quarta-feira, 13 de julho de 2022

Nietzsche contra Wagner, Nietzsche

 

“ “O indivíduo deixa a si mesmo em casa quando vai a Bayreuth, renuncia ao direito de ter a própria escolha, a própria língua, ao direito ao seu gosto, mesmo a sua coragem, como a temos e exercitamos entre as nossas quatro paredes, em oposição a Deus e o mundo. Ninguém leva consigo ao teatro os mais finos sentidos da sua arte, menos ainda o artista que trabalha para o teatro – falta a solidão, o que é perfeito não suporta testemunhas... No teatro nos tornamos povo, horda, mulher, fariseu, gado eleitor, patrono, idiota – wagneriano: mesmo a consciência mais pessoal sucumbe à magia niveladora do grande número, o próximo governa, tornamo-nos próximo...”. ”


Solitário então, e gravemente desconfiado de mim mesmo, tomei, não sem ira, partido contra mim e a favor de tudo o que me fazia mal e era duro: assim achei novamente o caminho para esse valente pessimismo que é oposto de toda mendacidade idealista, e também, como quer me parecer, o caminho para mim – para minha tarefa... Esse oculto e soberano Algo, para o qual durante muito tempo não temos nome, até ele se revelar enfim como nossa tarefa – esse tirano em nós toma uma represaria terrível contra toda tentativa que fazemos de nos esquivar ou fugir, contra toda resignação prematura, toda equiparação aos que não são nossos iguais, toda atividade, ainda que respeitável, que nos desvie do principal – e mesmo toda virtude que nos proteja contra a dureza da responsabilidade mais nossa.”


Outrora ordenava às nuvens
que se afastassem de meus montes –
outrora dizia: “Mais luz, ó seres escuros!”.
Agora as chamo para que venham:
fazei escuro ao meu redor com vossas tetas!
- quero vos ordenhar,
Vacas das alturas!
Sobre a terra espalharei
sabedoria quente como leite, doce orvalho de amor...”


NIETZSCHE CONTRA WAGNER – Friedrich Nietzsche.

(Tradução de Paulo César de Souza)

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