segunda-feira, 5 de abril de 2021

Carta sobre a Felicidade, séc. 4aC

 

Carta sobre a Felicidade (a Meneceu)”; de Epicuro (341?a.C. - 270?a.C.)

Apresentação e tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore.

(Editora Unesp, segunda reimpressão da sua primeira edição; 1997; São Paulo)

((“Texto baseado na edição de G. Arrighetti, Epicuro. Opere, Torino, 1973.”))

((( Vale a pena, ainda, mencionar o tipo de papel utilizado porque ele é bonito e gostoso de manusear. Tornando-se, portanto, um dos destaques da experiência afetiva da leitura deste livro. O papel é o “Pólen 80 g/m2”. E já que estamos aqui, registrar que o livro é minúsculo e fino; um dos livros menores e mais finos que eu tenho. Mais um detalhe afetivo que tornou, - e torna -, a sua leitura toda especial.)))


Ser feliz é comer sem medo apenas um bombom depois da sopa sem graça durante o Carpe Diem.

Não entendeu? Vou explicar.

As vezes você pode acrescentar vegetarianismo, uma viagem só com uma mochila e pouco dinheiro no bolso pela Índia, algum tempo em uma fazenda comunitária no interior do Paraná ou uma comunidade de surfistas no litoral da Califórnia, Estados Unidos. Você pode, mas isso não é exatamente fundamental. Fundamental fundamental meeeesmo é decidir comer um bombom, não ter medo e o Carpe Diem!

Ainda não entendeu? Então vai mesmo a explicação mais longa.


Eu anotei “2001”, pois costumo anotar o ano em que compro determinado o livro; mas as vezes me esqueço e isso gera confusão nas datas. Não sei se foi 2001 mesmo ou foi um ano antes. Será que ainda estava no colégio ou já tinha sido convidado a retirar-me de lá e eu já estava no supletivo? Acho que foi 2001 mesmo. Ainda estava no colégio e já vivia um caso indecoroso com a filosofia.

Comprei este livro após assistir a uma palestra sobre Epicuro na Puc-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Sobre a palestra lembro-me apenas de um detalhe: eu era um dos mais jovens na plateia e, com sono, quase dormi justamente na hora em que o palestrante olhou para mim. Eu estava sentado algumas cadeiras atrás da primeira fileira, mas eu estava numa posição central. Espero que o palestrante não tenha se sentido ofendido, pois eu gostei de ter ido. Logo depois da palestra, do lado de fora, havia uma barraquinha vendendo livros e foi ali que comprei a “Carta sobre a Felicidade”.


O epicurismo é uma escola de pensamento que se destaca entre outras escolas de pensamentos por vários motivos, mas há dois motivos mais citados entre os estudiosos. Um é que ele é quase idêntico a uma postura liberal moderna não religiosa muito comum no Ocidente, o que não é pouco dado que Epicuro viveu séculos antes de Cristo. E outro motivo é que sendo criação de Epicuro, pouquíssimas alterações na doutrina aconteceram nesses séculos todos mesmo com tantos epicuristas que apareceram depois. Mais de dois mil anos e praticamente nada mudou! Incrível! Claro que Cristo e Marx, por exemplo, podem torcer o nariz e dizer que isso é sinal que a doutrina epicurista é uma pedra pobre e blá bláNão deixa de ser uma crítica razoável.


Mas qual é a doutrina da escola de pensamento epicurista? Ela é ampla, cobrindo com suas opiniões campos como a lógica e política; mas é na ética que o epicurismo mais encantou a posteridade.

E o que a ética epicurista ensina, resumidamente? Bom, é um bom senso materialista temperado com ascetismo e defesa da liberdade e independência humana. Um detalhe encantador é o apelo de que somos livres e que devemos ser independentes; e de que não precisamos temer nem a morte, nem o acaso e nem o destino.


- Depois daquela sopa no jantar, quente demais e cheia de legumes demais; eu como de sobremesa três bombons. É a melhor parte! Devo então comer apenas um bombom? É esse o “espírito”, o “refrão” da coisa?

- É por aí. A questão é evitar “eu preciso sempre dos três bombons”, mas também evitar contentar-se com um bombom porque acredita que no futuro você poderá ter apenas a opção de um bombom. Não é isso, não é essa postura diante do futuro. É para ser independente em relação ao seu gosto por bombons. Eu consigo comer só um bombom e fico feliz com isso. Saber desejar os bombons na hora que a sobremesa chegar e não sofrer por causa disso. E vai ser até mais gostoso quando você decidir, racionalmente, comer dois bombons ou mais as vezes.

- Essa moderação quanto aos desejos… Essa postura racional, esse “sangue frio” diante do mundo e do futuro… Lembro aqui do estoicismo. O epicurismo e o estoicismo tem muitos pontos em comum, mas quais seriam as diferenças?

- Duas diferenças importantes é que no epicurismo o apelo que o humano é livre é fundamental e outra diferença é a postura de Epicuro diante dos deuses. É meio ambíguo. Acreditando no materialismo de Demócrito, seria coerente dizer que os deuses não existem; mas acho que isso também seria meio perigoso para os membros do epicurismo... Então Epicuro diz que os deuses do Olimpo podem servir de inspiração para o nosso desenvolvimento moral e boas obras que queiramos realizar, mas não podemos esquecer que os deuses estão na deles e não ficam preocupados em nos punir ou nos ajudar. Mas já que foi mencionado a escola de pensamento estoica, é digno de nota que quando o cristianismo tornou-se hegemônico no mundo latino e grego; entre o estoicismo e o cristianismo houve mais afinidades. Por outro lado, o cristianismo e o epicurismo nunca se deram muito bem e por pouco as palavras de Epicuro se perderam durante o período medieval. Embora não seja um “malvado”, não é difícil descobrir porque um epicurista não era bem visto por um cristão: a divindade é indiferente a nós?, um desejo não é intrinsecamente bom ou ruim depende do bom senso?; a morte é nada?


Alguns detalhes que eu achei mais interessantes na biografia de Epicuro.

Começou a estudar filosofia já aos 14 anos e a influência platônica foi grande no início. Não era exatamente um “imigrante ilegal”, mas sofreu junto com sua família um pouco como se fosse um nas terras gregas. Teve formação militar e foi amigo de um importante dramaturgo. Uma vez queria instalar a sua escola em um local, mas os aristotélicos que moravam na região e ensinavam ali não gostaram e o expulsaram. Em outro lugar o mesmo quase aconteceu com uma escola platônica, mas aqueles platônicos foram tolerantes. O famoso “Jardim de Epicuro”!: casa coletiva para os mestres, horta ampla e onde o pessoal que vinha de muito longe estudar o estoicismo podia armar uma barraca e dormir. É, parece mesmo uma comunidade alternativa meio hippie (filhos das flores).


Na sua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?

A linguagem de “Carta sobre a Felicidade” é clara e direta, mas essa virtude pode virar defeito se a leitora ou o leitor não prestar a atenção. O texto pode parecer vago demais ou óbvio demais. É preciso querer compreender, manter o senso crítico e ao mesmo tempo abrir a mente, é preciso silêncio interior. Desafio semelhante acontece com quem não lê com atenção “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu; a profundidade daquelas metáforas orientais escorrem pelos dedos dos leitores apressados e/ou arrogantes.

Há um elemento fundamental aqui no epicurismo: a prudência aliada com uma profunda racionalidade. Como ter o conhecimento seguro para discernir entre os desejos quais são os naturais, os inúteis, os necessários, aqueles que vão nos prejudicar daqueles que promovem a vida? É óbvio que a resposta “duas roupas, só miojo, um par de sapatos e as estrelas como teto” não é tudo. É preciso saber discernir sempre. Outro elemento fundamental no epicurismo é seu conceito de “eu”, da “consciência”; pois é assim que ele baseia-se para ensinar-nos que não devemos temer a morte (não estaremos presentes na hora) e a dor física (ou é pouca e superamos ou grande demais e aí deixaremos de sentir e será uma espécie de “sono”). Discernir os desejos; e o conceito do “eu”. No Jardim de Epicuro, você não pode faltar às aulas quando os mestres ensinarem essas matérias.


Uma nota final. E ela vale também para o estoicismo. Se você quiser um pouco de epicurismo em sua vida em 2021 você não pode esquecer de ficar atualizado quanto às notícias sobre ciência. Tanto epicuristas quanto estoicos orgulhavam-se, em suas épocas há séculos e séculos atrás, de ter certeza de como funcionavam as estrelas e a vida dos cavalos. Então, na hora de fazer a “transição” para 2021 respeitando os antigos mestres, do epicurismo ou estoicismo, é necessário ficar atualizado com as nossas notícias sobre galáxias e genes.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Amigos do Palhaço Benjamin

 

MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 7

- Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” e séries como "Holocausto A Saga da Família Weiss" e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


11 - - Notas do meu caderno, depois que abandonei parte do material que eu tinha guardado (por motivos de espaço).

Os músicos Ratnabali Adhikari, Maurício Tapajós, Sérgio Sampaio, Sidney Miller, Tenório Júnior, Torquato Neto, Isaura Garcia e Vassourinha (procurar a música “Juraci”) e Patápio Silva.


- A Orquestra Cyclophonica.


- COURO DOS ESPÍRITOS – Índios Gavião Ikolens (Roraima), antropóloga Betty Mindlin e Editora Senac.


- Os poetas João Batista Jorge e Jovino Machado.


- O palhaço de circo Benjamin de Oliveira. Um artista realmente revolucionário.


- A ARTE DO DESEJOSimone Ostrowski.


- O artista plástico Marcos Coelho Benjamin.


- Procurar o filme dirigido pela cantora e compositora Pitty.


- O projeto DIÁRIO DE BORDO, de Lieli Loures, Raquel Alvarenga e Ineo Matsui.


- O documentário Hotxuá, de Letícia Sabatella. É sobre os índios Khahôs (Tocantins).


- O curta-metragem Avante, Camaradas!, da Micheline Bondi; conta a história de como um hino comunista em homenagem a Prestes, - composto pelo Antonino Espírito Santo –, foi adotado pelo exército brasileiro como um de seus hinos mais populares.


- Uma cientista que amava o Brasil: Johanna Dobereiner: escrevia muito e ela foi uma das responsáveis pelo Brasil ser hoje um dos campeões mundiais de cultivo de soja.


- O livro A Idade do Ouro do Brasil, de Charles R. Boxer.


- A cantora Claudia Manzo.


- Dois livros de Joaquim Felício dos Santos: Acayaca 1729 e Memórias do Distrito Diamantino.


- O Brasil e a Questão Judaica, de Jeffrey Lesser.


- As cantoras Paula Lima, Daúde, Arícia Mess e Clementina de Jesus.


- O escritor José Agrippino de Paula.


- Há um autorretrato em que o Van Gogh pintou-se igual ao Stifer de American Pie.


- Artistas estrangeiros apaixonados pelo Brasil: Carybé, Curt Lange, Franz Krajcberg, Jeanne Milde, Mika Kaurismaki, Toshiko Ishii, Nicolas Krassic.


- O filme “Princesas”. É sobre a importância da amizade.


- O livro-CD Desenrolando a Língua, da instrumentista, compositora e cantora Anna Ly.


- Autorretrato do Brasil, antologia de obras organizada por Marcio Rebello.


- Compositora e cantora Lisa Ono.


- Conhecer a obra teatral de Antônio Callado e não ficar exclusivamente em seus romances.


- Dois livros de Luiza Meyer dedicados ao público infantil.


- Geraldo Pereira. Ele é compositor e cantor.


- O instrumentista Raphael Rabello.


- O escritor Octávio Tarquínio.


- As notas estão vagas, eu poderia ter buscado mais detalhes na internet. Eu vou e sei que os leitores não são tão preguiçosos quanto eu. Eu escrevi este texto quando eu estava sem internet. Para bom entendedor tudo pode se transformar em um bom mapa a indicar um bom caminho.

Uma Nota Importante

 Este é um blog cultural, praticamente uma terapia ocupacional para mim (assim como a loja de artesanato e a fotografia?). Cultura é onde sinto-me a vontade. Mas não sou e não quero aqui mostrar-me alienado quanto à política. Talvez seja vaidade uma vez que não sou influente e pode parecer bobo um testemunho de "a mim, pelo menos, eles não enganaram!". Mas vejam, tem presidente de república latino-americana que nesta semana mostrou os dentes como nunca tinha mostrado antes. Aconteceu nada depois e é provável que não aconteça; mas lembro-me da primeira lição de "O Antigo Regime e a Revolução" do Tocqueville: humildade, nem Frederico o grande precursor da Revolução Francesa previu que ela estava chegando. A gente tem que ser humilde. Mas deu para perceber que nesta semana a tensão foi como nunca antes em décadas.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

O Dentista Amoroso

 

MEU ARQUIVO DE MATERIAL JORNALÍSTICO: VEREDAS 6

- Um pouco de história. Começou com o meu pai, professor de geografia e história. Ele costumava guardar recortes de jornais e revistas. Além disso ele e eu gravávamos vários programas de televisão em fitas VHS: filmes de arte por causa de suas histórias, filmes ruins por causa de seus efeitos especiais, vídeos engraçados do "Domingão do Faustão", reportagens, documentários como “Xingu primeira série” e séries como "Holocausto A Saga da Família Weiss" e etc. Em 1998 o videocassete já estava estragado e as fitas abandonadas. Meu pai se afastou do magistério em meados de 2005, mas os recortes e revistas e jornais antigos foram abandonados muito muito antes. Mas minha memória fazia o antigo prazer de guardar pedaços da história humana ainda pulsar e, quando entrei na faculdade para estudar jornalismo; cismei que montar um arquivo de material jornalístico poderia ajudar-me a fazer o meu jornal.

Acabei juntando alguma coisa. Querem conhecer? Vamos lá.


10 - Se não fossem os dentes, não acharia a mulher tão linda. “Isso é carência e manifestação do desejo egoísta de que só você ache ela bonita e que, portanto, só você mereceria o desejo recíproco por parte dela. Carência, desejo egoísta e medo de traição.” Ah, cale-se Freud e fique com o seu charuto recalcado! Mas onde estávamos?

"Fundo de Apoio à Cultura apresenta FESTIVAL DO TEATRO BRASILEIRO Programação Gratuita! Residência, oficinas, encontros e apresentações Cena Distrito Federal XIX Edição Etapa Minas Gerais Belo Horizonte 07 a 27.08.17"


É um fôlder gigante, um dos maiores que já vi na vida. Pelo formato retangular seria um bom marcador de livro para o também gigante "Toda a Mafalda" que eu tenho. A fotografia foi realizada pela Rayssa Cole, mas não há identificação de qual é o espetáculo em que a mulher na fotografia atua. Seria uma propaganda injusta, é o que o pessoal que fez o fôlder deve ter pensado. Meu palpite é que seja um espetáculo de dança, pois há muita sugestão de movimento na fotografia.


Mas vamos lá, treinando a descrição para uma possível carreira de romancista. Ela deve ter trinta e poucos anos, pele clara, cabelos lisos escuros e que não parecem crescer muito além dos ombros. O vestido tem um desenho simples e é todo marrom.

Os olhos têm aquela maquiagem popular, de dois traços grossos e negros longos e paralelos e horizontais. “Maquiagem egípcia” é como se diz? A falta que faz uma irmã ou amiga! Discreto e também marcante.

O seu nariz é naquele formato que confunde nosso desejo: morder, beijar ou cutucar carinhosamente num “beijinho de esquimó”? Na dúvida: você faz tudo isso duas vezes.

O suor. O suor que faz o peito brilhar ao refletir a luz do palco. Suor também denota movimento, trabalho, intensidade; força por parte desta mulher.

(Mas qual era o nome do espetáculo, pessoal do fôlder! Ah! Preciso ir ao teatro, preciso assistir a espetáculos de dança! E eu tão vaidoso quanto a minha formação humanista…)

A sua boca. Nem sei descrever se aqueles lábios são grossos ou finos; e meu orgulho estilístico de escritor iniciante impede-me de registrar “medianos” ou “normais” e igualmente de sair pela tangente com um “perfeitos”. Embora eles sejam perfeitos mesmos. Eles estão tortos, sugerindo que ele estava dizendo algo enquanto dançava ou tentando expressar algo enquanto dança. Mas isso é trocar seis por meia dúzia, porque sabemos que a dança é mais uma forma de expressão humana.

Eu quero terminar aqui com a recomendação a mim mesmo que devo ir mais ao teatro. Já assisti, pela televisão, a um balé moderno sobre a Pequena Sereia e a Cinderela, além de um espetáculo do Grupo Corpo; mas isso é muito muito pouco.