Antologia do Folclore Brasileiro 2 de 25
Obrigado por registrar pela
primeira vez em letra impressa a língua tupi, mas você é que é meio marmota
senhor Andre Thevet (1502-1590/1592?)!
Costume tupinambá para
receber amigos. O escolhido de outra aldeia fica na taba sentado na rede,
calado. É de bom tom chorar de saudade, ou fingir. Muitos fingem, imitando as mulheres.
Senhoras e senhores, isso é
simplesmente maravilhoso! Mas não seria ainda hoje, em pleno 2023, considerado por
nós estranho um convidado vindo lá longe não demonstrar saudade dramaticamente
durante uma longa estadia em nossa casa?
Não foi o primeiro e
obviamente não será o último, e Jean de
Léry (1534-1611) é mais um estrangeiro conquistado pela música brasileira.
No caso, especificamente, a música tupinambá.
E durante a Dança de Guerra
dos Tupinambás as canções mencionam o paraíso além das montanhas e morte, onde
os guerreiros de hoje reencontrarão os guerreiros do passado numa festa que não
terminará. E também mencionam dilúvio, um momento do passado remoto quando as
águas cobriram toda a terra do mundo.
Uma evidência de que a ideia
de paraíso, ou pelo menos de mundo bom após a morte e de que também a ideia de
dilúvio nas origens do mundo é bem comum. Interessante.
Ah, e o livro de Jean de Léry sobre o Brasil é um dos
mais populares, com diversas edições em várias línguas.
Aqui jaz o pecador Gabriel Soares de Souza (1540?-1592?),
quem realizou o mais completo painel da vida brasileira do século XVI
(1501-1600). O nome do livro é Notícias
do Brasil, se puder procure a edição da Editora Martins com anotações
eruditas do professor Pirajá da Silva.
Os maravilhosos tupinambás!
Mais descrições de seu cotidiano!
Coisas da época, coisas dos
sociólogos e antropólogos antes da sociologia e antropologia existirem, e Gabriel Soares de Souza usa os termos
“macho” e “fêmea” para referir-se a... Bom, deixa pra lá. Não julgar. Na hora
de descobrir o mundo a gente tem que ver o copo meio cheio. Então a gente
lamenta, mas respeita e segue em frente.
Quando um índio morre, os
parentes mais próximos choram dias e dias com lágrimas abundantes, mas os
outros índios não demonstram muito pesar.
Os índios tupinambás
gostavam muitos dos europeus que sabiam cantar e/ou tocar algum instrumento
musical. Então é fácil imaginar um grupo de europeus portugueses atravessando
território hostil sendo que apenas o músico do grupo sobrevivendo para contar a
história... (risos)
E o padre da Companhia de
Jesus Fernão Cardim (1548-1625)
reparou bem como os índios tratam as suas mulheres. Normalmente as tratam super
bem, cavalheiros mesmo, a não ser quando bebem. Aí brigam e depois colocam a
culpa na bebida. Mas onde eu já vi isso? Hum... Mas depois ambos fazem as pazes
rapidamente. Mas onde eu também já vi isso? Hum...
As caminhadas são um
capítulo à parte: quando o caminho é novo e/ou quando é a saída o homem vai na
frente por segurança. No caminho de volta é a mulher que vai na frente, pois se
houver um encontro infeliz a mulher sai correndo mais fácil para a casa e o
homem fica para lutar. Se o caminho é conhecido e/ou o clima é tranquilo eles
saem com a mulher andando na frente “porque são ciosos e querem sempre ver a
mulher.”
Livremente inspirado em Antologia
do Folclore Brasileiro, 1944, organizado pelo
Professor dos professores,
o mestre dos mestres,
a mistura de Aristóteles
e poesia,
a mistura do luar que
perfuma o rio Potengi com o sol que vivifica o Rio Grande do Norte:
Luís da Câmara Cascudo.
(2003, Global Editora e
Distribuidora Ltda, São Paulo, edição em dois volumes.)
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25].
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