Zen-Budismo 1 de 10
Acho que podemos chamar este
fenômeno cultural de “onda de orientalismo”. De repente há uma curiosidade, um
desejo, aqui no Ocidente, de conhecer o Oriente. Na esperança de ali encontrar
novos valores, ideias e caminhos. Não é raro no Ocidente o sentimento de desorientação
e frustração profunda. A cidade nos isola, os meios de comunicação nos deixam
tristes, a política agride, a ciência é estrangeira e os sacerdotes não são
humanos...
Não sou especialista, mas
acho que tivemos uma “onda de orientalismo” forte na virada do século XIX para
o XX, em meados da década de 1940 (por exemplo, meu avô paterno tinha muitos
livros do chinês Lin Yutang) e na
década de 1960. Desde os anos 2000, para trazer o assunto para mais próximo de
nós, os livros de Dalai-Lama são
muito populares. Pois bem, Fadiman e
Frager mencionam que em meados da
década de 1970 (Personality and Personal
Growth é de 1976) também havia uma “onda de orientalismo” bem forte. E ela
se fez sentir entre estudiosos da Psicologia e Psicanálise e outros estudiosos
da mente humana.
É importante lembrar que
apesar da antiguidade realmente milenar e do caráter profundamente pessoal
(quanto aos fundadores) dessas escolas de pensamento religioso-filosófico, a
importância delas hoje e sempre se dá pelo seu poder de readaptação aos novos
tempos e ao fato que milhões de pessoas em dezenas de países as veem como
realidade viva e não abstração acadêmica. Não obstante, muitos cientistas ocidentais
demoraram a aproximar-se do fenômeno religioso-transcendental. Por motivos
preconceituosos, ao assumirem por princípio que isso não era área científica e
sim questão de fé pessoal. Ou mesmo por uma questão mais técnica, dado que a
linguagem científica convencional não conseguia dialogar com a linguagem
religiosa. Os termos de ambos os lados se chocavam em vez de dançar.
Eu já vi isso em Rubem Alves, já vi em Herman Hesse, em Joseph Campbell e, com algumas variações, também vi em Nietzsche. E até podemos ouvir Belchior em Como nosso pais. E, também, claro, claro, também a Raposa amiga do Pequeno Príncipe contou a ele e a nós. Agora estou aprendendo a
mesma lição em uma história budista pela voz do próprio Buda: é preciso prestar atenção e não deixar escapar. Mas prestar
atenção em quê e não deixar escapar o que? A gente sabe e não sabe. Ou melhor,
a gente sabe; mas acaba esquecendo facilmente. Preste atenção na realidade, na
verdade oculta, no tesouro essencial... Cuidado para argumentos lógicos e
crachás de autoridade não prenderem os seus pés como algas perigosas durante a
travessia de um rio mortal. Preste atenção no que importa.
Livremente inspirado em “Segunda
Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James
Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e
Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro,
1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).
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