quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Antologia do Folclore Brasileiro 4 de 25

 

Antologia do Folclore Brasileiro 4 de 25

 

Gaspar van Baerle (1584-1648) (Barléu), sofreu na pele a perseguição religiosa na Holanda e na Bélgica e também é fonte indispensável para quem quiser conhecer o que foi o Brasil-Holandês.

 

 

As mulheres-peixe Ipupiaras vivem no litoral do nordeste brasileiro, principalmente na Bahia. Por afeto e desejo apertam os homens que encontram à noite distraídos à beira do mar até a morte. É possível ver na manhã seguinte os cadáveres na praia com sinais de sucção e mordedura em seus corpos. Amor monstruoso e mortal!

 

 

E os tapuias tem em sua divindade a constelação de Ursa-Maior. Sorrisos, gritos de alegria e até dança quando a noite cai e a constelação se deixa ver. É a lembrança que se a morte não for violenta, terão as suas almas a imortalidade feliz. Uma tragédia que a raposa tenha tramado para que os índios acabassem criticando injustamente a Ursa-Maior, que acabou determinando o fim da vida no paraíso que os índios Tapuias desfrutavam.

 

 

Das gentes monstruosas que o padre Simão de Vasconcelos encontrou pelo Brasil, quando chegou de Portugal vindo da cidade do Porto.

Os minúsculos Goiazis, os Matuiús que fazem parte da família dos Curupiras. E elas, claro claro, as Amazonas que “são mulheres de valor reconhecido”.

 

 

É confuso. É Giovanni Antônio Andreoni, mas também João Antônio Andreoni e também André João Antonil. Luís da Câmara Cascudo menciona João Antônio Andreoni (1650-1716) na pequena biografia de introdução ao capítulo, cujo título é simplesmente “Antonil”. Para piorar o trem sou informado que o historiador brasileiro João Capistrano de Abreu a “identificação do criptônimo” em 1886. Mas não consegui a confirmação a respeito deste detalhe envolvendo este elemento químico e o nosso maior historiador (Eduardo Bueno). De qualquer forma, o principal é que Antonil escreveu Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, que foi censurado pelo governo português e só foi relançado mais de um século depois. Procure a edição moderna com as anotações de Afonso de E. Taunay.

 

 

Apenas três coisas: os três P.P.P.: pano, pau e pão. Isso antigamente no Brasil para quem realmente trabalhou para construir este país. Hoje, em 2023, a que está reduzidos os trabalhadores pobres no Brasil enquanto constroem e sustentam o nosso país?

 

 

Não sabemos se Nuno Marques Pereira (1652?-1733?) era brasileiro ou português, mas em compensação sabemos que o seu livro Compêndio Narrativo do Peregrino da América é chato e piedoso; e principalmente uma obra-prima por revelar praticamente em sua totalidade a sociedade brasileira da época. Prova da qualidade do livro é que sua edição sexta, patrocinada pela Academia Brasileira de Letras, tem notas de estudo de autores do calibre de Pedro Calmon, Afrânio Peixoto, Rodolfo Garcia, Leite de Vasconcelos e Varnhagen.

 

 

E a festa dos Calundus Baianos não deixaram o NunO Marques Pereira dormir. Era muito muito muito muito barulho! E não era para menos uma vez que esta festa é de tudo um pouco: canto, dança, cerimônias religiosas para agradecer lamentar clamar por bons dias, lamentos e muito etc..

 

 

Aí o padre levou uma mulher possuída pelo demônio a uma igreja, para ali fazer a cerimônia de exorcismo. Preso entre quatro paredes do local santo, o demônio se sentiu acuado. Seguiu-se um diálogo em que o padre pergunta ao demônio o que ele sabe. E o demônio responde que sabe cantar uma modinha. E assim ele fez, cantando uma modinha. Que se registre que tudo terminou bem para uma mulher.

 

 

Era uma Noite de Santos Reis e a procissão de músicos saía de casa em casa cantando e tocando e pedindo doces e aplausos aos moradores. Ocorre que alguns jovens, que acompanhavam a procissão de artistas, não aguentaram a sua qualidade musical e começou a jogar pedras e a chutar os pobres músicos. Estes tiveram que sair correndo. Naquele ano a Noite de Santos Reis terminou bem mais cedo.

 

 

Atenção, muita atenção agora que nosso piedoso e sério Nuno Marques Pereira gostaria de fazer uma advertência. Então aí tá lá a procissão religiosa, muitas pessoas, famílias, autoridades, sacerdotes, a cidade inteira, o Santíssimo Sacramento. Coisa linda de se ver. Mas a devoção e a reverência perde a competição para as músicas e danças lascívias que ocorrem em toda a procissão. Que vergonha! Isso é uma vergonha!

 

 

“... o Conde de Sabugosa, Vasco Fernandes César de Menezes (1720-35), estando governando a cidade da Bahia, por ver umas festas...”

Pausa.

Conde de Sabugosa! Conde de Sabugosa! Ahhhhh!!!!

Desculpem. Eu devia ser um escritor mais sério. É que a história do Brasil as vezes me dá susto. Desculpem.

Onde a gente tava?

O Conde de Sabugosa proibiu a Festa de São Gonçalo por achar esta muito indecente e bagunçada.

 

 

 

Livremente inspirado em Antologia do Folclore Brasileiro, 1944, organizado pelo

Professor dos professores,

o mestre dos mestres,

a mistura de Aristóteles e poesia,

a mistura do luar que perfuma o rio Potengi com o sol que vivifica o Rio Grande do Norte:

Luís da Câmara Cascudo.

(2003, Global Editora e Distribuidora Ltda, São Paulo, edição em dois volumes.)

[4 de 25].

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Zen-Budismo 4 de 10

 

Zen-Budismo 4 de 10

 

Não existe coincidência, o que existe são momentos em que há falta de interpretação poética do que acontece na vida. O que marquei para destacar nesta nossa apresentação do zen-busdismo nesses dias que o mundo pega fogo justamente com o Oriente-Médio?

 

“Os prazeres divinos não extinguirão as paixões. O encanto repousa apenas na destruição do desejo.”

The Dhammapada. Tradução de P. Lal. Editora Farrar, Straus & Giroux, 1967, Nova Iorque.

 

Nota Editorial

Eu sou mais marmota do que normalmente eu sei que sou. Não são 10 partes, eu dividi tudo em 28 partes. Felizmente a Matemática ajudou-me: se cada uma das últimas 7 partes tiver 7 partes escolhidas do texto, o trem fica certo. Então lá vai mais seis partes da nossa apresentação do zen-budismo.

 

Que a luz venha de fora e que depois nós sejamos a luz do mundo. Passivamente aqui na Terra até que todos também estejam emitindo luz da ausência de sofrimento.

 

 

Um discípulo pergunta ao seu mestre zen.

- Um cachorro tem natureza Buda ou não?

- Au! Au!

Não é “sim” ou “não”. Não é olhar o dedo apontando a Lua, é olhar a Lua. Não é se perder em perguntas e respostas, o labirinto da lógica. É olhar olho no olho a sua própria ignorância para encontrar a sabedoria interna em você mesmo.

 

 

Mas é assim mesmo. Mas escapar do labirinto é difícil. Existem perguntas, existem respostas, existem conceitos, provas, demonstrações, axiomas, teoremas, contradições, paradoxos, dilemas e etc. Assim como preguiça, ódio, tentações, desejo e etc. Mas se transcendermos a mente e o corpo, Buda desabrocha em nós imediatamente.

 

 

Livremente inspirado em “Segunda Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Crise Israel-Palestina, outubro de 2023


 

Crise Israel-Palestina, outubro de 2023

 

Uma ocupação que já dura 35 anos. Uma política de anexação e aniquilamento de uma nação, com assentamentos de colonos que paulatinamente vão estrangulando o território palestino; já são 66 as colônias judaicas na Palestina. Uma política de aniquilamento da economia, de confisco de terras e fontes de água, preciosas numa região árida. Uma política de repressão, de negação de direitos civis, prisão de líderes, de intelectuais, fechamento de universidades, toque de recolher e instalação de postos militares que impedem a livre circulação da população no seu próprio país. Um êxodo estimulado: só no primeiro semestre de 2002, 80 mil palestinos abandonaram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. E uma imposição inédita na história de qualquer ocupação já ocorrida na humanidade: o invasor exige garantias de segurança do invadido.”

(Deus é inocente: a imprensa, não (2002); de Carlos Dorneles. Quarta reimpressão (2005), Editora Globo, São Paulo, São Paulo. Página 238. Sinto a obrigação de dar os créditos a Roberto Kazuo Yokoda, pela sua belíssima capa. Uma das mais bonitas que tenho em minha biblioteca pessoal. As fotografias são do banco de imagens Corbis Stock Photos.)

Percorrendo a Terra com seu carro cheio de mentiras, astúcias e enganos, Hermes examinava a carga para distribuí-la igualmente entre todos os povos. Mas, quando chegou à Arábia, o carro quebrou-se inesperadamente. Os habitantes pilharam a carga como se se tratasse de bens preciosos e o deus interrompeu ali sua viagem.

Entre todos os povos, os árabes são os mais espertos e mentirosos: a verdade não fala por sua boca.” (O Carro de Hermes e os Árabes)

(Fábulas; Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna. 1997; minha edição é de 2002. Página 92. Editora L&PM. Porto Alegre, Rio Grande do Sul.)

Depois desta demonstração adolescente de imparcialidade, peço a devida vênia aos justos e às almas sebosas de ambos os lados. A minha carne é fraca. De qualquer forma, se alguém achou graça eu continuo e recomendo o romance O Grande Líder, do escritor Fernando Jorge. O personagem principal é um político ambicioso e inescrupuloso; em determinado momento, em busca de apoio, ele vai a reuniões ora de judeus e ora de árabes, criticando um grupo quando está diante de outro grupo. É um romance muito gostoso de ler. Fernando Jorge até chega a ser relativamente famoso, mas evidentemente estamos esperando ele encantar-se para darmos a ele os seus devidos louros. Coisas do Brasil.

 

 

Antes de tudo; os meus sentimentos às famílias e amigos dos mortos e feridos dessa crise Israel-Palestina-outubro-2023. Antes de tudo; que sessem imediatamente as hostilidades e que se comecem as negociações; ou a vitória na Terra Santa é sinônimo de eliminação completa de um lado?

 

 

Com todo o respeito, mas os números oficiais da guerra fornecidos por Israel estão sendo repetidos pela imprensa sem questionamento. E por que essas menções precipitadas desde o início da crise ao Hezbollah e ao Irã na televisão? É para a opinião pública mundial começar a se acostumar com a ideia do que exatamente? Um conflito armado, mesmo que “pequeno” ou “médio”, contra o Irã por parte de Israel e Estados Unidos seria um recado à Rússia e China, também? Como disse o personagem de Sean Penn Cheyenne no filme maravilhoso “Aqui é o meu lugar” (This must Be the Place, 2011, Paolo Sorrentino, Umberto Contarello, Olwen Fouéré, Judd Hirsch e etc.): “Há alguma coisa muito errada aqui; eu não sei o que é, mas que há, há.”

 

 

É impossível ignorar que Joe Biden e Benjamin Netanyahu estavam vivendo crises políticas agudas em seus governos e um ataque injusto externo estimula o patriotismo e uma trégua política interna.

“A comunidade internacional demonstra apoio e blábláblá...”. Por “comunidade internacional” leia-se os países ricos de sempre: Inglaterra, Itália, França e... Espere um pouco, que países europeus estão tendo crises migratórias principalmente com pessoas... Ah... E por último, mas não menos importante, a parcialidade e falta diversidade da imprensa brasileira: as imagens são as mesmas da CNN Internacional e os entrevistados são os mesmos. Só ontem, dia 9 de outubro, na tv lembraram-se de entrevistar uma liderança árabe no Brasil aparecendo para dizer que a comunidade não apoia a violência. A CNN Brasil, inclusive, tem uma posição tão pró-Israel que chega a ecoar a crítica rasteira de alguns bolsonaristas que acusam o Governo Lula de não ser justa com Israel. Eu sou formado em jornalismo e me sinto obrigado a aqui a investir em um contexto: desde a cobertura da imprensa na Guerra do Vietnã (1955?-1975) e na tentativa de invasão dos Estados Unidos ao Camboja (1970) influíram radicalmente na política, a cobertura imparcial de grandes conflitos armados ficou cada vez mais difícil e raro. Queda na cobertura dos conflitos da América Central em meados do início dos anos de 1980. E na Primeira Guerra Estados Unidos – Iraque, início dos anos de 1990, só restou às imagens das luzinhas verdes. Na invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão e na Segunda Guerra Estados Unidos – Iraque, em meados dos anos 2000, o negócio foi completamente patético. Jornalismo virando eco dos poderosos.  Então, em 2023, a imprensa vai mostrar o que aconteceu na Faixa de Gaza e em Israel realmente?

Dito isso, algumas perguntas de caráter socrático mesmo, dado que não sou especialista. Mesmo porque, em se tratando de guerra, é difícil que alguma informação seja confiável.

Benjamin Netanyahu vai destruir a Faixa de Gaza como Ariel Sharon destruiu a Cisjordânia nos anos 2000?

Por que os palestinos não conseguem encontrar lideranças que sejam ao mesmo tempo justas e fortes? Se antigamente acusavam Arafat de corrupto, hoje dizem o mesmo do Abbas. Mais do que isso, ambos eram fracos politicamente (Arafat nos últimos anos, eu lembro, era fraco). Aliás, nem lembro quando foi a última vez que vi o Abbas na televisão ou li sobre ele. Nem o Abbas e nem toda a Cisjordânia, para ser franco. Não é só a cobertura incompetente e preconceituosa da imprensa brasileira ou é?

Os palestinos árabes são amados por outros árabes e mulçumanos? Quer dizer, o Egito não é tão pobre assim e a Faixa de Gaza é quase uma cidade média. Não seria fácil para o Egito, sozinho, transformar a Faixa de Gaza em um lugar próspero? E o Egito é aliado de Israel. Assim como a Jordânia também é aliada de Israel. A Jordânia ajuda com sinceridade o povo árabe palestino a ser próspero com sinceridade na Cisjordânia?

Os árabes se sentiram traídos pelos ingleses durantes as negociações no fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)? Também as negociações no fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e um episódio como o Plano Madagascar levaram os judeus à impressão de que, apesar de todo apoio dos Estados Unidos e outros países poderosos, em última análise eles estão sempre sozinhos?

 

 

Existe um documentário francês muito bom chamado “Palestina – A História de uma terra”. Passava na TV Escola. É ligeiramente favorável aos árabes, mas também é sincero e bem feito. Vale a pena assistir. E tem o livro “A Guerra dos Seis Dias” do A. J. Baker, parte da série lendária da Editora Renes. Ah, Editora Renes... Para obedecer à coerência, li este livro sobre a Guerra dos Seis Dias em um dia.

E antes de terminar mais este texto meu que vai salvar o mundo, deixe-me expressar o desespero meu de saber que a proibição do casamento homoafetivo avança rápido em Brasília. Falta Amor no Oriente Médio e falta Amor em Brasília. Precisamos de mais Amor.