sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Zen-Budismo e o Balde

 

19 de outubro de 2023

Eu suspeito que o veto dos Estados Unidos à resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU foi: 49% apoio ao direito justo de Israel de se defender e 51% soberba mesmo pura e sem gelo, da parte estadunidense diante de um país pobre novo no clube (Conselho de Segurança).

E no noticiário a respeito desta mais recente crise Israel-Palestina na televisão a citação ao Irã como força oculta não para, é constante. Almas sebosas querem uma guerra mais ampla na região? Últimas gotas de petróleo antes dos EcoChatos vencerem? (risos) Falando um pouquinho mais sério: sei o que seria uma vitória dos sectários islâmicos, mas eu também gostaria de saber o que seria uma vitória do Exército Samuel Huntington/John Ashcroft. Perguntar para os refugiados pobres, os únicos que sempre sabem o que é uma guerra.

 

Como a minha internet está lenta! Acaba obrigando eu a usá-la de maneira inteligente, o que é chato.

 

 

Não aguento mais pedir para as pessoas lerem Teorias da Personalidade, de Fadiman e Frager; e para elas pensarem sobre o que trata o livro. Eu vou chutar o balde. Há muitas maneiras de chutar um balde e eu espero chutar o balde como Juninho Pernambucano. Que o time do zen-budismo, Ioga, sufismo e Abraham Maslow perdoem-me.

 

Zen- Budismo

A verdade é um boi e você é um camponês distraído. Acabou perdendo o seu boi. Mas foi só distração. Não foi uma perda peeeerda. Mas antes de começar a procurar o boi (verdade) você deve acreditar que vai sim encontrar o boi. Se isso parece platonismo e cristianismo não me pergunte o por quê. Os sábios que vestem roupas diferentes sabem conversar entre si. São os idiotas com roupas diferentes que não sabem e ficam brigando entre si.

Aí você estuda, estuda, estuda e estuda. A sua bunda redonda fica até quadrada de tanto que você ficou sentado estudando. Você fica até orgulhoso porque alguns livros são mesmo um deserto sem água e com muito sol. Alguns autores são insuportáveis. Mas uma coisa é ler sobre o budismo, outra coisa diferente é experimentar o budismo. A Alice só foi atrás do coelho que usava cartola e estava sempre atrasado, porque na hora ela levantou os olhos que estavam no livro e olhou a paisagem. Acabou caindo no buraco e foi parar no País das Maravilhas. Então estude muito o budismo, mas tire os olhos do livro sempre para poder ver se há algum coelho usando cartola e que esteja atrasado. Entendeu?

Aí você está procurando o boi (verdade). A primeira vez que você o vê, o primeiro vislumbre; é tudo. Não é tudo, mas é tudo. Não é tudo porque você não o agarrou ainda, mas é tudo. Não é tudo, mas é tudo. Não sei reapresentar o trem aqui, a lição aqui. Acho que a imagem do choque seja mais didática. Você está estudando o budismo e de repente o Sol, a estrela do nosso sistema solar, aparece no seu livro. Ou a primeira vez que eu vi a Simone Spoladore, a Bela Gil e a Ines Efron.

Agora o trem fica sinistro porque agora a disciplina budista no dia a dia vai cobrar o preço. O boi (verdade) vai querer voltar a fugir para o campo florido. Então seja disciplinado sempre. É gostoso, mas é caro. Queridão; é mais do que acordar cedo. Ah, muito mais do que isso! Mas vai ser gostoso.

Agora fica leve como uma pluma ao vento porque o modo de vida budista foi incorporado ao seu cotidiano e você nem percebe. Você é um budista andando de bicicleta, entende? Não esquece. Tranquilo, tranquilo.

Mais do que tranquilo. Você passeia montado no boi (verdade), tocando uma flauta, vendo as pessoas na aldeia e os pássaros no céu.

Você desceu do boi (verdade), o soltou, esqueceu-se dele. Mas desta vez isso aconteceu porque o boi (verdade) se tornou o universo inteiro. O que inclui você, naturalmente. Em qualquer lugar você encontra a flor do budismo brotar.

Os pássaros não te oferecem mais flores, porque você é nada agora. Tudo virou nada.

Tudo vira um espelho para você ver você mesmo e com isso você vê tudo mudando.

Acabe com o mal, faça o bem.

Os três fogos a serem evitados: erro, cobiça e ódio.

E aqui Buda encontra Aristóteles: o caminho do meio: não é para torturar o seu corpo no ascetismo e também não é para entregar-se aos prazeres. Você é maduro o suficiente para saber que o caminho que tu segue é o do meio? Senão se vire que tu não é quadrado.

E aqui Buda encontra Cristo: o outro está perto: o outro também manifesta a natureza do sagrado (Buda). Naturalmente que a gente sabe que o que não falta no mundo é gente insuportável, mas enfim... É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. E o nosso Renato Russo sabia o porquê disso: não há amanhã. Se bem que até o Apollo Creed também sabia que “don´t have tomorrow!”.

E aqui Buda encontra Arthur Schopenhauer: valorizar a compaixão. É tanta compaixão que você sente por todos e por tudo que você vira aquele surfista novato deitado na plancha em alto mar calmo olhando para o céu feliz tranquilo depois de deslizar em uma onda perfeita depois de um beijo depois de escutar o Bob Marley... A compaixão, a tranquilidade...

Então estudemos logo o budismo! Calma, calma, estudante! Seja humilde e pergunte a si mesmo se você é capaz de reconhecer um bom professor. Porque nem sempre o melhor professor (ou professora) vai estar dentro de uma academia de luxo, de cinco andares, cheia de equipamento... As aparências enganam. Seja humilde estudante...

E aqui Buda encontra Karl Marx e Friedrich Engels: a semente dos dragões, também conhecida como dialética, existe funciona. O que é a vida? Ora, obviamente que a vida é uma teia de aranha húmida de orvalho em uma manhã e outono. Como? Não entendeu? O que é a vida? O sorriso de uma criança faminta em um campo de refugiados para ciganos no meio da Romênia. Como? Não entendeu? O que é a vida? Quando você falou para a sua tia que... Acho que já deu para entender... Tudo está mudando e diante disso as categorias da lógica (ser, não-ser, essência, coerência, paradoxos, postulados e etc.) são um pouco mais do que pedaços de fruta em um liquidificador prestes a produzir uma gostosa e saudável vitamina.

Aqui Buda encontra o Islã: não há fronteiras entre a religião e a vida cotidiana. Isso pode parecer óbvio, mas não é tanto assim. Na nossa vida moderna ocidental, temos o costume de dividir momentos para orar, momentos para trabalhar, momentos para atividade política... Naturalmente que derrubar os muros aqui é bem complicado. Como harmonizar? Boa pergunta. Pergunta excelente. Faço a menor ideia.

Parafraseando um diálogo profundo entre a inglesa Kennett-roshi e o reverendo Hajime (The Wild White Goose, 1972, não há editora porque é um manuscrito):

Não teríamos que incluir Jair Messias Bolsonaro, nós incluímos Jair Messias Bolsonaro. Se você é incapaz de ver que ele também possui a natureza Buda por mais desorientado que possa ter sido, você nunca compreenderá o Budismo completamente. Este pedacinho é belo, este pedacinho não é. Você não deve fazer isso.

E é realmente difícil porque o final da jornada é torna-se um monge budista e você no fundo sabe disso. Você não quer se transformar-se em um monge budista e tudo bem, apenas lembre que a verdade só vai ser dada de presente a você se você deixa-la fazer parte de seus ossos e sangue. Sangue, ossos, não ler os ensinamentos budistas e sim decorá-los. Aqui Buda encontra Friedrich Nietzsche.

Agora o exercício budista mais difícil: sente-se e diga “sim”.

A meditação é uma atividade que requer prática. Pode começar durante atividades diárias como passar pano no chão. Você varre a casa com calma e deixa a sua mente relaxar. Se muita coisa te perturba internamente anotar em uma lista essas coisas pode te ajudar.

Comprem estes livros e depois me deem de presente.

Selling Water by the River, de J. Kennett (1972, Editora Pantheon, Nova Iorque).

The Dhammapada, tradução de P. Lal (1962, Editora Farrar, Straus & Giroux, Nova Iorque).

Zen Flish Zen Bones, antologia de histórias e koans Zen organizada por várias autoras e autores (sem data, Editora Anchor, Nova Iorque).

Livremente inspirado em “Segunda Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).

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