sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Cabelos Cabelos


 A mesma aranha da fotografia postada aqui ontem. Ah, e essa aranha não se chama “Claudio”. Fico publicando fotos para acompanhar textos e ambos nada tem em comum a não ser a autoria, então pode dar alguma confusão em quem me lê. Rio Acima, 2010.



MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 4

Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” (1985) e "Holocausto A Saga da Família Weiss" (1979, mas a TV Manchete exibiu no Brasil mais tarde) e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


6 - A pequena reportagem é sobre os supostos efeitos abortivos do mamão (Revista Veja, 23 de fevereiro de 1994).

A fotografia foi realizada pelo Edu Oliveira. A fotografia é bonita pela simplicidade e a modelo é bonita pela sua expressão doce e principalmente pelo seu cabelo que é crespo. Naturalmente ela finge saborear um pedaço de mamão, para combinar com a reportagem. Ela é branca, tem traços delicados em seu rosto e veste uma blusa com estampas floridas muito bonitas. Mas o seu cabelo crespo parecendo uma nuvem pintada de marrom e preto em pinceladas desordenadas; é realmente o "fator X" que torna tudo tão especial nesta fotografia realizada pelo Edu.



7 - "Ministério da Cultura, Museu Inimá de Paula e Santander apresentam NARRATIVAS POÉTICAS - Coleção Santander Brasil Museu Inimá de Paula 23 de outubro de 2013 a 26 de janeiro de 2014".

Este folheto é rico em textos e imagens. Cito algumas informações que achei mais interessantes. Nomes de alguns artistas plásticos para a gente procurar na internet: Fernanda Rappa, Renata de Bonis e Tuca Reinés. E no verbete “contemporâneo” aprendi que há diversos “modernismos” ao longo da história da arte e ali é mesmo tudo meio relativo e que “contemporâneo” nas artes é aquilo que nasce depois da Segunda Guerra Mundial (1945).


Mas o que torna este folheto especial para mim realmente é a pequena reprodução do óleo sobre tela "Figura" (1948), de Milton Dacosta. É uma tela linda linda que adoraria ter para mim e que posso ficar olhando por muito muito tempo!

Mais uma imagem bonita e mais uma vez vou treinar minhas “habilidades narrativas”. Coitado do Milton! Coitado de vocês!


Parece a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, mas é infinitamente mais bonita e enigmática. Ela é bem mais jovem, talvez mesmo seja uma estudante de algum colégio. Olhem esta tiara no cabelo e esta cadeira tão simples.


Depois de algum tempo, acho que descobri de onde vem os triângulos que sombreiam o rosto e o pescoço dela de maneira misteriosa. É que podemos ver atrás dela pequenos triângulos azuis-claros flutuantes sobre um fundo azul mais escuro. Mais escuro que este último azul é o azul do chão.


Falei em sombras misteriosas e vou me explicar. O seu nariz triangular e o seu vestido branco sem estampa, são sombreados de maneira equilibrada: a área escura é do mesmo tamanho que a área clareada. Mas mesmo aqui há mistério, pois a fonte de luz vem de sentidos opostos. Já a sombra do pescoço, além de não acompanhar a sombra do vestido parece maior e esta “derramada” de maneira inclinada. O rosto de nossa estudante é sombreado por um triângulo invertido. Enfim, sombras misteriosas.


Os traços faciais indicam cansaço, seriedade, tédio e tristeza. Por causa da aula que ela esta assistindo?; não quero esta hipótese. Ou ela sente isso por causa de sua vida ou por causa da vida de quem a observa? Não podemos perguntar para ela sobre estas dúvidas, pois os desenhos das orelhas são simples demais: ela não nos escutaria. O seu rosto esta inclinado e as duas linhas curtas e simples que formam suas sobrancelhas estão um pouco arqueadas, o que sugere movimento recente. Talvez o fim do julgamento a respeito do que ela deve fazer?


As sombras dos triângulos que cobrem o rosto e o pescoço quase se tocam e se isso acontecesse poderíamos ver a silhueta de uma ampulheta justamente na metade do seu tempo. Metade do tempo…


Acho que nossa estudante está em um momento decisivo e, - quando lembro que “cabelo é vida” (minha professora de literatura do colégio cujo nome esqueci) e o dela além da cor (marrom) e de ser muito grande destaca-se pelos contornos ondulares, - e não retos dos outros elementos da tela –, acredito que a decisão da estudante a fará destacar-se neste seu mundo de formas geométricas regulares demais.

(Gostei, mas não tanto assim de minha descrição. Descrever é difícil. De qualquer forma, a mensagem principal minha aqui é que o óleo sobre tela “Figura” (1948) de Milton Dacosta é uma tela linda; e que vocês devem procurar conhecer.)

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