domingo, 28 de março de 2021

Missa do Galo, 1899

 

Missa do Galo” (Páginas Recolhidas, 1899)


Sim, o conto de Machado de Assis Missa do Galo” faz por merecer toda toda fama que possui.


Pelo sorriso da Kalki Koechlin!, ainda bem que a leitura de “Missa do Galo” não foi o que eu esperava! Não foi bom, não foi ruim, foi… um vento…?

Na verdade eu não sei o que ela foi. A metáfora a imagem mais tradicional aqui seria a de um “tapa na cara”; mas isso poderia sugerir agressividade que deixa marca na pele. A marca deixada não foi na pele.

Ah… Não foi bom, não foi ruim, foi… um vento. Foi… Foi a Penélope Cruz em lágrimas naqueles seus olhinhos perfeitinhos sobre aquele breve breve instante em que “o Amor verdadeiro pareceu possível” [“Vanilla Sky” (“Vanilla Sky”, Penélope Cruz, Cameron Diaz, 2001, Cameron Crowe, Alejandro Amenábar, Mateo Gil, Tom Cruise, Kurt Russell, Jason Lee etc.) {*} ]. E também foi o meu vovô materno Valdir lamentando a sua solidão para mim e eu não percebendo a tempo (mas isso foi muito antes de 2017 e antes de 2017 eu conseguia ser ainda mais idiota do que eu sou agora).

Ler “Missa do Galo” não foi bom, não foi ruim, foi um vento. Foi uma possibilidade, uma chance, uma escolha, uma bifurcação, e um “e se...”. E o maior milagre do Universo, - a nossa vida -, é pouco mais do que isso. Eu espero que você já saiba disso. Espero mesmo.


“— Não! qual! Acordei por acordar.

Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria alguma coisa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era boa, muito boa.

Não quero parecer caliente, - pode ter alguém entendido de Freud lendo-me, internet é coisa traiçoeira- , mas a vontade que tenho é de chamar o Nogueira de tapado. Ou, indo mais longe até os braços da heresia mais imperdoável, dizer que Machado de Assis errou flagrantemente na coerência criando um narrador-personagem tão observador sagaz e ao mesmo tempo tão ingênuo. Mas é claro que não é o caso: Machado de Assis não erra e eu estou mesmo a sonhar com uma Conceição, empoderada e experiente, a perguntar-me pertinho pertinho de meu ouvido porque gosto de ler Paulo Mendes Campos e notas de rodapé em livros de filosofia

Quanta bobagem para fazer propagando de uma obra-prima, Aldrin! É a neblina de sugestões e ambiguidades cobrindo aqueles personagens, aquela sala naquela noite, impedindo-me também a mim de fazer uma observação inteligente aqui. Então, leitoras e leitores; vocês me acompanham nas leituras e releituras? Não é justo que apenas Nogueira e eu fiquemos com cara de bobo naquela sala do escrivão Meneses, à espera de um ano novo a curar a solidão de corações em chamas.



* Parece que “Vanilla Sky” é uma versão hollywoodiana de “Preso na Escuridão” (“Abre los Ojos”, Penélope Cruz, 1997, Alejandro Almenábar, Mateo Gil e etc.). Conheço “Vanilla Sky” e gosto do filme, não só pelos olhinhos da Penélope, mas por causa também do roteiro. Pesquisando os créditos para este texto, descobri esse “Abre los Ojos”. Parece-me bom, também porque ao continuar a pesquisa descobri que Alejandro e Mateo dirigiram e escreveram dois outros filmes que também me pareceram muito interessantes: “Alexandria” (“Agora”, Rachel Weisz, 2009, Alejandro Almenábar, Mateo Gil, Oscar Issac e etc.) e “Mar Adentro” (“Mar Adentro”, 2004, Javier Bardem, Alejandro Almenábar, Mateo Gil e etc.). Antes de terminar esta nota de rodapé, um instante para a justiça cultural. O Kurt Russell e o Jason Lee estão maravilhosos em “Vanilla Sky” e a crítica especializada não costuma olhar para esses dois como sendo bons atores. Bom bom, em “Vanilla Sky” eles estão ótimos; principalmente o Kurt.

Ah!, Ah!, quase me esqueci!!!! Escrevi que “Vanilla Sky” é uma versão hollywoodiana de “Abre los Ojos”; bom, queria falar mais sobre isso. Hollywood também fez uma versão do maravilhoso perfeito majestoso inesquecível inimitável insuperável e il magnifico “Deixe Ela Entrar” (“Låt den rätte komma in”, Lina Leandersson, 2008, Tomas Alfredson, John Ajvide Lindqvist, Kåre Hedebrant e etc.). Lembro-me que assisti a esta joia por acaso, quando a TV Cultura passava filme bom em horário nobre. Foi há muitos anos. Eles passavam um filme de ficção não muito comercial às 22 horas e na mesma semana passavam um documentário. Sobre os documentários lembro de um episódio curioso de guerra de propaganda. Uma vez eles passaram um documentário sobre a Leila Khaled e na semana seguinte eles passaram um documentário sobre o Holocausto na Segunda Guerra Mundial. Acho curioso essas coisas de guerra de propaganda, embora a leitora e o leitor aí do outro lado do monitor deve estar achando essas minhas observações coisa de aborrecente; dada a gravidade dos assuntos tratados. Vai ver é uma auto defesa minha parte diante de um mundo cronicamente violento.


Faltou ainda dizer mais uma coisa. Escrevi grande parte deste texto sobre “Missa do Galo”, do Machado de Assis, escutando sem parar Ennio Morricone e sua música tema para “A Missão” (“The Mission”, Cherie Lunghi, 1986, Roland Joffé, Robert Bolt, Robert De Niro, Jeremy Irons e etc.).

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