“Um Apólogo” (Várias Histórias, 1896); Machado de Assis
Mas é verdade verdadeira mesmo, o alfinete de cabeça grande é quem disse a coisa mais sábia neste conto. E podemos conferir isso fazendo uma viagem pelo mundo: um mosteiro franciscano no interior do Paraguai ou em um mosteiro budista em uma montanha do Tibet. O tempo a orar, duas ou três roupas simples e quase idênticas, refeições espartanas… E assim vai o dia, a semana e a vida. É uma fórmula muito antiga. E não é completa? Querer muito é querer sempre sempre mais e mais, oscilando e sufocando-se em frustrações quando não conseguimos e tédio quando conseguimos; querer menos é mais independência interior e também mais paz interior. Eis a resposta. E os “filhos das flores” (ou hippies) que ficam aqui na minha Rio Acima passando o fim de semana e feriados em uma das nossas inúmeras cachoeiras em barracas humildes, também não discordariam muito disso. Eis a resposta. Querer menos.
Mas querer menos até onde? Questão manhosa. Vou pedir ajuda a um dos textos mais profundos que encontrei na vida. É um decálogo escrito pelo professor e psicanalista Jurandir Freire Costa. Foi publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, mas em meu recorte eu não anotei a data. Presumo que deve ter sido em 2000 ou 2001, pois eu acho que era parte do suplemento “Mais!” dedicado à questão de como devíamos nos preparar para este nosso novo milênio. Em uma noite traiçoeira em que pensei muito em minha morte, o terceiro mandamento salvou-me a vida; mas aqui o que nos interessa é o sexto mandamento:
“6. Só desejarás a justa medida das riquezas: primeiro, o necessário; segundo, o suficiente (Sêneca).”
Vou tentar lembrar-me disso muito muito até que torne-se hábito. Gostaria que a agulha também lembra-se disso e não sentisse inveja do novelo de linha.
“— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?”
Lembro-me de ouvir, pelo rádio, um comercial do Banco Itaú a respeito de uma fórmula de economia: o ideal era chegar aos 30 anos com um ano de salário acumulado naquela parte da poupança que a gente só mexe em último caso. Isso foi há muitos anos atrás e agora com recessão e inflação em 2021, os números devem ter se alterado bastante. Lembro-me também, e acho que quem me lê também já deve ter ouvido falar pois é uma fórmula popular, de outra fórmula sobre economia: “A fórmula ABCD; A de alimento, B de básico, C de contornável e D de desnecessário”. O meu desejo de comprar os livros da Marilene Felinto e do Karl Popper, o mais cedo possível, estão dentro da letra A.
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