Mostrando postagens com marcador 1 América. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 1 América. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Antologia do Folclore Brasileiro 2 de 25

 

Antologia do Folclore Brasileiro 2 de 25

 

 

 

Obrigado por registrar pela primeira vez em letra impressa a língua tupi, mas você é que é meio marmota senhor Andre Thevet (1502-1590/1592?)!

 

 

Costume tupinambá para receber amigos. O escolhido de outra aldeia fica na taba sentado na rede, calado. É de bom tom chorar de saudade, ou fingir. Muitos fingem, imitando as mulheres.

Senhoras e senhores, isso é simplesmente maravilhoso! Mas não seria ainda hoje, em pleno 2023, considerado por nós estranho um convidado vindo lá longe não demonstrar saudade dramaticamente durante uma longa estadia em nossa casa?

 

 

Não foi o primeiro e obviamente não será o último, e Jean de Léry (1534-1611) é mais um estrangeiro conquistado pela música brasileira. No caso, especificamente, a música tupinambá.

 

 

E durante a Dança de Guerra dos Tupinambás as canções mencionam o paraíso além das montanhas e morte, onde os guerreiros de hoje reencontrarão os guerreiros do passado numa festa que não terminará. E também mencionam dilúvio, um momento do passado remoto quando as águas cobriram toda a terra do mundo.

Uma evidência de que a ideia de paraíso, ou pelo menos de mundo bom após a morte e de que também a ideia de dilúvio nas origens do mundo é bem comum. Interessante.

 

 

Ah, e o livro de Jean de Léry sobre o Brasil é um dos mais populares, com diversas edições em várias línguas.

 

 

Aqui jaz o pecador Gabriel Soares de Souza (1540?-1592?), quem realizou o mais completo painel da vida brasileira do século XVI (1501-1600). O nome do livro é Notícias do Brasil, se puder procure a edição da Editora Martins com anotações eruditas do professor Pirajá da Silva.

 

 

Os maravilhosos tupinambás! Mais descrições de seu cotidiano!

 

 

Coisas da época, coisas dos sociólogos e antropólogos antes da sociologia e antropologia existirem, e Gabriel Soares de Souza usa os termos “macho” e “fêmea” para referir-se a... Bom, deixa pra lá. Não julgar. Na hora de descobrir o mundo a gente tem que ver o copo meio cheio. Então a gente lamenta, mas respeita e segue em frente.

 

 

Quando um índio morre, os parentes mais próximos choram dias e dias com lágrimas abundantes, mas os outros índios não demonstram muito pesar.

 

 

Os índios tupinambás gostavam muitos dos europeus que sabiam cantar e/ou tocar algum instrumento musical. Então é fácil imaginar um grupo de europeus portugueses atravessando território hostil sendo que apenas o músico do grupo sobrevivendo para contar a história... (risos)

 

 

E o padre da Companhia de Jesus Fernão Cardim (1548-1625) reparou bem como os índios tratam as suas mulheres. Normalmente as tratam super bem, cavalheiros mesmo, a não ser quando bebem. Aí brigam e depois colocam a culpa na bebida. Mas onde eu já vi isso? Hum... Mas depois ambos fazem as pazes rapidamente. Mas onde eu também já vi isso? Hum...

As caminhadas são um capítulo à parte: quando o caminho é novo e/ou quando é a saída o homem vai na frente por segurança. No caminho de volta é a mulher que vai na frente, pois se houver um encontro infeliz a mulher sai correndo mais fácil para a casa e o homem fica para lutar. Se o caminho é conhecido e/ou o clima é tranquilo eles saem com a mulher andando na frente “porque são ciosos e querem sempre ver a mulher.”

 

 

 

Livremente inspirado em Antologia do Folclore Brasileiro, 1944, organizado pelo

Professor dos professores,

o mestre dos mestres,

a mistura de Aristóteles e poesia,

a mistura do luar que perfuma o rio Potengi com o sol que vivifica o Rio Grande do Norte:

Luís da Câmara Cascudo.

(2003, Global Editora e Distribuidora Ltda, São Paulo, edição em dois volumes.)

[2 de 25].

Vidas queimadas, 1997

 

Vidas queimadas, 1997

 

Olha só o Gerson Camarotti! Uma das estrelas da rede de televisão GloboNews. Eu não sabia que ele tinha sido repórter da revista Veja. Se bem que na faculdade de jornalismo eu aprendi que é muito comum jornalistas trabalharem em vários veículos de comunicação em suas carreiras. E a Sandra Brasil, de Brasília, também colaborou na reportagem. Sandra Brasil aparece muito neste meu arquivo de material jornalístico que construí em todos estes anos. Sem dúvida uma das mais talentosas repórteres do Brasil.

Brasil

Planalto selvagem

Numa noite de tédio, cinco garotos melancólicos e

apáticos tocam fogo num índio para se divertir

O subtítulo da reportagem diz praticamente tudo sobre o Caso Índio Galdino Jesus dos Santos, mas quero destacar um trecho quase no final do texto.

Hoje, os pataxós são pouco mais de 4000 indivíduos aldeados e mais de 3000 dispersos pelas cidades e roças do sul da Bahia. De seu idioma, apenas palavras soltas persistem. Quase nada ficou da tradição: cocares que usam nas solenidades são copiados das imagens de índios que vêem em velhos livros escolares. Na cerimônia fúnebre de Galdino, uma pataxó chamada Michelle – sim: MichelleSouza Santos, 10 anos, desfilou orgulhosa seu cocar, emprestado de um índio mais velho. No adorno havia peninhas cor-de-rosa tiradas de um espanador.

(Planalto Selvagem, reportagem de Daniela Pinheiro e Gerson Camarotti publicada na revista Veja em sua edição do dia 30 de abril de 1997. Há o registro da colaboração de Cíntia Campos, da cidade de Pau Brasil, na Bahia; e de Sandra Brasil, em Brasília.).

 

E hoje, em 2023, como estamos? A Bahia aparece nos noticiários nacionais há mais de uma semana por causa da violência policial, dado que no combate ao crime muitas mortes andam acontecendo por lá. O uso de câmeras nos uniformas policiais, coisa que já acontece nos Estados Unidos, ainda é polêmico no Brasil.

Não sei como anda os índios da tribo pataxó que vivem na Bahia. O Caso Índio Galdino Jesus dos Santos, eu lembro, chocou o Brasil inteiro; se pessoas inteligentes souberam aproveitar o momento talvez hoje os pataxós estejam um pouco melhores do que outras tribos neste nosso Brasil tão injusto com os indígenas.  

Hum, vamos dar uma pesquisa aqui agora. Coisa rasa, um pouco mais que nada.

 

 

https://www.pib.socioambiental.org/pt/Povo:Patax%c3%b3

Uau! Começamos bem, começamos em um site perfeito. O povo pataxó é a água caindo do céu para beijar a terra, as pedras; e depois caminhar abraçar os rios e os mares.

- Vivem no sul da Bahia e no norte de Minas Gerais.

- A língua pataxó faz parte do tronco Macro-Jê e da família Maxakalí. Está quase totalmente perdida, mas já faz mais ou menos 30 anos que o pessoal tentar recuperá-la. Algumas vitórias foram obtidas.

- Os números disponíveis são velhos, mas a gente tem que usar o que temos. Brasil é Brasil; difícil fazer pesquisas.

No Censo Demográfico 2010, os Pataxó compõem a tabela 1.14 - pessoas indígenas, por sexo, segundo o tronco linguístico, a família linguística e a etnia ou povo - com um total de 13.588 hab, sendo 6.982 homens e 6.606 mulheres.

- O evento O Fogo de 1951. Um assalto misterioso provocou retaliação violenta contra índios pataxós e num grande incêndio na Barra Velha (Bahia). Índios que viviam em uma aldeia lá se dispersaram com consequente marca psicológica e emocional aos envolvidos. Também muitos índios foram presos. A sombra do acontecido ainda está bem viva por aquela região.

https://terravistabrasil.com.br/indios-pataxos/

Outro site interessante.

- Muitos índios pataxós participam do mercado turístico da Bahia. Redes sociais, barracas, serviços de hospedagem e etc. Ao mesmo tempo em que mantém os seus costumes ancestrais.

- As famílias são grandes. Uma mulher pode ser líder da aldeia. Se a tribo não estiver satisfeita com a liderança, é reunião para escolher outra pessoa.

https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/pelos-mundos-indigenas-pataxo/

Outro material interessante. É bom consultar o meio acadêmico brasileiro.

- Pataxó ou Pataxoop.

- Havia antigamente casamento entre primos envolvendo desafios como carregar toras de madeira. Uma bebida popular era o “caium”.

http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2011/11/conheca-historia-dos-indios-pataxo.html

Outro e último site. Também com material interessante.

- O evento O Fogo de 1951 tem um relato ainda mais dramático.

Meninas foram estupradas e homens, espancados. Muitos precisaram se submeter à escravidão porque ficaram sem opção. Oito anos antes, o governo havia criado o Parque Monumento Nacional do Monte Pascoal e expulsou os índios que viviam nesse território. Começara aí a dispersão dos pataxós em pequenos povoados.

- São fãs da mandioca. A mandioca, o “pão do Brasil”. Também chamada pelo meu amado Luís da Câmara Cascudo de a “Rainha do Brasil”.

 

 

Agora algumas palavras sobre os cinco jovens de Brasília.

- Jovem pobre já tem que trabalhar desde cedo, às vezes até para sustentar uma família surgida precocemente. Não tem tempo para sentir apatia e melancolia e depois fazer esse tipo de m*.

- Estavam sofrendo por causa do mundo? São sensíveis demais? Tem artista que é solitário e fica no canto dele sem fazer m* com os outros.

São questionamentos previsíveis e um pouco grosseiros também, mas o importante aqui é que falta muita coisa. Um pouco mais de objetividade: evidentemente alguma coisa errada naquelas famílias de classe média alta (a propósito disso, a entrevista do pediatra Daniel Becker ao Programa Roda Viva em 2013 https://www.youtube.com/watch?v=dhduFNQUQz8)e evidentemente problemas nas escolas chamam a atenção para uma possível negligência da orientação pedagógica. Complica ainda mais quando nos aproximamos do livre arbítrio: por que fizeram isso? O que faltava a eles? Eu não tenho respostas.

 

Post scriptum 1

Eu recortei uma pequena matéria da Folha de S. Paulo sobre a condenação dos quatro rapazes (o menos de idade já tinha sido julgado antes, em separado). Se chama:

“CASO PATAXÓ Sentença foi anunciada às 4h15 de ontem; defesa anunciou que vai recorrer e índios comemoram a decisão

Jovens são condenados a 14 anos de prisão” (mantive a diagramação original, preciso lembrar que o subtítulo no caso fica do lado de cima do título.)

A defesa fez o que podia: tentou transformar em lesão corporal seguida de morte. Também se discutiu se havia ou não um cobertor envolvido. Eu destaquei um trecho, mas tive que omitir o nome por medo. Esse pessoal de direito é meio manhoso e estamos no Brasil. Liberdade de expressão é um mistério. A minha falta de importância pode ser uma vantagem ou desvantagem (lição do Millôr Fernandes sobre humoristas e prisões políticas).

Para outros, as disputas de eloquência pelo convencimento dos jurados era puro divertimento. “Isso é como um show. Eu vim para me divertir. Fiquei tão empolgado no outro dia que nem consegui dormir”, disse M. T., 18, aluno de direito do primeiro semestre.

(Jovens são condenados a 14 anos de prisão, reportagem de Silvana de Freitas e Leila Suwwa publicada pela Folha de S. Paulo em sua edição do dia 11 de setembro de 2001.)

Post scriptum 2

Falamos um pouco sobre o evento O Fogo de 1951 e hoje fico sabendo de mais um crime tenebroso contra minorias na Bahia: assassinatos de ciganos.

https://www.metropoles.com/brasil/chacina-na-bahia-6-membros-de-familia-de-ciganos-sao-mortos-a-tiros

Seis mortos. Três mulheres, sendo que uma estava grávida. Uma criança de quatro anos também morreu. Por enquanto é isso que sabemos.

Post scriptum 3

A entrevista do pediatra Daniel Becker ao programa Roda Vida da Rede Cultura. Vou ver se consigo colocar o vídeo aqui.


Olha, eu consegui!

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

4 de outubro de 2023

 


Aniversário de 12 anos da Rádio Comunitária Super Nova FM. Bar Saideira (o bar da Natália). Rio Acima, sexta-feira dia 29 de setembro de 2023. Colegas, tilápia frita, refrigerante e boa música.

 

A rádio anda meio em crise. Poucas pessoas participando como locutores. Eu podia aproveitar para fazer meu programa de uma hora virar duas horas e em vez de “só” música, ter música e entrevistas. Acho que eu seria um bom entrevistador.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Um brinde para Lula, 2004

 

Um brinde para Lula, 2004

 

Eu estava na faculdade de jornalismo quando aconteceu o Caso Lula-New-York-Times-Cachaça. O caso foi patético e o desafio era identificar se era truculência impulsiva ou sinal de autoritarismo por parte do Governo Lula. Duas opções tristes. Se um jornalista desagrada um presidente da república, o máximo que deveria acontecer seria o assessor de imprensa numa entrevista coletiva dar uma resposta bem inteligente; e pronto. E pronto.

Em segundo lugar, coloca-o nas mãos de políticos. Quem espalha aos jornalistas que o presidente bebeu nesta ou naquela reunião reservada são os deputados e senadores dos partidos aliados. Qual o motivo? Não seria para enfraquecer o governo e, dessa forma, forçar a liberação de emendas e a nomeação de seus apadrinhados para órgãos públicos?

(Diogo Mainardi em Abstinência da razão, artigo publicado em Revista Veja em sua edição de 19 de maio de 2004.)

Não sei como anda a dieta do Lula em 2023, mas sei que hoje ele não é capaz de mandar repórteres “viajarem” se estes o incomodarem. Mais porque o Governo Lula está fraco do que por republicanismo?

 

2 de outubro de 2023

Nordeste

Site do Governo do Estado de Pernambuco

(2023 “Mais trabalho, mais futuro”)

https://www.pe.gov.br/

https://www.pe.gov.br/blog/71-blog/saude/806-governadora-raquel-lyra-anuncia-reforma-do-hospital-da-restauracao-e-obra-de-contencao-de-encostas-em-jardim-monte-verde

“PUBLICADO: QUINTA, 28 SETEMBRO 2023 12:16

GOVERNADORA RAQUEL LYRA ANUNCIA REFORMA DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO E OBRA DE CONTENÇÃO DE ENCOSTAS EM JARDIM MONTE VERDE”

Antes de mais nada: mulheres: a governadora Raquel Lyra e sua vice, Priscila Krause. Legal isso. Outra coisa interessante é que não são informados os partidos dos políticos citados no texto. Por quê? A reportagem fala sobre os anúncios de obras depois do Ouvir para Mudar, projeto que percorre quilômetros e ouve dezenas de pessoas. Bom, é uma reportagem governista. Tudo bem. Que tudo termine bem.

Folha de Pernambuco

(“Compromisso com você 1998-2023”)

Manchete principal do site é sobre um acidente em um parque de diversões. Na versão impressa a manchete é sobre o novo formato dos concursos públicos em todo o Brasil. Em Cabrobó o prefeito foi proibido de divulgar uma pesquisa que mostrava que ele tinha muita aprovação popular; não há muitas explicações no texto (coluna do Carlos Britto)  mas parece que os bastidores da pesquisa feita não a tornam angelical.

https://www.folhape.com.br/edicao-impressa/2544/02-10-2023/#edicao_impressa-2

 

 

CEPIA

Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação

https://cepia.org.br/

Crime é não falar. #ADPF442 #nempresanemmorta

https://cepia.org.br/2023/09/28/crime-e-nao-falar-lancamento-de-video/

Hoje,  28 de setembro é o Dia Latino-americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto.Para marcar a data a CEPIA se some a iniciativas desenvolvias por diversas organizações e coletivos na onda verde pela dignidade humana das mulheres e meninas, pela autonomia sexual e reprodutiva e pelo direito à escolha.

 

 

BBC Brasil

https://www.bbc.com/portuguese

O destaque é o relato de três brasileiros que trabalham na Inglaterra como motoqueiros entregadores. Eles ganham muito mais dinheiro, mas relatos de quem tem mais experiência parecem demonstrar que há crise econômica no horizonte inglês.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1v9gr16y7po

“Por que cientistas dizem que estamos perto de achar vida em outro planeta”

O planeta fora, bem fora, 120 anos-luz de distância de nós; chamado K2-18b tem probabilidades boas de abrigar vida. Depois vem a lua Europa do planeta Júpiter e a lua Titã do meu planeta Saturno. Quer mais notícia boa? Temos. Avanços no projeto Seti (aqueles dos radares que procuram “ouvir” sinais de vida inteligente) devido à sofisticação dos últimos telescópios. Isso porque com telescópios mais modernos, o pessoal do Seti pode ser menos aleatório na hora de mirar os seus radares.

Antologia do Folclore Brasileiro 1 de 25

 

Antologia do Folclore Brasileiro 1 de 25

 

 

 Aos cantadores e violeiros analfabetos e geniais,

às velhas amas contadeiras de estórias maravilhosas

fontes perpétuas da literatura oral do Brasil, ofereço,

dedico e consagro este livro que jamais hão de ler...

Que jamais hão de ler; é verdade, mas elas e eles sempre estarão à espera de nós.

 

 

Luís da Câmara Cascudo adoooora fazer uma citação em língua estrangeira sem traduzir. Danado!, mas ele pode; amo ele então perdoo fácil fácil. Mas isso seria coisa para Global Editora fazer aqueeeelas notinhas de rodapé né? Pois é… Deixa pra lá.

 

 

O cancioneiro popular vai mais longe e eu preciso conhecer o Franz Boaz mais de perto. Quando meu amado Will Durant apresentou o Francisco Boaz para mim em A Filosofia da Vida, fiquei totalmente encantado e conquistado. Tem livro do Chiquinho Boaz em português? Preciso procurar.

 

 

Um apito pequenininho feito de um ossinho de animal ficou 12 mil anos em silêncio até ressuscitar pelas mãos de Hernandez-Pacheco, naquele encontro feliz em uma caverna em Paloma; Astúrias. Pois pois, aqui nesta antologia teremos a mesma coisa: flautinhas de muita gente que registrou pedaços da cultura popular brasileira ao longo de séculos irão cantar novamente. Para você que me lê.

 

 

Ah!, mas é maravilhoso! Simplesmente maravilhoso! Eu mal começo a Antologia do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, e já tropeço no primeiro registro presencial do encontro das lendárias guerreiras amazonas! E por um religioso! Como todo respeito frade Gaspar de Carvajal; mas é impossível ignorar os meses e meses de fome e sede em uma viagem mortal em alto mar em um navio cheio de homens fedorentos e os paralelos freudianos tudo tudo misturado para explicar a sua visão das amazonas.

"Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão de saber que eles são súditos tributários das Amazonas, e conhecida a nossa vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós a vimos, que andavam combatendo diante de todos os índios como capitães e lutavam tão corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, ao que fugia diante de nós, matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.

Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entraçado e enrolado, na cabeça. São muito menbrudas e andam nuas em pêlo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma dessas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porcos-espinhos."

(Frei Gaspar de Carvajal)

[Páginas 58 a 61 de Descobrimento do Rio Amazonas, de frei Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña; com tradução e notas de C. de Melo-Leitão. Volume de número 203 da Colação Brasiliana {São Paulo, 1943}.].

Brancas, altas e com cabelos lisos. E todo o resto do relato do frei sugere que ele gostava de narrar uma luta: “... uma coisa maravilhosa de ver-se”.

 

 

- Aí vem a nossa comida pulando.

Mais uma história fabulosa, mas mais real. Quer dizer, também acredito nas amazonas; claro, claro. Cof! Cof! Mas onde eu estava? Como todo o respeito, mas não posso resistir e uso minha brasilidade como imunidade:

- Pula, Hans Staten, pula!

 

Pelo menos uma vez por mês a bebedeira indígena a noite toda, dançando sem parar, fazendo um barulho “formidável”. Repartem a comida e raramente ficam zangados uns com os outros. Isso é que é programa de índio!

 

Tentaram nos obrigar a sair do barco que encalhou no rio subitamente por causa da maré baixa. A ideia era fazer muita fumaça de pimenta e para isso os índios tentaram fazer uma fogueira, mas o fogo não pegou. Escapamos.

 

 

Bom, é de época e é preciso compreender; mas as palavras do padre Manuel da Nóbrega podiam ter aquela tolerância gentil dos antropólogos. Triste, triste.

 

 

A mesma coisa com o José de Anchieta, infelizmente. Os índios não conhecem o deus verdadeiro, mas em compensação os demônios selvagens eles conhecem praticamente todos, José de Anchieta? Triste, triste, mas é o contexto, o contexto.

 

 

 

Livremente inspirado em Antologia do Folclore Brasileiro, 1944, organizado pelo

Professor dos professores, o mestre dos mestres, a mistura de Aristóteles e poesia, a mistura do luar que perfuma o rio Potengi com o sol que vivifica o Rio Grande do Norte: Luís da Câmara Cascudo.

(2003, Global Editora e Distribuidora Ltda, São Paulo, edição em dois volumes.)

[1 de 25].

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

28 de setembro de 2023

 

28 de setembro de 2023

 

Amigo, não aguento mais reapresentar o que achei mais interessante de Teorias da Personalidade, de Fadiman e Frager. É um dos livros mais maravilhosos que já conheci, mas graças à minha desorganização fiquei tempo demais com ele e não aguento mais. Mas ainda falta a parte oriental do trem e o Abraham Maslow.

 

Era para ser William James, Alfred Adler, mulheres, oriente e pronto. Mas uma citação que por acaso encontrei do Abraham Maslow, mais uma coisa que ele escreveu sobre sinergia me fizeram acreditar que eu precisava dele. A citação tem haver com o pessimismo estrutural-essencial em Freud, coisa que até um leigo como eu já suspeitava. Sinergia é porque a minha família aqui tem sinergia zero, a gente não consegue olhar na mesma direção e frequentemente nos vemos falando línguas diferentes. Trabalho em equipe é quase impossível. Pouco mais do que três pessoas estranhas morando na mesma casa.

 

Mas eu preciso terminar o trabalho. Sou tão infantil e terminar o trabalho tem algo de adulto e maduro não é? Então vou ser breve e posso até transformar as lições em textos reservas para este blog ser diário. Quem sabe? Então vamos começar logo.

 

Havia um crescente orientalismo nos Estados Unidos em meados da década de 1970. Orientalismo no Ocidente tem quase sempre, mas em alguns momentos o trem tá forte. E vice versa, já que no Oriente o pessoal também inventa de querer imitar-nos. O que nós claro, aqui, achamos uma tremenda bobagem. Mas é preciso acreditar que os sábios de cada lado vão saber desenvolver-se e as melhores ideias vão florescer melhor com a mistura inevitável. Apesar da frequente burrice da humanidade “cantar de galo” frequentemente.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

27 de setembro de 2023

 

27 de setembro de 2023

 

Meu amigo, como você vai? Eu sei que você está morto e também sei que só lembrei-me de você agora, mas eu preciso escrever para alguém! Por isso nunca consegui escrever um diário, eu preciso saber que estou escrevendo para alguém. Mesmo que a chance seja de 0,00001%. Se não é zero, já é suficiente para mim.

 

Mas como você está? Sei que você está no céu. Sou agnóstico, mas sei que você está no céu. Este catolicismo não praticante de minha parte. Fazer o quê? Humanismo renascentista e iluminismo; pois não me venham com crachás de procuração para falar em nome de tudo aquilo que é divino! Divino é apenas o humano.

 

Mas onde a gente estava? Eu me formei em jornalismo. Era para você ter se formado também, se não fosse o ataque cardíaco no jogo de vôlei. Bom, desde então eu continuei praticamente o mesmo. Minhas experiências profissionais pararam em 2013. Eu não sei explicar 2013-2023. Não é uma década perdida, eu só não sei identificar a sabedoria escondida ali naqueles dez anos. Os meus sete anos de Thorstein Veblen viraram dez anos aldrinianos.

 

Eu sou mesmo uma marmota. E como eu tenho medo! Medo de altura, medo de dirigir (apesar de saber dirigir uma locomotiva a vapor, mas essa história conto em outra ocasião), medo da violência, medo de virar adulto e medo de intimidade. A se acreditar naquele teste de psicologia on line e mesmo numa olhada para minha vida pregressa, o meu medo de intimidade é mesmo o central. Eu devo ter o ego mais frágil do mundo ou o mais forte, não sei se faz diferença isso; não tenho intimidade com a escola de pensamento psicanalítico. O que fazer? Olha só, só reclamei, só dei voltas em mim mesmo nesta primeira vez que converso contigo. Ah, ego meu! Mas é só a primeira carta.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Henriqueta e os índios

 

Henriqueta e os Índios

 

Marco Temporal

- Mãe, você já viu isso acontecer no Brasil?

Aí minha mãe, muito influenciada pelo bolsonarismo, ficou mais tranquila.

Os latifundiários/ruralistas medonhos vão vencer no final como sempre, mas é justo comemorarmos com os nossos índios brasileiros a votação no Superior Tribunal Federal que julgou o Marco Temporal injusto. Nos meses e meses que antecederam a Constituinte (as reuniões prévias para escrever a nossa atual constituição), o campo brasileiro sofreu nas mãos dos latifundiários mais medonhos. Estavam com medo da nova constituição, então esses latifundiários medonhos atacaram com uma violência assustadora. O medo era infundado, pois, como explicou Lúcio Flávio Pinto, o maior jornalista do Brasil, a nova constituição foi conservadora neste aspecto do direito à terra. Mesmo até em relação ao famoso Estatuto da Terra do Governo Ditatorial do General Castelo Branco.

Os territórios reservados aos indígenas são ilhas em meio às ameaças constantes de ataques vindo de todos os lados, mas os críticos dos índios gostam de mentir com Matemática ao somar todos os territórios e apresentá-los juntos em um mapa para impressionar as pessoas. Inteligente, mas desonesto.

 

 

Henriqueta Lisboa

Voltei a ler um poema da Obra Completa de Henriqueta Lisboa (2020, organização de Reinaldo Marques e Wander Melo, Editora Petrópolis, São Paulo, 2020) antes de dormir. É mulher e é poeta, o que não é muito comum de se ver em minha biblioteca pessoal. Além do mais ela é mineira e eu gosto de pensar que eu sou um bom mineiro. Seja lá o que for o que é ser mineiro ou mineira. Mas o principal não é isso. Nem a edição em três volumes ser em encadernação bonita e luxuosa. Nem ser uma “obra completa”. Nem o fato dela ter o charme de ser uma autora não muito popular entre o grande público (como acontece com a também poetisa Cecília Meireles). E nem o fato de nascida no comecinho do século XX, este período histórico que gosto tanto que é a belle époque. Na verdade o trem essencial verdadeiro foi o fato que pela milésima vez uma escultura feita em homenagem a ela foi vandalizada em Belo Horizonte. Pela milésima vez roubaram as mãos da estátua representando a Henriqueta Lisboa e jogaram tinta na estátua. Fiquei com dó.

Mas tudo isso é nada, o fato é que ela é uma grande poetisa mesmo. Henriqueta Lisboa realmente é uma poetisa de primeira grandeza. E dormir depois de ler um poema dela é perfeito. Perfeição que promete durar bastante tempo porque vou ler a obra dela toda.

 

 

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Elizabeth Lloyd Mayer e a Psicologia da Mulher 10 de 10

 

Elizabeth Lloyd Mayer e a Psicologia da Mulher 10 de 10

 

Tá achando que ser mulher é fácil? Tá achando errado. Tá achando que o trabalho intelectual é fácil? Tá achando errado. O caminho é bonito, mas também muito carente de nosso esforço. Segue o trem:

 

 

Reading on the Psychology of Women, antologia organizada pela Judith M. Bardwick (1973, Editora Harper & Row, Nova Iorque).

 

 

“Sex”, texto de Alfred Adler publicado em Psychoanalysis and Women. Organizado pela Jean Baker Miller (1973, Editora Penguin, Baltimore).

 

 

Women and Madness, de Phyllis Chesler (1972, Editora Doubleday, Nova Iorque).

 

 

O Segundo Sexo, de Simone Beauvoir (1952).

 

Mother and Amazons: the First Feminine History of Culture, de Helen Diner (1965, Editora Julian Press, Nova Iorque).

 

 

The Dialetic of Sex: The Case for Feminist Revolution, de Shulamith Firestone (1970, Editora Morow, Nova Iorque).

 

 

“Feminine Psychosexual Development in Freudian Theory: A Historical Reconstruction”, texto de Zenia Odes Fliegel publicado em The Psychoanalitic Quarterly (“42:385-405”. Com certeza é número 42 e páginas 385 a 405).

 

 

The Feminine Mystique, de Betty Friedan (1963, Editora Dell, Nova Iorque).

 

 

Women´s Mysteries: Ancient and Modern, de M. Esther Harding (1971, Editora G. P. Putnam´s Sons, Nova Iorque).

 

 

Feminine Psychology, de Karen Horney (1967, Editora Norton, Nova Iorque).

 

 

Man´s World, Woman´s Place: a Study in Social Mythology, de Elizabeth Janeway (1971, Editora Dell, Nova Iorque).

 

 

The Feminine Character: History of an Ideology, de Viola Klein. 1946. Uma percussora da teoria do “Lugar de Fala”, de Djamila Ribeiro.

 

 

The Fear of Women, Wolfgang Lederer (1968, Editora Grune & Stratton, Nova Iorque).

 

 

The Development of Sex Differences, organizado pela Eleanor E. Maccoby (1966 e “Stanford, Calif.: Stanford University Press”).

 

 

Psychoanalysis and Feminism, de Juliet Mitchell (1974, Editora Pantheon, Nova Iorque).

E

Women´s State, de Juliet Mitchell. (1971, Editora Random House, Nova Iorque).

Pelo que li das pequenas resenhas que acompanham a bibliografia comentada pela Elizabeth Lloyd Mayer, a Juliet merece parecer aqui destacada com duas obras suas. Poderosa Juju!

 

 

Sisterhood is Powerful: an Anthology of Writings from the Women´s Liberation Movement, de Robin Morgan (1970, Editora Random House, Nova Iorque).

Este livro aparece no filme maravilhoso Mulheres do Século 20 (“20th Century Women”, 2016, Mike Mills, Annette Bening, Lucas Jade Zummann e etc.). Escrevi mais a respeito nesta crítica Homens do Século 20 (https://amorequeijo.blogspot.com/2022/11/homens-do-seculo-21.html).

 

 

The Diary of Anais Nin, de Anais Nin. Anais Nin! Ah! Ah! Eu já comprei Em Busca de um Homem Sensível, pelas mãos daquele catador de papel. Mesmo livro que a Dina Sfat leu e gostou. A Dina até mandou um dos namorados dela ler, porque ele era meio imaturo. Se eu já li a Anais Nin? Não, mas já li um dos namorados dela: Henry Miller. Mas agora falando um pouquinho mais sério: olha como a Elizabeth Lloyd Mayer elogia a Anais Nin na pequena resenha que acompanha a obra citada. Uau!

 

 

Psychoanalysis and Female Sexuality, organizado pelo Hendrik M. Ruitenbeck. (1966, “New Haven, Conn.: College and University Press”.).

 

 

Getting Clear, de Anne Kent Rush. (1973, Editora Random House-Bookworks, Nova Iorque.).

 

 

“Problems in Freud´s Psychology of Woman”, texto de Roy Schafer publicado em Journal of the American Psychoanalytic Association (“22:459-485”, quase com certeza seja mesmo número 22 e páginas 459 a 485.).

 

 

The Nature and Evolution of Female Sexuality, de Mary Jane Sherfey. (1972, Editora Ramdom House, Nova Iorque).

Ora ora, uma Mary Jane! Eu já contei aqui que eu fui leitor apaixonado das revistas em quadrinhos do Homem-Aranha? A nossa Mary Jane aqui também se destaca. Citando da pequena crítica da Elizabeth: a Mary Jane Sherfey escreve sobre a sexualidade feminina do ponto de vista médico-psicanalítico oferecendo-nos a sua visão “ponderada, erudita e radical”.

Ponderado, erudito e radical. Muito adjetivo bom junto. Parabéns, Maria.

 

 

The Flight from Woman, de Karl Stern. (1965, “Farrar, Strauss and Giroux”, Nova Iorque).

 

 

Women and Analysis: Dialogues on Psychoanalytic Views of Feminity, organizado por Jean Strouse. (1974, Editora Viking, Nova Iorque).

 

 

Não sei reescrever o trem, então vai no original:

Clara Thompson, “1964, On Women, Selecionado por Maurice P. Green a partir de Interpersonal Psychoanalysis. New York: New American Library.”

 

 

Para a chave torna-se dourada, para dar voz à Elizabeth que ficou aqui escrevendo o tempo todo a respeito de outras e outros. Para aumentar a responsabilidade e a sedução a quem está lendo este blog.

Vai vai Beth!

É provável que mudanças radicais nos valores sociais somente possam ocorrer na medida em que os indivíduos numa dada sociedade se engajarem num auto-exame que leve à compreensão psicológica e à liberdade de escolher e alterar valores profundamente estabelecidos. Todas as teorias da personalidade discutidas neste manual têm contribuições úteis a fazer na facilitação deste auto-exame. No próprio processo de auto-exame podemos criar teorias melhores que todas elas.

ELIZABETH LLOYD MAYER.

 

 

Livremente inspirado em “Uma Apreciação da Psicologia da Mulher nas Teorias da Personalidade: Freud, Reich, Adler e Jung”; por Elizabeth Lloyd Mayer. Apêndice do livro Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager (Traduções de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié; com a coordenação de Odette de Godoy Pinheiro, 1979, São Paulo, Editora: Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda).