terça-feira, 3 de outubro de 2023

Zen-Budismo 2 de 10

 

Zen-Budismo 2 de 10

 

Mal começamos a conhecer o ponto de vista do Zen-Budismo e imediatamente aprendemos aquele tipo de lição que coloca a nossa vida de cabeça para baixo, ao mesmo tempo que nos faz renascer intelectualmente e emocionalmente: o conceito budista da temporariedade.

Tudo está mudando o tempo todo. Isso é óbvio, o que não é óbvio é isso na prática: a sua dor, a sua felicidade, o próprio Buda, a autoridade dos outros, a sua idade, o que você pensava da vida, as verdades científicas... Não é óbvio que o tempo passa e que tudo está mudando.

Não é óbvio que tudo está mudando e que o tempo passa porque frequentemente você se olha no espelho e leva um susto sobre o que fez e está fazendo de sua vida. E você ri e chora quando olha para você mais novo ou você mais velho. Como é possível você levar um susto sobre o que você fez da própria vida? Você por acaso estava dormindo?

É o rio. Nós estamos no rio. É o mesmo rio do Sidarta de Herman Hesse e o mesmo rio do ensaio sobre a velhice escrito pelo meu amado Bertrand Russell. Rio ou caminho estelar do filme “Contato” (“Contact”, 1997, Jodie Foster, Robert Zemeckis, Carl Sagan, James V. Hart, Matthew McConaughey e etc.). Em última análise não deve haver nem morte ou nascimento, só este rio mesmo. Acho que as aparências e a dor e o prazer é que nos distrai. É fácil se distrair. Eu que o diga, com nome de astronauta eu vivo mesmo no mundo da Lua. Ou no quarto anel de Saturno.

E se tudo muda e se estamos no rio, não podemos nos afogar. Se a gente fica distraído ou desesperado nós não boiamos e acabamos nos afogando. Então se tudo muda nós devemos ser mais serenos diante da vida. Difícil porque em 2023 aqui no Ocidente é tanto estímulo na internet, televisão, é tanto medo nas ruas, tanto sexo insatisfatório, e tanto vazio interior e tanto desgosto por trabalho chato e salário insuficiente!

 

 

 

Livremente inspirado em “Segunda Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Um brinde para Lula, 2004

 

Um brinde para Lula, 2004

 

Eu estava na faculdade de jornalismo quando aconteceu o Caso Lula-New-York-Times-Cachaça. O caso foi patético e o desafio era identificar se era truculência impulsiva ou sinal de autoritarismo por parte do Governo Lula. Duas opções tristes. Se um jornalista desagrada um presidente da república, o máximo que deveria acontecer seria o assessor de imprensa numa entrevista coletiva dar uma resposta bem inteligente; e pronto. E pronto.

Em segundo lugar, coloca-o nas mãos de políticos. Quem espalha aos jornalistas que o presidente bebeu nesta ou naquela reunião reservada são os deputados e senadores dos partidos aliados. Qual o motivo? Não seria para enfraquecer o governo e, dessa forma, forçar a liberação de emendas e a nomeação de seus apadrinhados para órgãos públicos?

(Diogo Mainardi em Abstinência da razão, artigo publicado em Revista Veja em sua edição de 19 de maio de 2004.)

Não sei como anda a dieta do Lula em 2023, mas sei que hoje ele não é capaz de mandar repórteres “viajarem” se estes o incomodarem. Mais porque o Governo Lula está fraco do que por republicanismo?

 

2 de outubro de 2023

Nordeste

Site do Governo do Estado de Pernambuco

(2023 “Mais trabalho, mais futuro”)

https://www.pe.gov.br/

https://www.pe.gov.br/blog/71-blog/saude/806-governadora-raquel-lyra-anuncia-reforma-do-hospital-da-restauracao-e-obra-de-contencao-de-encostas-em-jardim-monte-verde

“PUBLICADO: QUINTA, 28 SETEMBRO 2023 12:16

GOVERNADORA RAQUEL LYRA ANUNCIA REFORMA DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO E OBRA DE CONTENÇÃO DE ENCOSTAS EM JARDIM MONTE VERDE”

Antes de mais nada: mulheres: a governadora Raquel Lyra e sua vice, Priscila Krause. Legal isso. Outra coisa interessante é que não são informados os partidos dos políticos citados no texto. Por quê? A reportagem fala sobre os anúncios de obras depois do Ouvir para Mudar, projeto que percorre quilômetros e ouve dezenas de pessoas. Bom, é uma reportagem governista. Tudo bem. Que tudo termine bem.

Folha de Pernambuco

(“Compromisso com você 1998-2023”)

Manchete principal do site é sobre um acidente em um parque de diversões. Na versão impressa a manchete é sobre o novo formato dos concursos públicos em todo o Brasil. Em Cabrobó o prefeito foi proibido de divulgar uma pesquisa que mostrava que ele tinha muita aprovação popular; não há muitas explicações no texto (coluna do Carlos Britto)  mas parece que os bastidores da pesquisa feita não a tornam angelical.

https://www.folhape.com.br/edicao-impressa/2544/02-10-2023/#edicao_impressa-2

 

 

CEPIA

Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação

https://cepia.org.br/

Crime é não falar. #ADPF442 #nempresanemmorta

https://cepia.org.br/2023/09/28/crime-e-nao-falar-lancamento-de-video/

Hoje,  28 de setembro é o Dia Latino-americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto.Para marcar a data a CEPIA se some a iniciativas desenvolvias por diversas organizações e coletivos na onda verde pela dignidade humana das mulheres e meninas, pela autonomia sexual e reprodutiva e pelo direito à escolha.

 

 

BBC Brasil

https://www.bbc.com/portuguese

O destaque é o relato de três brasileiros que trabalham na Inglaterra como motoqueiros entregadores. Eles ganham muito mais dinheiro, mas relatos de quem tem mais experiência parecem demonstrar que há crise econômica no horizonte inglês.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1v9gr16y7po

“Por que cientistas dizem que estamos perto de achar vida em outro planeta”

O planeta fora, bem fora, 120 anos-luz de distância de nós; chamado K2-18b tem probabilidades boas de abrigar vida. Depois vem a lua Europa do planeta Júpiter e a lua Titã do meu planeta Saturno. Quer mais notícia boa? Temos. Avanços no projeto Seti (aqueles dos radares que procuram “ouvir” sinais de vida inteligente) devido à sofisticação dos últimos telescópios. Isso porque com telescópios mais modernos, o pessoal do Seti pode ser menos aleatório na hora de mirar os seus radares.

Antologia do Folclore Brasileiro 1 de 25

 

Antologia do Folclore Brasileiro 1 de 25

 

 

 Aos cantadores e violeiros analfabetos e geniais,

às velhas amas contadeiras de estórias maravilhosas

fontes perpétuas da literatura oral do Brasil, ofereço,

dedico e consagro este livro que jamais hão de ler...

Que jamais hão de ler; é verdade, mas elas e eles sempre estarão à espera de nós.

 

 

Luís da Câmara Cascudo adoooora fazer uma citação em língua estrangeira sem traduzir. Danado!, mas ele pode; amo ele então perdoo fácil fácil. Mas isso seria coisa para Global Editora fazer aqueeeelas notinhas de rodapé né? Pois é… Deixa pra lá.

 

 

O cancioneiro popular vai mais longe e eu preciso conhecer o Franz Boaz mais de perto. Quando meu amado Will Durant apresentou o Francisco Boaz para mim em A Filosofia da Vida, fiquei totalmente encantado e conquistado. Tem livro do Chiquinho Boaz em português? Preciso procurar.

 

 

Um apito pequenininho feito de um ossinho de animal ficou 12 mil anos em silêncio até ressuscitar pelas mãos de Hernandez-Pacheco, naquele encontro feliz em uma caverna em Paloma; Astúrias. Pois pois, aqui nesta antologia teremos a mesma coisa: flautinhas de muita gente que registrou pedaços da cultura popular brasileira ao longo de séculos irão cantar novamente. Para você que me lê.

 

 

Ah!, mas é maravilhoso! Simplesmente maravilhoso! Eu mal começo a Antologia do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, e já tropeço no primeiro registro presencial do encontro das lendárias guerreiras amazonas! E por um religioso! Como todo respeito frade Gaspar de Carvajal; mas é impossível ignorar os meses e meses de fome e sede em uma viagem mortal em alto mar em um navio cheio de homens fedorentos e os paralelos freudianos tudo tudo misturado para explicar a sua visão das amazonas.

"Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão de saber que eles são súditos tributários das Amazonas, e conhecida a nossa vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós a vimos, que andavam combatendo diante de todos os índios como capitães e lutavam tão corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, ao que fugia diante de nós, matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.

Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entraçado e enrolado, na cabeça. São muito menbrudas e andam nuas em pêlo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma dessas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porcos-espinhos."

(Frei Gaspar de Carvajal)

[Páginas 58 a 61 de Descobrimento do Rio Amazonas, de frei Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña; com tradução e notas de C. de Melo-Leitão. Volume de número 203 da Colação Brasiliana {São Paulo, 1943}.].

Brancas, altas e com cabelos lisos. E todo o resto do relato do frei sugere que ele gostava de narrar uma luta: “... uma coisa maravilhosa de ver-se”.

 

 

- Aí vem a nossa comida pulando.

Mais uma história fabulosa, mas mais real. Quer dizer, também acredito nas amazonas; claro, claro. Cof! Cof! Mas onde eu estava? Como todo o respeito, mas não posso resistir e uso minha brasilidade como imunidade:

- Pula, Hans Staten, pula!

 

Pelo menos uma vez por mês a bebedeira indígena a noite toda, dançando sem parar, fazendo um barulho “formidável”. Repartem a comida e raramente ficam zangados uns com os outros. Isso é que é programa de índio!

 

Tentaram nos obrigar a sair do barco que encalhou no rio subitamente por causa da maré baixa. A ideia era fazer muita fumaça de pimenta e para isso os índios tentaram fazer uma fogueira, mas o fogo não pegou. Escapamos.

 

 

Bom, é de época e é preciso compreender; mas as palavras do padre Manuel da Nóbrega podiam ter aquela tolerância gentil dos antropólogos. Triste, triste.

 

 

A mesma coisa com o José de Anchieta, infelizmente. Os índios não conhecem o deus verdadeiro, mas em compensação os demônios selvagens eles conhecem praticamente todos, José de Anchieta? Triste, triste, mas é o contexto, o contexto.

 

 

 

Livremente inspirado em Antologia do Folclore Brasileiro, 1944, organizado pelo

Professor dos professores, o mestre dos mestres, a mistura de Aristóteles e poesia, a mistura do luar que perfuma o rio Potengi com o sol que vivifica o Rio Grande do Norte: Luís da Câmara Cascudo.

(2003, Global Editora e Distribuidora Ltda, São Paulo, edição em dois volumes.)

[1 de 25].

domingo, 1 de outubro de 2023

Zen-Budismo 1 de 10

 

Zen-Budismo 1 de 10

 

 

Acho que podemos chamar este fenômeno cultural de “onda de orientalismo”. De repente há uma curiosidade, um desejo, aqui no Ocidente, de conhecer o Oriente. Na esperança de ali encontrar novos valores, ideias e caminhos. Não é raro no Ocidente o sentimento de desorientação e frustração profunda. A cidade nos isola, os meios de comunicação nos deixam tristes, a política agride, a ciência é estrangeira e os sacerdotes não são humanos...  

Não sou especialista, mas acho que tivemos uma “onda de orientalismo” forte na virada do século XIX para o XX, em meados da década de 1940 (por exemplo, meu avô paterno tinha muitos livros do chinês Lin Yutang) e na década de 1960. Desde os anos 2000, para trazer o assunto para mais próximo de nós, os livros de Dalai-Lama são muito populares. Pois bem, Fadiman e Frager mencionam que em meados da década de 1970 (Personality and Personal Growth é de 1976) também havia uma “onda de orientalismo” bem forte. E ela se fez sentir entre estudiosos da Psicologia e Psicanálise e outros estudiosos da mente humana.

 

É importante lembrar que apesar da antiguidade realmente milenar e do caráter profundamente pessoal (quanto aos fundadores) dessas escolas de pensamento religioso-filosófico, a importância delas hoje e sempre se dá pelo seu poder de readaptação aos novos tempos e ao fato que milhões de pessoas em dezenas de países as veem como realidade viva e não abstração acadêmica. Não obstante, muitos cientistas ocidentais demoraram a aproximar-se do fenômeno religioso-transcendental. Por motivos preconceituosos, ao assumirem por princípio que isso não era área científica e sim questão de fé pessoal. Ou mesmo por uma questão mais técnica, dado que a linguagem científica convencional não conseguia dialogar com a linguagem religiosa. Os termos de ambos os lados se chocavam em vez de dançar.

 

Eu já vi isso em Rubem Alves, já vi em Herman Hesse, em Joseph Campbell e, com algumas variações, também vi em Nietzsche. E até podemos ouvir Belchior em Como nosso pais. E, também, claro, claro, também a Raposa amiga do Pequeno Príncipe contou a ele e a nós. Agora estou aprendendo a mesma lição em uma história budista pela voz do próprio Buda: é preciso prestar atenção e não deixar escapar. Mas prestar atenção em quê e não deixar escapar o que? A gente sabe e não sabe. Ou melhor, a gente sabe; mas acaba esquecendo facilmente. Preste atenção na realidade, na verdade oculta, no tesouro essencial... Cuidado para argumentos lógicos e crachás de autoridade não prenderem os seus pés como algas perigosas durante a travessia de um rio mortal. Preste atenção no que importa.

 

 

Livremente inspirado em “Segunda Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).