quando ela avistou o reinado de Acelóis.”

(O Papagaio Real)


O rei perguntava:

Como vai, Quirino?

Com a graça de Deus e o favor do meu amo!

A obrigação?

Em paz e a salvamento.

As vacas?

Umas gordas e outras magras.

O boi barroso?

Vai forte, valente e mimoso!

O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia.

Vamos apostar, Majestade?

Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com os chifres dourados?

Está apostado!

O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego.

Rosa se vestiu como mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso.”

(Quirino, Vaqueiro do Rei)


O conto transcrito é, evidentemente, um espécimens as sobrevivência africana na literatura oral brasileira com o motivo puro e legítimo da aranha, talqualmente vivia há séculos no continente negro onde nasceu e emigrou. Uma aranha agindo na Bahia sem influência cristã moralizadora.”

(Nota sobre o conto “A Aranha-Caranguejeira e o Quibungo)


CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL – Luís da Câmara Cascudo.

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