quarta-feira, 13 de julho de 2022

O Caso Wagner, Nietzsche

 

Que o teatro não se torne o senhor das artes.
Que o ator não se torne sedutor dos autênticos.
Que a música não se torne uma arte da mentira.”


Já se percebeu que a música faz livre o espírito? Que dá asas ao pensamento? Que alguém se torna mais filósofo, quanto mais se torna músico? O céu cinzento da abstração atravessado por coriscos; a luz, forte o bastante para se verem as filigranas; os grandes problemas se dispondo à apreensão; o mundo abarcado com a vista, como de um monte. – Acabo de definir o pathos filosófico. – E de súbito caem-me respostas no colo, uma pequena chuva de gelo e sapiência, de problemas resolvidos... Onde estou? – Bizet me faz fecundo. Tudo o que é bom me faz fecundo. Não tenho outra gratidão, nem tenho outra prova para aquilo que é bom.”


Eles estão certos, esses jovens alemães, tal como agora são: como poderiam eles sentir falta do que nós, outros, nós, alciônicos, sentimos falta em Wagner – la gaya scienza, os pés ligeiros; engenho, fogo, graça; a grande lógica; a dança das estrelas; a espiritualidade petulante; os tremores de luz do Sul; o mar liso – perfeição...”


O CASO WAGNER – Friedrich Nietzsche.

(Tradução de Paulo César de Souza)

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