quinta-feira, 13 de maio de 2021

O Lugar do Coração

 O Lugar do Coração


Adagiário Brasileiro”, de Leonardo Mota, 1979; com a ajuda dos filhos Moacir Mota e Orlando Mota.

(Editora Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1987, Segunda série da coleção “Reconquista do Brasil”. Volume 115. Capa do artista plástico Poty, ilustrações internas do artista plástico Aldemir Martins e prefácio de Paulo Rónai.)


"Bom coração quebranta má ventura."

Um encontro realmente surpreendente. A fé mais pura encontrando-se com o pragmatismo mais rude: o que é o coração bondoso, o coração de nosso coração, senão o escudo e arma derradeira diante do mundo? O último recurso, justamente a arma mais poderosa! É quando, na hora, fechamos os olhos, cerramos os dentes e esperamos. Mesmo a pessoa mais cruel e dissimulada em alguma coisa se apoia.
E a sabedoria da raposa (Maquiavel, sabedoria animal da psicanálise, dor, o que aprendemos com a arte…) é, por outro lado, para ser usada diariamente, no cotidiano, está sempre à mão, decorada, usada automaticamente… E assim caminha a humanidade… E não é assim? Bom… Dizem que no mundo há mais bondade do que justiça (Kant segundo o meu amado Will Durant) porque há primeira consegue ser mais espontânea, enquanto a segunda exige muito muito de nós. Talvez se o coração não estivesse tão profundamente enterrado no peito.

É bom julgar um livro quando isso é justo: conteúdo e forma, ainda na atmosfera da filosofia de Susanne K. Langer: pois a aparência desta edição de “Adagiário Brasileiro”, de Leonardo Mota, combina perfeitamente com o seu conteúdo. Mas não sei se vou conseguir explicar-me. Sabedoria brasileira; coisas que são ditas e ensinadas há séculos, um aprendizado do interior da África ou do oriente e que depois é escutada no sertão de Sergipe ou Paraná ou a noite antes de dormir pela voz carinhosa de nossa mãe… Bom, bom, o livro se parece com isso tudo. A edição é de 1987, mas parece ser mais antiga. Não é capa dura e não consigo ver na encadernação a goma arábica. Aliás, nem sei como as páginas continuam juntas! A capa e contracapa, na verdade a aparência toda, é séria, sóbria e de um formalismo cru. Os artistas Poty e Aldemir Martins nos transportam para o nordeste brasileiro com apensa um, dois traços. Decididamente não é fácil fazer isso. Não é todo desenho da Muralha da China nos coloca lá dentro, você me entende? As letras pequenas e o peso do livro e suas mais de 400 páginas; tudo tudo combina. Até o cheiro de livro velho, ah o cheirinho de livro velho... Tudo combina com o conteúdo! É maravilhoso.

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