quinta-feira, 25 de março de 2021

Trio em Lá Menor, 1896

 

Trio em Lá Menor” (Várias Histórias, 1896)


Então, leitoras e leitores; vocês sabem? Você sabe? Não se torce pelo Atlético ou pelo Cruzeiro, se prefere ouvir Beatles ou Rollins Stones, se gosta de muita farofa ou de muita muita farofa, ou se acha graça nas piadas do Monty Python ou se você é uma pessoa que-não-acha-graça-no-humor-do-Monty-Python-logo-você-seria-uma-pessoa-chata-demais-o-que-faz-aqui-no-meu-blog-cai-fora-agora. Não, não! Eu quero saber se você sabe que dentro do seu peito há uma ou duas estrelas. É, igual a Maria Regina. Mas nem a Maria Regina sabia o que ela tinha. É difícil saber, mesmo porque de longe as duas estrelas podem parecer apenas uma por causa da distância e brilho. Muito difícil. Machado de Assis sabia. Mas não conta, porque Machado é Machado e ele sabe tudo mesmo. Nós, poeira efêmera, por outro lado; ficamos na ignorância se somos uma estrela solitária em um canto de um universo infinito e infinito também em indiferença, ou se a solidão nossa é na forma de uma dança cega entre duas estrelas. Enquanto isso sonhamos, se tivermos coração forte, não com ouro, mas sim com respostas às nossas perguntas.


Buscamos em nossa caminhada os alvos de nossos desejos e interesses. Se a leitora ou o leitor aqui for mais idealista, sinta-se livre para usar o termo “sonhos”.

Quem já assistiu a “O Discreto Charme da Burguesia” (“Le charme discret de la bourgeoisie”, 1972, Luis Buñuel, Jean-Claude Carrière e etc.), deve se lembrar, - até por influência de comentários prévios -, da sua cena mais famosa. A cena do jantar. Bom bom, também gosto desta cena. E cito o livro atraente “Minhas Mulheres e Meus Homens”, de Mario Prata; onde é contada uma história de bastidores entre Buñel e Carrière a respeito desta cena. Uma história comovente que termina no hospital e com um beijo. Leiam Mario Prata. Bom bom, mas não considero, filosoficamente, a cena do jantar a mais importante cena de “O Discreto Charme da Burguesia”. A mais importante cena para mim deste filme é outra. Muito repetida, inclusive. Os personagens correndo desorientados por uma estrada. Então, leitora ou leitor aqui deste blog; você esta correndo cegamente e sem parar em uma estrada? Ou já achou os pontos cardeais em sua vida?


A verdade pede que diga que esta moça pensava amorosamente em dois homens ao mesmo tempo, um de vinte e sete anos, Maciel — outro de cinqüenta, Miranda. Convenho que é abominável, mas não posso alterar a feição das coisas, não posso negar que se os dois homens estão namorados dela, ela não o está menos de ambos. Uma esquisita, em suma; ou, para falar como as suas amigas de colégio, uma desmiolada. Ninguém lhe nega coração excelente e claro espírito; mas a imaginação é que é o mal, uma imaginação adusta e cobiçosa, insaciável principalmente, avessa à realidade, sobrepondo às coisas da vida outras de si mesmas; daí curiosidades irremediáveis.

Alma feminina, narrador conversando com as leitas e leitores que se sentem cúmplices no ato de conhecer sem preconceitos esses personagens e suas histórias, um espelho sincero para conhecermos a nós mesmos, uma história bonita e profunda, um óculos (ou microscópio ou luneta) para conhecermos o mundo verdadeiro. Mais um conto de Machado de Assis, apenas. E isso é tanto tanto... E cada vez mais, quando a gente o relê! E só estamos começando aqui.


Na próxima postagem vamos descobrir o último conto de Machado de Assis de minha antologia de 17 contos dele. Justamente aquele conto que é o mais celebrado. A ordem cronológica coincidiu com o gosto de leitores e críticos; mas será que (****) faz por merecer essa fama toda?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, escreva e participe!