domingo, 21 de março de 2021

Conto de Escola, 1896

 

Conto de Escola” (Várias Histórias, 1896)


Conto de Escola” é parente do conto “Noite de Almirante”: simplicidade; simplicidade; somos humanos e é justo e esperado que o nosso sangue ferva as vezes, mas devemos ser simples; simplicidade; simplicidade. Mas Seu Pilar teve mais sorte que o Deolindo; pois a música, pois aquele dia lindo, as calças novas e amarelas dadas pela mãe, os fuzileiros marchando; tudo tudo isso tornava mais fácil deixar voar e cicatrizar um coração machucado…


Conto da Escola”, um dos contos mais populares de Machado de Assis sendo um dos campeões de presença em antologias diversas, é muito rico do ponto de vista sociológico. Meados do século XIX. Professor que fuma rapé na sala de aula e fica lendo jornal enquanto os alunos estudam a lição. E que, as vezes, de acordo com sua preferência política em paralelo com o que lia no jornal do dia, a lição e a palmatória poderiam ser mais ou menos doloridas aos seus alunos. Se no início do conto o narrador quer nos informar que estamos em 1840, na segunda folha somos informados também que a agitação pública era grande dado que o Brasil vivia o “fim da Regência”. Com 14 anos o Dom Pedro II vai ou não vai governar? Agora é interessante pensar em uma questão mais atual deste nosso Brasil do ano de 2021: a “Escola Sem Partido”. Lendo o “Conto da Escola” podemos concluir que como Brasília nos decepciona com regularidade triste, não faz muita diferença professores liberais ou socialistas e sim se estes mesmos professores são ou não são bem humorados. Pode parecer bobagem, mas a felicidade já foi definida como sinônimo de “insensibilidade”. O ideal seria que as escolas fossem uma ilha longe de Brasília…?


De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impaciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito.

Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo.

Diga-me isto só, murmurou ele.

Conto de Escola” pareceu-me muito muito familiar. Teria sido lido por mim nos tempos de colégio ou o palco do conto, uma sala de aula, está sendo usado pela minha memória para enganar o meu coração enamorado pelo universo de Machado de Assis? Eu não sei. É um bom conto, facilmente favorito para o nosso gosto popular; mas do ponto de vista psicológico não é tão tãããão poderoso.

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