domingo, 7 de março de 2021

Cantiga de Esponsais, 1884

 

Cantiga de Esponsais (Histórias Sem Data, 1884)


Eu finalmente a escutei. Finalmente porque enquanto vocês perguntam ao Pai dos Burros, eu confesso que também fiquei curioso diante deste título exótico. Esponsais, esponsais, esponsais, esponsais… Quando montei esta antologia de contos consagrados de Machado de Assis (com ajuda das antologias organizadas por Deomira Stefani, M. Cavalcanti Proença, Ivan Cavalcanti Proença, Eugênio Gomes e a majestosa antologia da Editora Nova FronteiraSeus 30 Melhores Contos” publicada em 1987), este título atraía muito o meu olhar. Mas eu tinha que respeitar a ordem cronológica dos contos, pois queria crescer e amadurecer leitor juntinho com o Machado escritor.


A história do Mestre Romão é triste e eu não sei o que fazer a respeito.

Primeira coisa, toda racional, é tentar compreender os motivos deste fim triste. Se possível com distância fria e alguma ironia. Esta última ajuda muito quando tentamos enganar a tristeza. Assim, que tal o paralelo Mestre Romão e esposa; e Maxfield Parrish e a sua amante Susan Lewin? A hipótese de que sem o feminino a inspirar, o artista perde um dos motivos para tornar-se divino e também criar. Os leitores podem fazer careta dizendo que isso é “romantismo de século XIX”; bom bom pode ser, mas esta ideia ainda é popular entre as pessoas que gostam de arte.

Outra coisa que podemos fazer para decifrar/interpretar/consolar-nos não é alegre e isso talvez inspire mais respeito aí na leitora e no leitor do outro lado do monitor. Podemos misturar o conto de Machado de AssisCantiga de Esponsais” e o filme “Nunca te Amei” (“The Browning Version”, Greta Scacchi, 1994, Albert Finney, Matthew Modine, Mike Figgis, Terence Rattigan, Ronald Harwood e etc.). Nossa, como gostei e como achei bonito ver a figura do Andrew Crocker-Harris no final do filme ali no pátio da universidade! Coisa mais linda do mundo! Não penso na profissão de meus pais (que também foram professores) ou nas minhas frustrações amorosas (vou poupar os leitores ao não contar essas minhas histórias) em uma análise psicológica neste meu gosto pela figura de Andrew nas cenas finais do filme. Aqui não justifico e explico, apenas descrevo. A roupa preta-academia, a velhice-erudição, o silêncio-força, a tristeza interior invisível sinônimo de dignidade indestrutível

Mas …. Andrew foi infeliz em seu casamento longo demais e Mestre Romão foi feliz no casamento breve demais. Sim, eu sei; mas o alvo do desejo para mim aqui é a missão, a vocação, é o trabalho. E a humildade e dignidade que a acompanhariam e servir-lhe-iam de proteção. É isso que me interessou.


“— Isto não é nada; é preciso não pensar em músicas...

Em músicas! justamente esta palavra do médico deu ao mestre um pensamento. Logo que ficou só, com o escravo, abriu a gaveta onde guardava desde 1779 o canto esponsalício começado. Releu essas notas arrancadas a custo, e não concluídas. E então teve uma idéia singular: — rematar a obra agora, fosse como fosse; qualquer coisa servia, uma vez que deixasse um pouco de alma na terra.

Mestre romão teve um destino triste. Mestre romão amou uma vez há muitos anos, trabalhando foi chamado de “mestre” e no final achou sim achou sim a nota “lá”. A última mistura para não ser vencido pelo final triste de “Cantiga de Esponsais”, de Machado de Assis; a conclusão de “O Mito de Sísifo”, do Betinho Camus. Eu preciso imaginar o Mestre Romão feliz. Eu preciso. Sei que aqui não faço literatura, é apenas convites e testemunhos em um blog desconhecido em um cantinho desconhecido da internet. É pouco, mas continuo. Não. É pouco e continuo.

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