19 de outubro de 2023
Eu suspeito que o veto dos
Estados Unidos à resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU
foi: 49% apoio ao direito justo de Israel de se defender e 51% soberba mesmo
pura e sem gelo, da parte estadunidense diante de um país pobre novo no clube
(Conselho de Segurança).
E no noticiário a respeito
desta mais recente crise Israel-Palestina na televisão a citação ao Irã como
força oculta não para, é constante. Almas sebosas querem uma guerra mais ampla
na região? Últimas gotas de petróleo antes dos EcoChatos vencerem? (risos)
Falando um pouquinho mais sério: sei o que seria uma vitória dos sectários islâmicos,
mas eu também gostaria de saber o que seria uma vitória do Exército Samuel
Huntington/John Ashcroft. Perguntar para os refugiados pobres, os únicos que
sempre sabem o que é uma guerra.
Como a minha internet está
lenta! Acaba obrigando eu a usá-la de maneira inteligente, o que é chato.
Não aguento mais pedir para
as pessoas lerem Teorias da Personalidade,
de Fadiman e Frager; e para elas pensarem sobre o que trata o livro. Eu vou
chutar o balde. Há muitas maneiras de chutar um balde e eu espero chutar o
balde como Juninho Pernambucano. Que
o time do zen-budismo, Ioga, sufismo e Abraham
Maslow perdoem-me.
Zen- Budismo
A verdade é um boi e você é
um camponês distraído. Acabou perdendo o seu boi. Mas foi só distração. Não foi
uma perda peeeerda. Mas antes de começar a procurar o boi (verdade) você deve
acreditar que vai sim encontrar o boi. Se isso parece platonismo e cristianismo
não me pergunte o por quê. Os sábios que vestem roupas diferentes sabem
conversar entre si. São os idiotas com roupas diferentes que não sabem e ficam
brigando entre si.
Aí você estuda, estuda, estuda
e estuda. A sua bunda redonda fica até quadrada de tanto que você ficou sentado
estudando. Você fica até orgulhoso porque alguns livros são mesmo um deserto
sem água e com muito sol. Alguns autores são insuportáveis. Mas uma coisa é ler
sobre o budismo, outra coisa diferente é experimentar o budismo. A Alice só foi
atrás do coelho que usava cartola e estava sempre atrasado, porque na hora ela
levantou os olhos que estavam no livro e olhou a paisagem. Acabou caindo no
buraco e foi parar no País das Maravilhas. Então estude muito o budismo, mas
tire os olhos do livro sempre para poder ver se há algum coelho usando cartola
e que esteja atrasado. Entendeu?
Aí você está procurando o
boi (verdade). A primeira vez que você o vê, o primeiro vislumbre; é tudo. Não
é tudo, mas é tudo. Não é tudo porque você não o agarrou ainda, mas é tudo. Não
é tudo, mas é tudo. Não sei reapresentar o trem aqui, a lição aqui. Acho que a
imagem do choque seja mais didática. Você está estudando o budismo e de repente
o Sol, a estrela do nosso sistema solar, aparece no seu livro. Ou a primeira
vez que eu vi a Simone Spoladore, a Bela Gil e a Ines Efron.
Agora o trem fica sinistro
porque agora a disciplina budista no dia a dia vai cobrar o preço. O boi
(verdade) vai querer voltar a fugir para o campo florido. Então seja
disciplinado sempre. É gostoso, mas é caro. Queridão; é mais do que acordar cedo.
Ah, muito mais do que isso! Mas vai ser gostoso.
Agora fica leve como uma
pluma ao vento porque o modo de vida budista foi incorporado ao seu cotidiano e
você nem percebe. Você é um budista andando de bicicleta, entende? Não esquece.
Tranquilo, tranquilo.
Mais do que tranquilo. Você
passeia montado no boi (verdade), tocando uma flauta, vendo as pessoas na
aldeia e os pássaros no céu.
Você desceu do boi (verdade),
o soltou, esqueceu-se dele. Mas desta vez isso aconteceu porque o boi (verdade)
se tornou o universo inteiro. O que inclui você, naturalmente. Em qualquer
lugar você encontra a flor do budismo brotar.
Os pássaros não te oferecem
mais flores, porque você é nada agora. Tudo virou nada.
Tudo vira um espelho para
você ver você mesmo e com isso você vê tudo mudando.
Acabe com o mal, faça o bem.
Os três fogos a serem
evitados: erro, cobiça e ódio.
E aqui Buda encontra Aristóteles:
o caminho do meio: não é para torturar o seu corpo no ascetismo e também não é
para entregar-se aos prazeres. Você é maduro o suficiente para saber que o caminho
que tu segue é o do meio? Senão se vire que tu não é quadrado.
E aqui Buda encontra Cristo: o
outro está perto: o outro também manifesta a natureza do sagrado (Buda). Naturalmente que a gente sabe
que o que não falta no mundo é gente insuportável, mas enfim... É preciso amar
as pessoas como se não houvesse amanhã. E o nosso Renato Russo sabia o porquê disso: não há amanhã. Se bem que até o Apollo Creed também sabia que “don´t have tomorrow!”.
E aqui Buda encontra Arthur
Schopenhauer: valorizar a compaixão. É tanta compaixão que você sente por
todos e por tudo que você vira aquele surfista novato deitado na plancha em
alto mar calmo olhando para o céu feliz tranquilo depois de deslizar em uma
onda perfeita depois de um beijo depois de escutar o Bob Marley... A compaixão, a tranquilidade...
Então estudemos logo o budismo!
Calma, calma, estudante! Seja humilde e pergunte a si mesmo se você é capaz de
reconhecer um bom professor. Porque nem sempre o melhor professor (ou
professora) vai estar dentro de uma academia de luxo, de cinco andares, cheia
de equipamento... As aparências enganam. Seja humilde estudante...
E aqui Buda encontra Karl Marx
e Friedrich Engels: a semente dos
dragões, também conhecida como dialética, existe funciona. O que é a vida? Ora,
obviamente que a vida é uma teia de aranha húmida de orvalho em uma manhã e
outono. Como? Não entendeu? O que é a vida? O sorriso de uma criança faminta em
um campo de refugiados para ciganos no meio da Romênia. Como? Não entendeu? O
que é a vida? Quando você falou para a sua tia que... Acho que já deu para
entender... Tudo está mudando e diante disso as categorias da lógica (ser,
não-ser, essência, coerência, paradoxos, postulados e etc.) são um pouco mais
do que pedaços de fruta em um liquidificador prestes a produzir uma gostosa e
saudável vitamina.
Aqui Buda encontra o Islã:
não há fronteiras entre a religião e a vida cotidiana. Isso pode parecer óbvio,
mas não é tanto assim. Na nossa vida moderna ocidental, temos o costume de
dividir momentos para orar, momentos para trabalhar, momentos para atividade
política... Naturalmente que derrubar os muros aqui é bem complicado. Como
harmonizar? Boa pergunta. Pergunta excelente. Faço a menor ideia.
Parafraseando um diálogo
profundo entre a inglesa Kennett-roshi
e o reverendo Hajime (The Wild White Goose, 1972, não há editora
porque é um manuscrito):
Não
teríamos que incluir Jair Messias Bolsonaro, nós incluímos Jair Messias
Bolsonaro. Se você é incapaz de ver que ele também possui a natureza Buda por mais desorientado que possa
ter sido, você nunca compreenderá o Budismo
completamente. Este pedacinho é belo, este pedacinho não é. Você não deve fazer
isso.
E é realmente difícil porque
o final da jornada é torna-se um monge budista e você no fundo sabe disso. Você
não quer se transformar-se em um monge budista e tudo bem, apenas lembre que a
verdade só vai ser dada de presente a você se você deixa-la fazer parte de seus
ossos e sangue. Sangue, ossos, não ler os ensinamentos budistas e sim decorá-los.
Aqui Buda encontra Friedrich Nietzsche.
Agora o exercício budista
mais difícil: sente-se e diga “sim”.
A meditação é uma atividade
que requer prática. Pode começar durante atividades diárias como passar pano no
chão. Você varre a casa com calma e deixa a sua mente relaxar. Se muita coisa
te perturba internamente anotar em uma lista essas coisas pode te ajudar.
Comprem
estes livros e depois me deem de presente.
Selling
Water by the River, de J.
Kennett (1972, Editora Pantheon, Nova Iorque).
The
Dhammapada, tradução de P.
Lal (1962, Editora Farrar, Straus & Giroux, Nova Iorque).
Zen
Flish Zen Bones, antologia de histórias e koans Zen
organizada por várias autoras e autores
(sem data, Editora Anchor, Nova Iorque).
Livremente inspirado em “Segunda
Parte Introdução às Teorias Orientais da Personalidade” e capítulo 10 “Zen-Budismo”. Do livro Teorias da Personalidade, de James
Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e
Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro,
1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).