Rússia e a Susana Malvada
Três “retratos” sociológicos sobre o Brasil, Estados Unidos e a Rússia em 2000 e 2001. No Brasil é o censo feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; https://www.ibge.gov.br/ ) em 2000; nos Estados Unidos a pesquisa também é de um censo realizado em 2000; e no caso da Rússia é uma pesquisa feita pelo The Christian Sciense Monitor ( https://www.csmonitor.com/ ; eu não conhecia e parece que sim é um trem antigo e respeitável).
“Brasil, Rússia e EUA”, de Luiz Felipe de Alencastro (Revista Veja, 23 de maio de 2001).
Agora vamos para alguns pontos que eu acho filosoficamente interessantes. Tudo bem que é um trem antigo (2000-2001), mas para a filosofia isso é um detalhe.
No Brasil.
– Casais tendo menos filhos é um fenômeno complexo, com fatores causadores conhecidos e outros surpreendentes. Entre esses últimos temos a influência de novelas de televisão onde também aparecem casais com menos filhos (um ou dois). Achou interessante? Bom, o Luiz recomenda procurar o sociólogo Vilmar Faria.
– O crescimento urbano continua, mas o fluxo é menor quanto a distância; ou seja: as cidades menores tiveram um crescimento maior se comparadas ao crescimento das grandes cidades de um mesmo Estado. O que não quer dizer que nas grandes cidades de sempre problemas de sempre, como favelas, não tenham aumentado.
Estados Unidos.
– Nos Estados unidos algo surpreendente: os casais estão tendo mais filhos nesse início do século XXI. Coisa incomum entre países ricos e desenvolvidos. Além de mais bebês temos um aumento significativo quanto à expectativa de vida. E mais, nos Estados Unidos o número de habitantes de origem ibero-americano cresceu demais, demais. Bom, isso tudo parece uma notícia boa. Sim, mas o sistema é bruto: a Previdência Social vai precisar aumentar a idade com quem as pessoas se aposentam e vai ser preciso saber se isso não vai gerar tensão étnica entre a geração mais nova (mais especificamente a parte de origem latina católica, a parte negra e asiática) e a geração mais velha aposentada (de origem predominantemente branca, anglo-saxã e protestante). Não conheço os Estados Unidos intimamente, mas sei que lá essas tensões étnicas infelizmente acontecem muito. Não sei como anda a Previdência Social por lá em 2023. Bom, depois de duas décadas algumas coisas devem ter mudado.
Mas a Rússia...
– Mas na Rússia o trem é bem bem pior. A Rússia chega ao século XXI com a economia encolhida quase pela metade! E notícias ruins não são solitárias; olhem isso:
“Doenças, alcoolismo, desemprego e suicídio atingem todas as casas. Metade dos homens russos morre antes dos 30 anos, e as doenças tornaram estéreis 30% das mulheres em idade de procriar.”
Luiz Felipe de Alencastro menciona que o pesquisador Nicholas Eberstadt que fala em tragédia sem precedentes. Assustados? Eu também fiquei. Mas o sabemos sobre a Rússia de séculos passados, de 2000 e mesmo agora em 2023? Eu sei muito pouco. No Canal Arte1 ( https://canalarte1.com.br/ ) as vezes reprisa um documentário sobre Leão Tolstói e eu já assisti a alguns trechos dele: mas ali é algumas grandes cidades me parecendo “normais europeias” e algumas cidades no campo também parecendo “normais europeias”. Mesmo a pobreza discretamente mostrada me pareceu “comum”. Eu sou brasileiro, não é? Tinha aquele grande documentário meio ficção e dividido em diversos episódios sobre Fiodor Dostoievsky. Mas nesse último caso é uma obra de época. O mais “científico” foi um documentário que assisti no canal TV Escola. Não lembro o nome, foi há muito muito tempo. De fato, a Rússia ali me pareceu pobre ali. Mas uma pobreza ligada ao campo, como um país ainda eminentemente rural. A infantilidade de alguns jovens adultos e sonhos de uma Rússia novamente imperialista foi o que me chocou realmente na época. Mas agora por estes dados da The Christian Sciense Monitor ( https://www.csmonitor.com/ ) confesso que fiquei realmente preocupado com a Rússia. Um país tão poderoso doente desse jeito? Talvez isso tenha uma ligação com a política externa russa tão violenta. Hum...
De 2001 para 2023
E como escrevi, notícias ruins não costumam ser solitárias. E o nosso Censo 2023? Eu já fui recenseador do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; https://www.ibge.gov.br/), então tenho um certo carinho pelo Censo. Bom, a jornalista Idiana Tomazelli entrevistou o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto; pesquisador e estatístico. E o trem sobre o Censo 2022 é uma catástrofe completa. Uma das heranças tristes do Governo Bolsonaro.
– Susana estava fora do Brasil uns 20 anos, não tinha experiência e chega demitindo pessoas em cargos chave.
– Diminuiu o número de perguntas do questionário.
– Diminuiu o orçamento e nem manteve o que já estava previsto.
– Aparece a Covid-19, cortam mais ainda o orçamento.
– Susana pede demissão. O que era ruim transforma-se num caos.
– Caos, caos. Poucos dias de treinamento para os recenseadores.
– Atraso no pagamento dos recenseadores. Para não mencionar o problema dos valores do salário. Irritados, muitos pedem demissão. Os administradores tinham um “plano B”?
– É normal ter alguma resistência dos entrevistados, mas para isso é que existe as campanhas educativas meses antes dos recenseadores saírem às ruas. Vê se alguém do Governo Bolsonaro lembrou disso?
– Vamos ter que fazer um novo Censo? Quase 2,5 bilhões de Reais para nada?
– O IBGE ainda não tem uma presidenta ou presidente em janeiro de 2023 desse novo governo.
– Caos, caos, nesse Censo 2022. O pessoal simplesmente não acredita nos poucos dados que estão aparecendo, por causa desse caos nos bastidores. Então tem lugar recorrendo à justiça.
Vamos ter que fazer um novo censo depois de três anos atrasado????
Agora vamos filosofar um pouco.
– Bah, guri. Se cada cidade grande ou pequena cuidar de seu nariz não precisa desses federais fofoqueiros!
– Não é bem assim, pois o Governo Federal precisa ajudar fazendo projetos nacionais. E nem toda cidade pode fazer esses raio-x sociológico. E uma pesquisa nacional é mais imparcial que uma pesquisa feita pelos munícipes, entende? E tem outros motivos que não me ocorrem agora. É importante sim ter censo. Saber como o nosso Brasil está. É importante sim ter censo e senso. A propósito disso, vou reler aquela crônica do Carlos Eduardo Novaes sobre censo e senso. (risos)
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