segunda-feira, 12 de julho de 2021

Complicação é natural?

COMPLICAÇÃO É NATURAL?
Adagiário Brasileiro”, de Leonardo Mota, 1979; com a ajuda dos filhos Moacir Mota e Orlando Mota.

(Editora Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1987, Segunda série da coleção “Reconquista do Brasil”. Volume 115. Capa do artista plástico Poty, ilustrações internas do artista plástico Aldemir Martins e prefácio de Paulo Rónai.)


"Telegrama e trilho de ferro foi quem trouxe a carestia.
(O progresso encareceu a vida.)"
Antigo este adágio, héin? Eu devia ter escrito uma introdução para esclarecer quem foi o folclorista Leonardo Mota, de como os originais de “Adagiário Brasileiro” perderam-se e os filhos Moacir Mota e Orlando Mota amorosamente e heroicamente refizeram tudo, eu devia comentar sobre o prefácio erudito do Paulo Rónai; tudo isso antes de comentar os adágios que eu selecionei como os meus favoritos. Eu devia, mas não quis fazer isso.
O adágio em questão é antigo, mas a sua mensagem é bem próxima de nós: em 2021 vivemos melhor do que 1989, 1945, 1914, 1860, 1789, 1500…? O termo que empreguei, - “melhor” -, é bem manhoso, claro para a leitora e o leitor que, com certeza, lembraram da higiene, da invenção da anestesia, da rede mundial de computadores, da expectativa de vida… Mas quais, então, seriam os critérios? “Felicidade” pode ser, ao mesmo tempo, tão impreciso quanto preciso. Ou, outro exemplo, a questão do “tempo para nós mesmos”; o trabalho se misturando ao telefone móvel e com isso o conceito de “férias” muda. Ou a existência de autoras e autores, palestras que falam sobre ócio e isso tudo sinal de que trabalho-ócio-família agora tem um equilíbrio diferente. Se bobear, não sou especialista no assunto, mas essa coisa de “casa de repouso”, “spa”, um hotel “longe de tudo” e coisas do tipo, já deviam ser razoavelmente comuns em meados do século XIX; bem antes das cidades cidaaaaades nascerem. Sem mencionar os profetas antes de Cristo reclamando que as pessoas esqueceram que a simplicidade é a grande riqueza.
A história não é uma ciência, mas mesmo que aceitemos como “natural” que telegrama, trilho de ferro e outros “parentes tecnológicos” sempre vindo e vindo para o nosso cotidiano em constante mutação; não podemos correr o risco de deixar escapar por entre os dedos aquilo que é importante para nós.

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