segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Ioga, Hinduísmo e o Balde

 

Ioga, Hinduísmo e o Balde


Os lendários Vedas. Mais de 2 mil anos de influência contínua e tudo começou em uma tradição oral. O quão perto esteve de se perder aquelas mensagens? Quantas alterações o texto sofreu? Difícil não pensar mesmo em inspiração divina na semente central daquelas palavras. Do primitivo (“primitivo” em sentido stricto sensu, seus modernosos de narizinho empinado) politeísmo que encontra deuses em toda parte e termina em uma das visões filosóficas mais sofisticadas já criadas pelo humano. Descrição de rituais para um cotidiano feliz, uma ode às florestas e cuidados interiores para a meditação. A última parte, também chamada de Upanishads ou Vedanta, decifra e explica o Ser.

 

O Purusha é a consciência, só a consciência; mas também é eterno e a beatitude. E não faria sentido que tudo fosse mutável e mal e também inconsciente de si mesmo. O Purusha se manifesta de muitas formas, uma delas é uma ondinha que nasce no meio do oceano infinito por causa de meio segundo de brisa: você e eu. Mas a gente costuma se iludir pensando que somos corpo, mente e alma e sei lá mais de fator X que nos torna únicos e especiais. Haja meditação para que esse erro seja corrigido, para sermos felizes!

 

A professora de Matemática vai dizer que combinando três pedaços não dá para fazer um universo, mas dá sim. Se os três pedaços forem os gunas. Tamas (inércia, paralisia, distração, sabedoria no meio da neblina espessa, o cavaquinho parado), Rajas (atividade, paixão, devoção e desejo, o dedilhar do cavaquinho) e Sattva (claridade, saúde da vida, felicidade terrena e conhecimento interior; e a composição do samba antes do artista pegar o cavaquinho).

 

A meditação e a sabedoria estão pegando fogo. Aproveite e jogue as sementes do seu passado no fogo e transforme-se em uma pessoa livre.

 

É possível agir sem que o jogo de dominó termine mal para mim? Sim. Na verdade essa é um dos principais ensinamentos hindus, o evitar as consequências cármicas negativas. Para isso basta ter a divindade como patrão e não esperar salário. Agir com desprendimento e generosidade, tendo como meta a harmonia com a divindade universal.

 

É um labirinto, portanto cuidado para não se perder. O primeiro e mais importante pensamento é o básico e primitivo “EU”. A partir daí você segue o caminho comum, mais pensamentos, dores, prazeres, sonhos e pesadelos, sair da cama, estudar, se casar, tomar uma cerveja com amigos para rir do Paulo que levou um drible no jogo de futebol... Mas... Mas... Se você, antes de dar o segundo passo no labirinto, perguntar “quem é esse EU?”; a situação muda. Mas atenção: é para perguntar e perguntar e perguntar e perguntar... Quanto mais você investigar QUEM esta pensando os pensamentos que VOCÊ esta tendo em sua mente, mais você ilumina a sua fonte original e isso aquieta a mente. “Mas e o perigo de ficar egocêntrico e isolado?” Mas é justamente o contrário: como a mente quer se conhecer antes de andar no labirinto, ela vai caminhar por ele tranquilamente. O labirinto será todo percorrido, mas você nunca perderá a sua fonte de água.

 

Pode parecer uma técnica prática pequena para ajudar na meditação diária, mas não é uma técnica prática pequena para ajudar na meditação diária. As canções são bonitas, de origem divina e são convites para o divino entrar/manifestar em forma de alegria e paz em você. Enfim, são músicas bonitas e é chique também porque elas são bem antigas. E ora bolas, siga a tradição iogue já que você está meditando!

 

Como a bateria do celular; se o seu corpo estiver suficientemente forte e purificado, do primeiro chakra (centro de consciência) perto do bumbum até o sétimo (o lótus de mil pétalas) no alto da cabeça será caminho da misteriosa energia kundalini. Aí como lâmpada você se ilumina mesmo. Meeeesmo!!!!

 

A prática ioga, naturalmente você já deve ter desconfiado, nada tem de ficar sentado em lótus sem fazer “nada”. Há muita atividade e muitos objetivos a serem alcançados. É difícil. Agora imagine a “ioga real”, a Raja Ioga. Imagine uma pessoa jovem, e mesmo uma pessoa adulta, ocidental, com internet e essa televisão por assinatura, tantos estímulos pelo celular, tantas imagens e desejos fortes o tempo todo; imagine escutar sobre paz interior e controle de pensamento? A pessoa iria achar um milagre. Bom, de certa forma é um milagre. Enfim, enfim, a Raja Ioga é algo complexo e amplo. Segue, como aperitivo, ou convite ou susto, a lista de estágios a serem percorridos aos praticantes. Sinta o drama: abstenções, observâncias, posturas, controle da energia vital, interiorização, concentração, meditação e iluminação. Deu aquele desânimo, não é? E eu que fui meditar e antes de começar, eu dormi? Mas é como observa meu amado Will Durant: as dificuldades estimulam os fortes. E é o seu caso.

 

Uma iogue é uma iogue, mas é também uma neurocirurgiã operando a própria mente enquanto vive normalmente. E para tornar a metáfora ainda mais fascinante, a profissional talentosa da medicina tem como bisturi mágico um presente da energia vital chamada prana (ou pranayama). Muito chique mesmo. Mas é exato: há uma mente a ser operada por meio da meditação. Cortar as partes ruins e assim iluminar-se.

 

Eu sou eu há muito tempo. O que não quer dizer que eu estou acostumado comigo mesmo sempre, ou que eu morra de amores por mim mesmo o tempo todo. Preciso escutar/aprender aquela música do Ultraje a Rigor: “eu me amo, eu me amo/eu não posso mais.../viver sem mim...”. Enfim, onde eu estava? Entre os ensinamentos todos ricos da ioga e a tradição hindu eu tinha que destacar o que é ensinado sobre a concentração. Como eu vivo no mundo da Lua eu tinha que destacar esse trem. Bom bom, concentração é a atenção fixada sobre um objeto. Normal começarmos com uma definição simples e direta. O grande jogo começa depois. Antes de qualquer coisa, beeem previamente, é preciso que você já esteja treinado na interiorização. Se o seu interior ainda estiver uma bagunça, não adianta. Depois é preciso saber que concentrar-se é duas partes: desligar os vários telefones do escritório e só depois você age escolhendo o alvo: pode ser um dos telefones, a janela, a agenda de contatos, uma carta sobre a mesa, o quadro que você nunca reparou direito... Dito isso uma nota sobre a iluminação: a iluminação é refletir a luz de tudo sobre você. Então quando alguém se ilumina não quer dizer que vira uma espécie de lâmpada, é mais se tornar uma espécie de espelho de tamanho infinito refletindo o tudo tudo.

 

Hari Dass tem uma lição para você:

Se você perseguir o mundo, o mundo fugirá de você.

Se você fugir do mundo, ele o perseguirá.

Naturalmente que a resposta para este dilema em minha opinião só pode ser dançar. Certo, Hari Dass?



Não perca a calculadora e nem o calendário, pois são exatos 25 anos estudando, mais 25 anos cuidando da família, aí tem 25 anos imitando o Henry David Thoreau no bosque do lago Walden e por último mais 25 anos renunciando qualquer coisa que realmente não presta.

 

Os hindus tem mais obstáculos a enumerar do que os budistas, mas ainda sim são menos que os sete pecados capitais da tradição católica. Os hindus têm cinco cascas de banana no caminho, são elas: aversão, desejo, egoísmo, ignorância e medo. O Mick Jagger não conseguia sentir satisfação porque não sabe que os sentidos do corpo são empregados não os mestres as quais devemos seguir. Como esperar no ponto de ônibus e pegar o ônibus errado. Dito isso é bom lembrar que a principal casca de banana que os hindus nos alertam que está no meio do caminho para nos atrapalhar é a ignorância. É que o mundo é tão atraente que nos puxa e prende, aí confundimos o brilho na careca do meu avô Waldir com o próprio sol. A consequência confundida com a causa. Ignoramos a fonte Self.

 

Não somos passageiros deste mundo, passageiros apenas viajam e olham pela janela. Tiram fotos e perguntam sempre as mesmas coisas aos guias turísticos. Não, não. Sim, não há morte ou nascimento. Mas não somos passageiros deste mundo, somos uma empregada doméstica que sabe amar. Uma empregada doméstica que sabe amar o trabalho, a família dona do castelo; mas que sabe que sua verdadeira casa é em outro lugar. Captou a metáfora? Não somos passageiros deste mundo, somos uma empregada doméstica que sabe amar. Gostou da lição? É do Sri Ramakrishna.

 

Eu ia chamar um vizinho, um colega de trabalho, a moça que fica na rua vendendo pipoca doce, um político do Partido Liberal, mas resolvi ser contemporâneo (outubro de 2023): somente quando o líder do... Ah... Não quero dizer o nome de dois dos nomes principais do atual conflito Israel-Hamas. Não é hipocondria jurídica é desânimo mesmo. De um lado pessoas morrendo, do outro pessoas gritando um monte de m* sem parar. Até casos de antissemitismo no Brasil essa guerra sórdida anda produzindo. Inacreditável. Enfim, onde eu estava? Quando a gente sentir unidade profunda com as outras pessoas o amor divino irá brotar em nós. Antes não. Politeísmo difícil: divindade em todas as pessoas.

 

O guru deve saber que por trás de estudantes insuportáveis que não conseguem nem chegar no horário das aulas, há a manifestação do Self perfeito sim. O guru tem que ser um exemplo de humildade e equilíbrio. Muitos são o que se dizem gurus, poucos são os gurus de verdade. Vou reconhecer o meu? Queria ter mais de um. E você que me lê, sabe reconhecer uma lâmpada humana no meio da floresta escura?

 

Agora vai uma citação porque ela é um elogio que não é leve ou diplomático.

A maior importância da Ioga está na eficácia prática das técnicas. A experiência, mais do que o conhecimento teórico, constitui a essência da Ioga. As diversas disciplinas da Ioga incluem práticas apropriadas para virtualmente todos os indivíduos, tenham eles uma disposição emocional, intelectual ou ativa. Nenhuma outra doutrina contém métodos tão diferentes para desenvolver a autodisciplina, adquirir um sentido de paz interior e atingir a auto-realização.

(James Fadiman e Robert Frager em Teorias da Personalidade [página 334, traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda]).

 

A primeira vez que Sri Ramakrishna viu a Grande Mãe foi justamente no momento em que ele queria terminar tudo pegando a espada no templo e... Como um sol aparecendo de repente no quarto escuro Ela apareceu a ele. Seu coração não era mais uma toalha molhada torcida, escorrendo todo o ânimo, todo amor que queria sentir e praticar neste mundo.

 

Uma vez Ramana Maharshi sentiu tanto tanto medo da morte acabou que olhando para si mesmo de um jeito tão intenso que ele viu ele ele ele ele e além. Ele viu o Grande Ser. E era só o Grande Ser que existe. Só. Então para quê sentir medo da morte? Sentir medo?

 

Ao praticar o ascetismo cuidado para não machucar-se por vaidade. Quando vê, além do corpo machucado você está com o ego enorme. Justamente o contrário do que devia ser: corpo em paz e humildade.

 

Feche os olhos, pare, respire devagar, deixe o exterior virar interior virar exterior e... E as imagens são belas: “a pulsação da vida infinita e universal atravessando o seu corpo com o seu sangue”, “você cria um mar de Amor e depois convida todas as pessoas do mundo a nadar” e “o lago da paz transborda em um dilúvio inesquecível”.

 

Agora é a parte dos livros que vocês vão comprar para mim.

(Se eu tivesse que escolher, supondo que eu tivesse que escolher e supondo também que houvesse uma diferença... Eu escolheria, entre zen-budismo e a ioga, o zen-budismo. Mas aí reparo que na bibliografia comentada e na bibliografia geral, eu destaquei mais livros no capítulo “Ioga e a Tradição Hindu” do que no capítulo “Zen-Budismo”. Por quê? Não sei. Mistério! E que bom que terminamos com um mistério. Nada de respostas prontas e finais no final aqui. Que bom que terminamos com um mistério.)

Aphorisms of Ioga by Bhagwan Shree Patanjali, organizado por Swami Purohit (1938, Editora Farber, Londres).

The Sciense of Ioga, de I.K. Taimni (1961, Editora Quest).

Yoga and Beyond, de Jeanine Miller e G. Feuerstein (1972, Editora Schocken, Nova Iorque).

All Men are Brothers, de M. Gandhi (1958, UNESCO, Paris).

The Yellow Book, de Hari Dass (1973, Lama Foundation, San Cristobal, Novo Mexico).

Ramakrishna: Prophet of New India, de Swami Nikhilananda (1948, Editora Harper & Row, Nova Iorque).

Ramana Maharshi and the Path of Self-Knowledge, de A. Osbourne (1970, Editora Weiser, Nova Iorque).

Sayings of Sri Ramakrishna, de Ramakrishna (1965, “Madras, India: Sri Ramakrishna Math.”)

The Religions of Man, de H. Smith (1958, Editora Harper & Row, Nova Iorque).

Metaphysical Meditations, de Paramahansa Yogananda (1967, Editora Self-Realization Fellowship, Los Angeles).

Saying of Yogananda, de Paramahansa Yogananda (1968, Editora Self-Realization Fellowship, Los Angeles).

Spiritual Diary, de Paramahansa Yogananda (1969, Editora Self-Realization Fellowship, Los Angeles).

The Autobiography of a Yogi, de Paramahansa Yogananda (1972, Editora Self-Realization Fellowship, Los Angeles).

 

 

 

Livremente inspirado em “Segunda Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 11 “Ioga e a Tradição Hindu”. Do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, escreva e participe!