segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Água para Tsai e Shimon

ÁGUA PARA TSAI E SHIMON


HISTÓRIA DAS CAVERNAS AO TERCEIRO MILÊNIOMyriam Becho Mota e Patrícia Ramos Braick, 1998.

(1a. Edição, 1998, Editora Moderna Ltda, São Paulo, SP.)


A sorte do Carlos Fernandes e do Frank Lynch estava dentro de uma caverna a 1500 metros de altitude, na ilha de Mindanao (Filipinas). Era 1971 e eles encontraram um grupo humano que vivia como nossos mais antigos antepassados. Os tsai.

Grupo pequeno, recolhem alimentos, tem poucos instrumentos, alguns casais (hétero afetivos) e nem sinal aparente de práticas religiosas. Simples simples mesmo, pois para o trabalho de recolher alimentos uma manhã basta; tendo o resto do dia para descansar e conversar. Nem formas de liderança foram encontradas, sendo as decisões na base da conversa e consenso simples: como um grupo de moleques decidindo se foi pênalti ou não em uma partida de futebol na rua. Bem simples.

Bom, isso é maravilhoso. Longa vida aos tsai! Que a gente os ajude da forma que for melhor para eles! Se eu algum dia vou visitar as Filipinas? Nem penso nisso. Agora é interessante observar que se eles desconhecem agricultura e caça, ficam muito muito vulneráveis aos “humores” da floresta. Assim; e se chover demais ou de menos? Se uma planta ou animal estranho ao local aparecer e mudar a ecologia do trem lá? Imagino que isso já tenha acontecido e a solução dos tsai tenha sido mudar de lugar. Um paraíso, mas um paraíso meio delicado... Outra coisa é que o grupo é pequeno e isso é fundamental na estrutura social deles. Um paraíso, mas um paraíso meio delicado... Mas é maravilhoso! E numa caverna a 1500 metros de altitude!

No Brasil temos os índios txucarramãe, mas por mais que na legenda da foto fale em atitudes paleolíticas; não é possível ignorar que a mulher na fotografia usa um vestido beeeem não-indígena. A fotografia foi realizada pelo Arthur F. Costa.

Procurar informações sobre a Fundação Paramin.

Procurar o livro “900 Textos e Documentos de História”, de Gustavo Freitas (Editora Plátano, Lisboa, 1977.) Senhoras e senhores, olhem o nome deste livro! Minha formação humanista está com água na boca. Eu preciso deste livro Eu preciso deste livro!


O chamado “elo perdido” seria um espécime que dividiria características primatas e humanas. Achar o danado ainda é difícil, mas, pelo menos, sabemos que ele teria vivido aproximadamente há 800 mil anos. Parece uma pista fraquinha, mas para as cientistas e cientistas é muito.


Preconceito é ruim, então cuidado ao falar das primeiras sociedades humanas. “Ah, mas eles não tem escrita, não tem Estado, sem tecnologia, sem isso e sem aquilo e blábláblá...” E você é um sem noção! Não é nivelar ou achar que o passado é melhor; é ter respeito e humildade na hora de entender e se colocar no lugar deles!


Silex, obsidiana (vidro de vulcões), basalto, quartzo e quartzito. Materiais que ajudaram a nós humanos a “fazermos” este mundo.

Disso aí eu só conheço, - e conheço mal –, o quartzo. O meu amado Câmara Cascudo em uma citação recolhida pelo Diógenes da Cunha Lima fala bem poeticamente do basalto como um material muito resistente. Vou procurar imagens pela internet, pois se eu tropeçar em um basalto nem vou saber como é a aparência do trem. Ah, sim, a citação que falei é essa:

- Exijo que você escreva o prefácio desta segunda edição. Livro é como basalto: fica para a posteridade. Eu quero que no mesmo livro estejam reunidos Dante Alighiere, Câmara Cascudo e Franco Jasiello.

Só consegui pegar na mão do mestre e beijá-la. Ao meu gesto, a resposta:

Deus te abençoe, meu filho. Vá baixar em outro terreiro.

(Câmara Cascudo Um brasileiro Feliz, de Diógenes da Cunha Lima. Quarta edição. Escrituras Editora, 2016, São Paulo. Página 187.)


O homem de Neanderthal foi um caçador sofisticado sim.


Revolução neolítica ou revolução agrícola. E dentro desta a “grande pedra”, uma cultura que valorizava grandes esculturas (cultura megalítica). Aqueles monumentos que nos encantam até hoje e nos fazem pensar como nossos antepassados conseguiram realizá-las. Alguns, de tão encantados, pensam até em alienígenas e deuses (e deuses que eram astronautas). Estes monumentos podem ser encontrados na Europa ocidental, no Mediterrâneo e ao norte da África. É, isso mesmo leitoras e leitores, entre os exemplos megalíticos temos as famosas pedras de Stonehenge. O escritor Eduardo Bueno, comentando a crise de luz elétrica que atingiu o Estado do Amapá (2021) em um vídeo do YouTube; menciona que no Amapá também tem um monumento de rochas grandes semelhantes ao Stonehenge. Perto da Linha do Equador, a escultura megalítica do Amapá provavelmente era uma espécie de relógio solar.


Outro livro que me atraiu: “Imperialismo ecológico”, de Alfred W. Crosby.

No Velho Mundo havia maiores agrupamentos humanos e havia isso há mais tempo do que no Novo Mundo, de modo que no Velho Mundo a transição do estilo de vida mais nômade e caçadora para um estilo de vida mais sedentária e agrícola aconteceu mais rápido. Bom bom para lembrar a diferença que faz o ambiente: em tal cidade tem muita gente? Em tal cidade tem menos gente? Imagino o que acontece quando numa cidade pequena aparece uma mineradora. Trabalhadores do país inteiro aparecendo ali em menos de seis meses! Imagine a transformação! Isso também sugere uma “lei” da histórica: a tendência é o grupo humano crescer muito aí ou fica sedentário ou fica nômade, mas os nômades não tem sucesso ou ficam sempre em menor número… Mas esse trem de falar em “lei” da história não me parece agradável: preciso comprar e ler “A Miséria do Historicismo” do Karl Popper!


E na Austrália o Paul Tacon descobre que nós fazemos guerra uns contra os outros há, pelo menos, o dobro do tempo que imaginávamos.

Antes da chamada “idade dos metais”, aproximadamente 3 mil anos antes de Cristo.


Agora já temos caça, agricultura, animais domesticados, guerras organizadas com vencidos tornando-se escravos, metal dominado, práticas religiosas, centros populacionais que podem se chamar “cidades” sem falsa humildade… Pronto, estamos prontos para as primeiras grandes civilizações!


Antes, uma notinha sobre a ocupação humana na América. Belo exemplo de como a ciência é atraente: a cada pergunta, ergue-se diante de nós mil horizontes de hipóteses; a cada resposta, mil novas perguntas e o ciclo recomeça.

Sabemos pouquíssimo a respeito da ocupação humana no continente americano.

Foi atravessando a Sibéria e o Alasca? Mas e os sítios arqueológicos mais ao sul da América e que são mais antigos que os 11500 anos da referida travessia? A Marta Mirazón Lahr lembrou do sítio de Monte Verde, no Chile. Eu lembro de Niéde Guidon e da sua grande obra, o Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí). Para complicar mais; a pesquisa genética parece indicar que os primeiros americanos não são próximos dos antigos chineses, japoneses e coreanos (o nordeste asiático, de onde partiram quem atravessou o estreito de Bering mais ou menos no período citado de 11500 anos atrás). E antes de terminar, para o Peter Lund aqueeeele abraço!


Não foi o fato que por pouco um estacionamento para ônibus cheio de turistas iria ser construído bem em cima destruindo-o, e sim o surpreendente é o fato de que a descoberta aconteceu justamente num sítio arqueológico que todo mundo pensava que já estava esgotado. “Ônibus cheio de turistas”, um sítio arqueológico saturado de tão investigado… Estamos falando de décadas e décadas estudando o Antigo Egito e o seu encantamento irresistível. Temos até um nome para isso: egiptologia!

Bom bom, no caso eu me referia à descoberta de uma tumba mais complexa do que as tumbas normalmente encontradas. O crédito vai para Kent Weeks e sua equipe da Universidade Americana do Cairo. A propósito, imagine a quantidade de artigos e ensaios publicados sobre o Antigo Egito em jornais e revistas científicas no mundo todo todo mês! Como uma pessoa leiga poderia acompanhar as últimas descobertas sobre egiptologia?


O rio Nilo + o rio Tigre + o rio Eufrates = Ocidente.

O local, o nome de uma verdadeira lenda: o “crescente fértil”!

Temos as primeiras grandes civilizações: Egito antigo e a Mesopotâmia. Somos ocidentais filhos do oriente que estava terminando o neolítico.


O rio Nilo nos deu um presente e este presente é o Antigo Egito.


Havia dois antigos “egitos”: o reino do norte e o reino do sul. Mais tarde os dois se unem sob a liderança daqueles que eram chamados de “faraós”. Daí, cerca de três mil anos antes de Cristo até trinta antes de Cristo quando os romanos a conquistam, temos a “aventura egípcia” propriamente dita. Agricultura, irrigação, pirâmides, conhecimentos astronômicos e meteorológicos uma vez que o comportamento do rio era importante para a alimentação, conhecimento de anatomia e cirurgias sofisticadas no crânio e no estômago como consequências das práticas de mumificação… É, a egiptologia é mesmo irresistível. Vamos parar por aqui, pois senão eu não termino.

Mas vale uma notinha filosófica: viver é bom, mas para o Antigo Egito a morte não era um fim triste. Outra notinha, desta vez política: durante grande parte de sua história, a parte mais feliz, eles eram pacifistas e isolados. No final do período os antigos egípcios são invadidos e começam a guerrear e a invadir outros povos. Crescem de território, mas a decadência já tinha começado. E uma nota assustadora: a decadência do Antigo Egitodurou séculos. Séculos! Você imagina que uma coisa dessas seja rápida. O medo aqui é quando olhamos para o nosso “umbigo temporal” de 2021: e se nós estivemos em plena decadência de nosso mundo? Qual a profunda e radical mudança que ainda estaria invisível diante de nós prestes a torna-se visível? Isso é meio assuntador e excitante!


Castas sociais, religiosidade onipresente, centralização do poder do faraó, tributos e funcionários de um aparato burocrático que fiscalizava coisas como exploração de terras e a distribuição do excedente agrícola.

Havia muito respeito entre as pessoas, como nas tribos pequenas africanas mais antigas e pequenas que viviam mais ao sul da África; mas o senso igualitário realmente não era mais o mesmo. Por exemplo: é registrado que as mulheres até poderiam trabalhar e ganhar por isso e recorrer aos tribunais em caso de serem vítimas; mas nos estudos o caminho não era assim tão livre a elas no Antigo Egito.


A palavra escrita.

Aparentemente os primeiros livros foram feitos no Antigo Egito. O mais famoso é chamado de “O Livro dos Mortos”; uma compilação de regras para as almas terem um caminho feliz depois da morte.


Nem todo mundo tinha uma pirâmide imensa a servir de túmulo, mas todo mundo tinha o direito ao embalsamento. Havia formas mais baratas de embalsamentos.


Um antigo ditado judaico diz que todos os milagres concedidos por Deus ao povo de Israel estavam relacionados com a água.


A história não parou durante a aventura egípcia. Na mesma época de seu nascimento, lá em cima, na parte mais asiática da “Lua” da região do Crescente Fértil nasceram outros povos. Foi entre rios, foi a Mesopotâmia. Eram os sumérios, acádios, assírios e babilônios.

Pausa.

Como eram os acádios?

Fim da pausa.


O Antigo Egito, lembremos, na sua fase mais feliz era pacifista e isolado. Méritos deles; mas também havia ali um deserto do Saara para protegê-los, né? Bom, na Mesopotâmia havia nada disso. Ao contrário, o local parecia mais uma avenida livre para povos invadirem. A história ali foi tumultuada.

Bom bom, mas os sumérios tiveram tempo e talento para conquistas fundamentais para o gênero humano nos campos da escrita, arquitetura, comércio.


Quem fundou a famosa Babilônia foi um povo invasor que veio do meio do deserto da Arábia, o povo amorita. “Amorita”, “amorita”, já li esse nome em algum lugar… É o momento de nomes familiares: Hamurábi e seu código de leis, a Lei de Talião, Nabucodonosor… Pausa para escutar Verdi!

Império Assírio foi outro nascimento importante. A violência deste povo os diferenciava dos outros povos que ficavam mais ao sul do Crescente Fértil. O Império Assírio também se destaca pelo seu expansionismo; em seu auge a área dominada foi imensa.

Mas nada dura para sempre e um povo semita, os Caldeus, derrotam os assírios. Foi quando apareceu o já citado Nabucodonosor.

Os famosos jardins suspensos ficam no atual Iraque. As construções babilônicas eram bastante coloridas, mas infelizmente isso se perdeu com o tempo. É triste também que o atual Oriente Médio seja um local tão violento, pois isso dificulta a visita de turistas. Seria bom que ruínas tão gloriosas fossem vistas por mais gente.


Sobre o dia a dia, vale destacar que a matemática teve grande desenvolvimento pelos povos da Mesopotâmia. Outro destaque é que as fronteiras entre religião, magia e ciência eram tênues; de modo que um templo religioso também era hospital, biblioteca e também onde astrônomos trabalhavam e seleiro para guardar comida! Uau! A sociedade era dividida em castas.


Agora é outro reino e neste reino tivemos a cidade de um dos poemas mais famosos do Manuel Bandeira (Pasárgada) e do livro da Marjane Satrapi e do filme de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi (Persépolis).

O Reino da Pérsia surge da união dos dois grandes povos que viviam no Planalto do Irã, os medos ao norte e os persas mais ao sul.

Pausa.

Os povos medos!

Cara, estudar história é muito muuuuito doido!

Fim da pausa.

Ciropédia” ou “Educação do Ciro”, um livro que eu tenho e que ainda não li. Depois do Ciro, veio o Cambises e depois deste o Dario I e aí é que o trem fica sério mesmo. Cambises morreu sem deixar herdeiros, de modo que Dario I foi escolha da cúpula política. Escolha inteligente. Nem todo império sobrevive a um momento delicado como uma sucessão. Sorte dos persas pela escolha. Mas vamos continuar.

Continuar pela “estrada real” do Dario I! Quase três mil quilômetros de uma estrada vigiada por patrulhas, algo tão importante quanto o surgimento da primeira moeda aceita internacionalmente. Dario I teve um descendente e aqui temos outro nome famoso: Xerxes. Mais expansão e controle de um imenso império, mas as guerras contra as cidades-estados do mundo grego marcam o início do fim do Império Persa. Mas é preciso destacar que só acaba nas mãos de ninguém menos que o invencível Alexandre da Macedônia.


Culturalmente falando o Império Persa encantou o mundo por ser bastante eclético devido à influência de diversos povos que eles conquistaram. Mas principalmente a área religiosa a mais popular para nós.

No início era o antigo totemismo: adoravam animais, o sol, o vento… E sacrifícios lhe eram oferecidos. Diversidade que é centralizada e organizada, muito tempo depois, pelo aparecimento de Zaratustra e o livro sagrado “Zend Avesta”. Agora é a luta entre o bem e o mal (Ahura-Mazda ou Ormuz; e Arimã). Juízo Final, o triunfo final do Bem, a vinda do Messias, a liberdade do humano ajudando ou atrapalhando o triunfo final do Bem, o paraíso, a volta dos mortos; o mazdeísmo influenciou as três grandes religiões monoteístas da região: judaísmo, cristianismo e islamismo. Curiosamente acho que a leitora e o leitor nunca deve ter lido e ouvido a respeito do mazdeísmo.


Falamos no passado de judaísmo e água e vamos terminar comentando um trecho de “O Novo Oriente Médio”, livro de Shimon Peres (Editora Relume Dumará, 1993, Rio de Janeiro).

Mau planejamento e exploração predatória do meio ambiente são dois dos motivos para o Oriente Médio sofrer com a falta de água. Não é questão do Thomas Malthus ser o espectro que ronda a questão ali, mas os rios não estão crescendo como a população está crescendo. Tem cientistas bancando profetas e eles não são profetas agradáveis. Um caso especialmente trágico é o Egito e a Síria, mas a comunidade internacional também deveria ajudar a Etiópia e o Sudão quanto a esta questão da água. Mas a questão envolve todo o mundo. Em 1987 a Turquia sonhou com um aqueduto da paz ligando os países da região o excedente de água; mas alguns países árabes não queriam a participação de Israel e este foi o fim do projeto turco. Na questão da água quanto em outras questões, o Oriente Médio seria mais feliz se o Amor vencesse o ódio.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Filmes também

FILMES TAMBÉM

Sempre gostei muito de assistir filmes. Desde de criança, ao lado de meu pai, eu divertia-me com efeitos especiais nos filmes ruins e aprendia muito com os filmes bons. Falei em “aprender”; e é bom fazer um esclarecimento.

Em geral os artistas devem tomar cuidado com pregações políticas porque isso os limita; mas em geral uma mensagem política sempre vai haver e se o bom gosto estético for respeitado não há contraindicação. Mas é uma dança delicadíssima. 
Como exemplos de filmes que eu julguei que souberam dançar eu citaria “Machuca” (“Machuca”, 2004, Andrés Wood, Eliseo Altunaga, Roberto Brodsky, Mamoun Hassan, Manuela Martelli, Matías Quer, Ariel Mateluna e etc.) e “Vozes Inocentes” (“Voces Inocentes”, 2004, Luis Mandok, Oscar Orlando Torres, Carlos Padilla, Leonor Varela, Xuna Primus e etc.).
Mas onde eu estava? Ah, sim; quero falar sobre alguns filmes. Não é uma lista dos meus “dez favoritos”, mas sim alguns dos melhores que assisti ultimamente. Mais ou menos uns três anos atrás. A minha lista dos dez melhores fica para outra ocasião.

 – “A rainha de Katwe” (“Queen of Katwe”, 2016, Mira Nair, Madina Nalwanga, Lupita Nyong'o, Nikita Waligwa, William Wheeler, Tim Crothers, David Oyelowo e etc.).
Este filme é perfeito, nada tenho a acrescentar. Por favor, assista-o assista-o!

– “Ex-machina: instinto artificial” (“Ex Machina”, 2014, Alex Garland, Alicia Vikander, Domhnall Gleeson, Oscar Isaac e etc.)
Caleb, o programador de computador bonzinho é Jesus Cristo. O filme termina antes dele morrer de fome sozinho no laboratório e sem poder pedir ajuda ao mundo exterior. A última imagem é ele ao longe tentando sem sucesso quebrar uma porta de vidro reforçado. Ele grita e grita, mas não ouvimos sua voz, apenas a sua dor. É o crucifixo na parede e ninguém prestando atenção na mensagem de Amor. Nathan, o cientista, é insensível e acaba morto pela sua própria criação. Deus, não é? A cyborg Ava é a gente, a humanidade: perdida, sozinha, no meio de uma cidade desconhecida dela e que também não a vê. É a gente mesmo, se saber de onde viemos, sem saber o que fazer e sem saber para onde vamos. Mas assim como a Ava o potencial humano continua infinito. Como é desde o início.

– “Enquanto a Guerra Durar” (“Mientras dure la guerra”, 2019, Alejandro Amenábar, Alejandro Hernández, Karra Elejalde, Eduard Fernández, Santi Prego e etc.).
Franco “franguito” era um militar com muitas vitórias, mas ele não era o líder daquela junta militar e os outros não o respeitavam muito. Mas de decisão “pequena” a decisão “pequena” (a cena da bandeira bicolor e a cena do artigo a bordo do avião), Franco torna-se o líder da junta e vira o ditador.
Mas e o Miguel de Unamuno? Ora, eu quero ler tudo dele é claro! Mas por causa do Brasil de 2021 eu também tive que prestar a atenção nos aspectos feios no filme do Alejandro.

- “Puro-sangue” (“Thoroughbreds”, 2017, Cory Finley, Olivia Cooke, Anya Taylor-Joy, Anton Yelchin, Paul Sparks e etc.)
Quantos animais de puro sangue tiveram um final trágico neste filme?

 – “Pequena Grande Vida” (“Downsizing”, 2017, Alexander Payne, Jim Taylor, Hong Chau, Matt Damon, Christoph Waltz e etc.)
Um dos filmes mais políticos que eu já assisti. Mas os outros aspectos estão também acima da média dos outros filmes.
Então, o que você vai fazer diante do planeta Terra cada vez mais destruída por nós humanos? Você vai continuar o mesmo ou vai mudar? Se escolher mudar, cuidado para saber quando parar. Pois se não souber parar, pode virar um “fanático do bem”: cavando cada vez mais ao fundo e ao fundo e ao fundo e ao fundo e cada vez mais isolado mais isolado dos outros humanos.

 – “Jantar com Beatriz” (“Beatriz at dinner”, 2017, Salma Hayek, Miguel Arteta, Mike White, John Lithgow, Connie Britton e etc.)
Este filme realmente deixou-me profundamente perturbado. Profundamente perturbado. Curiosamente é a segunda vez que uma personagem feminina no mundo do cinema deixa-me assim. A primeira vez foi com “Tarde Demais” (“The Heiress”, 1949, Olivia de Havilland, William Wyler, Ruth Goetz, Augustus Goetz, Henry James, Montgomery Clift, Ralph Richardson e etc.).

 – “Filhos do silêncio” (“Children of a Lesser God”, 1986, Randa Haines, Marlee Matlin, Mark Medoff, Hesper Anderson, James Carrington, William Hurt, Piper Laurie e etc.)
Eu deveria dizer que esta história de amor é a mais completa e inteligente que eu já vi no cinema e ela é mesmo; mas primeiro tenho que dizer que o rosto da Marlee Matlin é um dos mais belos que eu já vi em toda a minha vida. A cena em que ela conversa com sua mãe… O rosto, aquela luz, a expressão dela, até o conteúdo da conversa destaca toda aquela beleza... E o filme é maravilhoso, todo maravilhoso. Vontade de assistir mil e uma vezes.

 – “Máscara da Ilusão” (“MirrorMask”, 2005, Dave McKean, Neil Gaiman, Stephanie Leonidas, Jason Barry, Rob Brydon e etc.)
O algorítimo do YouTube me fez lembrar deste filme assistido há muito tempo e a nostalgia quase fez meu coração parar. Também ajudou a atmosfera do reencontro: alta noite, alto frio, alta solidão… Enfim, onde eu estava mesmo?
Assisti a este filme por puro acaso e ele nunca mais passou novamente na tevê; o que torna toda a áurea do episódio especial para mim.
O longo caminho para ser como podemos ser. Magia. Efeitos especiais muito bonitos. Roteiro inteligente. Filme acima da média e eu não consigo compreender porque ele não passou mais uma vez na televisão.












segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Manuel nas Ilhas Malucas

MANUEL NAS ILHAS MALUCAS
MODERNA GRAMÁTICA PORTUGUESAEvanildo Bechara. 2015.
(Editora Nova Fronteira e Editora Lucerna. Rio de Janeiro, 2015.)
“À memória de
M. SAID ALI,
mestre e amigo

Aos mestres e amigos
EUGENIO COSERIU
JOSÉ G. HERCULANO DE CARVALHO
J. MATTOSO CÂMARA JR.
a cujas lições fui colher o que de
melhor existe nesta nova versão”


Um nome a pesquisar: Manuel Said Ali.

Quero essa super "Gramática de Português" (2014, Fundação Calouste Gulbenkian e amigos) que parece mesmo ser um marco para a vivência da nossa língua portuguesa.

Análise literária não é a mesma coisa que análise estilística, sendo esta última importante para a educação estética.

A língua portuguesa nem sempre existiu, mas é complicado falar em uma “origem” da língua portuguesa. As línguas estão sempre evoluindo e é difícil distinguir pontos na linha do tempo e mesmo saber se um ponto é mais importante que outro. Entendem? Então a resposta mais próxima da verdade seria dizer que a língua portuguesa nasce do processo, - ainda vivo –, de romanização-latinização da península Ibérica três séculos antes de Cristo. Assim como em outras ocasiões, os invasores romanos encontraram grande resistência. No caso específico: os lusitanos a oeste e os gaélicos a noroeste. 
Já no quarto século depois de Cristo a região já tinha sido invadida pelos alanos, vândalos, suevos e visigodos.
Pausa.
Pausa.
Como eram os alanos e os suevos?
Aprendi com Câmara Cascudo a respeito da chocante contemporaneidade dos milênios esquecidos em nosso mundo, mas isso não consola-me muito. Tanto se perdeu na incessante caminhada da humanidade! Mas também é verdade que estudo pouco e talvez já tenhamos mais informações a respeito de povos esquecidos e eu não sei. Como eram os alanos e os suevos? Bom, vamos seguir em frente.
Destes povos, mais ou menos exatamente chamados de “germânicos”, a influência mais importante na língua portuguesa veio dos visigodos. Foi até um pouco mais marcante que a influência árabe que aconteceu depois da invasão destes à península e que durou séculos.
A reconquista cristã demorou também séculos. No século X temos núcleos cristãos de resistência. Destaco dois: o Condado de Castela (língua castelhana) e o Condado de Barcelos (língua catalã). Nos vários núcleos de resistência também havia divisões linguísticas, além das divisões políticas. A península é reconquistada pelos cristãos e destaco que em outubro de 1147 foi quando Lisboa tornou-se novamente cristã. 
As grandes navegações ocorreram nos séculos XV e XVI e não posso deixar de mencionar três momentos:
1500 – Brasil
1511 – Malaca e Malucas
1512 – Saião e Bornéu
(É óbvio que destaquei estes três marcos para chamar a atenção ao seu centro: para as ilhas Malucas que ficam lá na Indonésia. Vou visitá-las algum dia?) 

Um nome a pesquisar: Barbosa du Bocage. (Meu avô paterno tinha um livro de poesia dele, lembro do tamanho e do nome, grande, escrito na lombada: "BOCAGE". Mas nunca nunca li o livro. Não conheço uma poesia sequer dele.)

Como dito no início aqui é difícil dizer quando a língua portuguesa “nasceu”, pois a mesma está em vivo processo de mudança; mas… mas no século IX temos uma versão “normal mais antiga” do que seria o português hoje e no século XVIII, finalmente, uma língua portuguesa “mais normal” digamos assim. 

Termino aqui indo ao século XVI comungando o desejo de Antônio Ferreira:
"Floresça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já onde for,
Senhora de si, soberba e altiva!"

domingo, 3 de outubro de 2021

Três funções

TRÊS FUNÇÕES

LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUALAda Magaly Matias Brasileiro. 2016.
(Só mulheres na equipe técnica deste livro. Vale a pena mencionar o nome delas.
Gerente editorial: Arysinha Jacques Affonso.
Coordenadora editorial: Verônica de Abreu Amaral.
Assistente editorial: Camila Piccini.
Leitura final: Carolina Utinguassú Flores.
Processamento pedagógico: Caroline Vieira.
Capa e projeto gráfico: Tatiana Sperhacke – TAT Studio.
2016, Penso Editora Ltda, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.)
O livro não tem dedicatória, - o que é triste - ; por outro lado, diferente de muitos livros sobre língua portuguesa, ele possui um índice e uma lista de livros que enchem os olhos.


É um sistema de códigos que serve para a comunicação entre seres humanos. Pegamos um sinal e lhe atribuímos significado ou valor e aí a coisa começa. É a linguagem. Uma coisa bem humana e que nos aproxima muito. Daí é bastante justo a gente torcer o nariz diante de uma pessoa ou texto que é propositalmente obscuro. Antes de terminar, lembrar que existe a rica linguagem não verbal.

Acho que eu senti a presença do Michel Foucault na hora em que é dito que linguagem é um “instrumento de poder”. Depois li “Jakobson (1960)” e este é um nome familiar. Mas nenhum dos dois eu conheço muito, jamais li algo deles. Eu tive aula de semiótica na faculdade de jornalismo mas, de forma imatura, não me deixei seduzir pela matéria. Hoje sei, pelos braços do meu amado Bryan Magee, que a escola de pensamento estruturalista não é grande coisa. Mesmo assim, eu devia saber mais sobre ela: Derrida, Foucault… E um pouco sobre a ciência da linguagem: Jacobson, Chomsky e… e… aquele cara canadense… Como é o nome daquele cara canadense do “meio é a mensagem”? Enfim, estou começando.
Enfim, a linguagem é um instrumento de poder. Concorde ou não, é bom saber se expressar e saber ouvir. Não basta ser um humano, é preciso participar da comunidade humana.

Das funções da linguagem, eu gostei muito de três: a metalinguagem, a fática e a referencial.

Para isso, recorreremos ao interacionismo sociodiscursivo.
Sim, sim, Ada, mas isso fica para a próxima.