Crise Israel-Palestina, outubro de 2023
“Uma ocupação que já dura 35 anos. Uma
política de anexação e aniquilamento de uma nação, com assentamentos de colonos
que paulatinamente vão estrangulando o território palestino; já são 66 as
colônias judaicas na Palestina. Uma política de aniquilamento da economia, de
confisco de terras e fontes de água, preciosas numa região árida. Uma política
de repressão, de negação de direitos civis, prisão de líderes, de intelectuais,
fechamento de universidades, toque de recolher e instalação de postos militares
que impedem a livre circulação da população no seu próprio país. Um êxodo
estimulado: só no primeiro semestre de 2002, 80 mil palestinos abandonaram a
Cisjordânia e a Faixa de Gaza. E uma imposição inédita na história de qualquer
ocupação já ocorrida na humanidade: o invasor exige garantias de segurança do
invadido.”
(Deus é inocente: a imprensa, não (2002); de Carlos Dorneles. Quarta reimpressão (2005), Editora Globo, São
Paulo, São Paulo. Página 238. Sinto a obrigação de dar os créditos a Roberto Kazuo Yokoda, pela sua
belíssima capa. Uma das mais bonitas que tenho em minha biblioteca pessoal. As
fotografias são do banco de imagens Corbis Stock Photos.)
“Percorrendo a Terra com seu carro cheio de
mentiras, astúcias e enganos, Hermes examinava a carga para distribuí-la
igualmente entre todos os povos. Mas, quando chegou à Arábia, o carro
quebrou-se inesperadamente. Os habitantes pilharam a carga como se se tratasse
de bens preciosos e o deus interrompeu ali sua viagem.
Entre todos os povos, os árabes são os
mais espertos e mentirosos: a verdade não fala por sua boca.” (O
Carro de Hermes e os Árabes)
(Fábulas; Esopo. Tradução
de Antônio Carlos Vianna. 1997;
minha edição é de 2002. Página 92. Editora L&PM. Porto Alegre, Rio Grande
do Sul.)
Depois desta demonstração adolescente
de imparcialidade, peço a devida vênia aos justos e às almas sebosas de ambos
os lados. A minha carne é fraca. De qualquer forma, se alguém achou graça eu
continuo e recomendo o romance O Grande
Líder, do escritor Fernando Jorge.
O personagem principal é um político ambicioso e inescrupuloso; em determinado
momento, em busca de apoio, ele vai a reuniões ora de judeus e ora de árabes, criticando
um grupo quando está diante de outro grupo. É um romance muito gostoso de ler. Fernando Jorge até chega a ser
relativamente famoso, mas evidentemente estamos esperando ele encantar-se para darmos a ele os seus
devidos louros. Coisas do Brasil.
Antes de tudo; os meus
sentimentos às famílias e amigos dos mortos e feridos dessa crise Israel-Palestina-outubro-2023.
Antes de tudo; que sessem imediatamente as hostilidades e que se comecem as
negociações; ou a vitória na Terra Santa é sinônimo de eliminação completa de
um lado?
Com todo o respeito, mas os
números oficiais da guerra fornecidos por Israel estão sendo repetidos pela
imprensa sem questionamento. E por que essas menções precipitadas desde o
início da crise ao Hezbollah e ao Irã na televisão? É para a opinião pública
mundial começar a se acostumar com a ideia do que exatamente? Um conflito
armado, mesmo que “pequeno” ou “médio”, contra o Irã por parte de Israel e
Estados Unidos seria um recado à Rússia e China, também? Como disse o
personagem de Sean Penn Cheyenne no
filme maravilhoso “Aqui é o meu lugar” (This must Be the Place, 2011, Paolo Sorrentino, Umberto Contarello, Olwen
Fouéré, Judd Hirsch e etc.): “Há
alguma coisa muito errada aqui; eu não sei o que é, mas que há, há.”
É impossível ignorar que Joe
Biden e Benjamin Netanyahu estavam vivendo crises políticas agudas em seus
governos e um ataque injusto externo estimula o patriotismo e uma trégua
política interna.
“A comunidade internacional
demonstra apoio e blábláblá...”. Por “comunidade internacional” leia-se os
países ricos de sempre: Inglaterra, Itália, França e... Espere um pouco, que
países europeus estão tendo crises migratórias principalmente com pessoas...
Ah... E por último, mas não menos importante, a parcialidade e falta diversidade
da imprensa brasileira: as imagens são as mesmas da CNN Internacional e os entrevistados
são os mesmos. Só ontem, dia 9 de outubro, na tv lembraram-se de entrevistar
uma liderança árabe no Brasil aparecendo para dizer que a comunidade não apoia
a violência. A CNN Brasil, inclusive, tem uma posição tão pró-Israel que chega
a ecoar a crítica rasteira de alguns bolsonaristas que acusam o Governo Lula de
não ser justa com Israel. Eu sou formado em jornalismo e me sinto obrigado a
aqui a investir em um contexto: desde a cobertura da imprensa na Guerra do
Vietnã (1955?-1975) e na tentativa de invasão dos Estados Unidos ao Camboja (1970)
influíram radicalmente na política, a cobertura imparcial de grandes conflitos
armados ficou cada vez mais difícil e raro. Queda na cobertura dos conflitos da
América Central em meados do início dos anos de 1980. E na Primeira Guerra
Estados Unidos – Iraque, início dos anos de 1990, só restou às imagens das
luzinhas verdes. Na invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão e na Segunda
Guerra Estados Unidos – Iraque, em meados dos anos 2000, o negócio foi completamente
patético. Jornalismo virando eco dos poderosos. Então, em 2023, a imprensa vai mostrar o que
aconteceu na Faixa de Gaza e em Israel realmente?
Dito isso, algumas perguntas
de caráter socrático mesmo, dado que não sou especialista. Mesmo porque, em se
tratando de guerra, é difícil que alguma informação seja confiável.
Benjamin Netanyahu vai
destruir a Faixa de Gaza como Ariel Sharon destruiu a Cisjordânia nos anos
2000?
Por que os palestinos não
conseguem encontrar lideranças que sejam ao mesmo tempo justas e fortes? Se
antigamente acusavam Arafat de corrupto, hoje dizem o mesmo do Abbas. Mais do
que isso, ambos eram fracos politicamente (Arafat nos últimos anos, eu lembro,
era fraco). Aliás, nem lembro quando foi a última vez que vi o Abbas na televisão
ou li sobre ele. Nem o Abbas e nem toda a Cisjordânia, para ser franco. Não é
só a cobertura incompetente e preconceituosa da imprensa brasileira ou é?
Os palestinos árabes são
amados por outros árabes e mulçumanos? Quer dizer, o Egito não é tão pobre
assim e a Faixa de Gaza é quase uma cidade média. Não seria fácil para o Egito,
sozinho, transformar a Faixa de Gaza em um lugar próspero? E o Egito é aliado
de Israel. Assim como a Jordânia também é aliada de Israel. A Jordânia ajuda com
sinceridade o povo árabe palestino a ser próspero com sinceridade na
Cisjordânia?
Os árabes se sentiram
traídos pelos ingleses durantes as negociações no fim da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918)? Também as negociações no fim da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) e um episódio como o Plano Madagascar levaram os judeus à impressão
de que, apesar de todo apoio dos Estados Unidos e outros países poderosos, em
última análise eles estão sempre sozinhos?
Existe um documentário
francês muito bom chamado “Palestina – A História de uma terra”. Passava na TV
Escola. É ligeiramente favorável aos árabes, mas também é sincero e bem feito.
Vale a pena assistir. E tem o livro “A Guerra dos Seis Dias” do A. J. Baker, parte da série lendária da
Editora Renes. Ah, Editora Renes... Para obedecer à coerência, li este livro
sobre a Guerra dos Seis Dias em um dia.
E antes de terminar mais
este texto meu que vai salvar o mundo, deixe-me expressar o desespero meu de
saber que a proibição do casamento homoafetivo avança rápido em Brasília. Falta
Amor no Oriente Médio e falta Amor em Brasília. Precisamos de mais Amor.