quarta-feira, 20 de julho de 2022

Jornalismo na Linha de Tiro, Lúcio

Afastei-me completamente do noticiário sobre Santarém, evitando qualquer interferência, embora isso me causasse aborrecimento “inter pares”. Um deles me disse que o mínimo que eu deveria fazer era me demitir de um jornal que combatia meu pai. Respondi que era jornalista. É a única resposta que tenho a dar até hoje.”


Repórter Social – Conte-nos qual foi o seu pior momento exercendo a profissão. E, no polo oposto, qual foi o momento em que você pensou “vale a pena ser jornalista”?

Lúcio Flávio Pinto – No polo oposto, sem saber, ministro Delfim Neto me fez o maior de todos os elogios. Como pauteiro nacional de O Estado de S. Paulo, ajudei a desvendar a manipulação do índice de inflação de 1972, em pleno regime militar. Delfim chamou a Brasília um dos editores da seção de economia do Estadão para lhe dizer que o governo já havia se livrado de donos de jornal (presumi que a referência era a Niomar Sodré Bittencourt, do Correio da Manhã), de repórteres e de editores. Agora era a vez de pauteiros. O aviso me foi dado num fim de noite, após o fechamento da edição do jornal, em tom amigável (o portador, afinal, era uma pessoa no fundo decente), diante de uma testemunha preciosa. Passado o susto e o impacto, dei um leve sorriso, peguei as minhas coisas e fui para a casa, que ficava perto da sede do Estadão, andando pelas nuvens. Há melhor elogio a um jornalista honesto do que incomodar um poderoso de forma legítima?”


Rogério Almeida – A empresa no caso era a Camargo Corrêa?

A Camargo Corrêa teve um lucro líquido de 500 milhões de dólares na construção da hidrelétrica de Tucuruí. Sempre que posso toco no assunto. As pessoas não se indignam. Fico estupefato com a questão. No regime militar descobri que balanço de empresa é uma fonte preciosa de informação. Principalmente pelo que não está dito. O Banco do Estado do Pará foi eleito o banco do ano, em 1985, quando eu havia escrito que o banco estava cheio de irregularidades e fraudes. Que algumas das suas principais operações estavam erradas. E a revista Exame, uma publicação aparentemente de conceito, afirmava tratar do banco com o melhor desempenho do Brasil. Comecei a estudar balanço no início do regime militar, consultando gente que sabia de contabilidade. Em 1988 fui estudar o balanço da Albrás, a maior produtora de alumínio do país, a segunda do continente e a oitava do mundo, relativo ao exercício anterior. Concluí que só a variação cambial do empréstimo do Eximbank japonês à empresa, provocada pela paridade entre a moeda japonesa e o dólar relativamente à moeda nacional, que proporcionou a maior aplicação de capital de risco estrangeiro na história do Brasil, só a variação entre as moedas representava três vezes o orçamento do Estado do Pará. Perdemos três vezes o orçamento responsável pelo pagamento de 120 mil funcionários, o custeio dessa máquina e os investimentos no Estado. Consultei o cidadão que fazia o orçamento no Rio de Janeiro. Ele confirmou a minha constatação. Escrevi a matéria em O Liberal. Imaginava um escândalo nacional no seguinte. Não teve nada.”


O JORNALISMO NA LINHA DE TIRO (De grileiros, madeireiros, políticos, empresários, intelectuais & poderosos em geral) – Lúcio Flávio Pinto.


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