Lula e Alckmin em 2006
São dois artigos do tempo em que eles eram adversários políticos disputando a presidência do Brasil. Lula querendo ser reeleito e Geraldo Alckmin querendo ser presidente pela primeira vez. Bom, de certa forma Alckmin será presidente porque o Governo Lula só terá sucesso se não for Governo Lula e sim Governo da Frente Ampla. Com Alckmin, Tebet, Lira e outros (Superior Tribunal Federal também?) trabalhando e aparecendo muito mais do que aconteceria em um governo “normal”. Ou alguém acha que a rejeição Lula-PT diminuiu e diminuirá? Teremos um parlamentarismo como em países “normais”? Ou continuaremos com o atual parlamentarismo à brasileira, com suas crises consoladas com o vil metal e oxigênio para inflar egos?
Os dois artigos assinados por Lula e Alckmin foram publicados lado a lado e o desenho do artista plástico Marco Gianotti também ajuda neste clima de respeito mútuo. A propósito, eu apostaria que Marco inspirou-se ou mesmo desenhou em cima de alguma fotografia em que Alckmin e Lula cumprimenta-se. A propósito: Folha de S. Paulo, 29 de outubro de 2006.
Selecionei um trecho de cada artigo. Assim assim, como documento histórico o trem todo não tem graaaande valor. Mas podemos espremer essa pequena laranja aqui na forma de alguns comentários que tentarão ser inteligentes. Vamos lá.
“O Brasil chega ao final de 2006 como o país menos desigual dos últimos 25 anos. 7 milhões de cidadãos venceram a linha da pobreza. O poder de compra do salário-mínimo aumentou 26% em termos reais, desde 2003.”
(“A esperança renovada”, artigo de Luiz Inácio Lula da Silva.)
Então tudo bem, mas são números e é a economia. Então hoje, 2022, isso significa tanto quanto no dia que os leitores leram o artigo. Menos do que deveria. Ah, tudo bem; exagerei um pouco. Mas a roda da economia é impiedosa.
“Crescimento econômico exige planejamento, ação, trabalho sério. Não vou cair nas discussões estéreis. Crescimento ou estabilidade é um falso dilema. O Brasil precisa dos dois. Crescimento sem estabilidade é fraude. Não existe. Estabilidade sem crescimento é perversão. Não deveria existir.
Os maiores entraves ao nosso desenvolvimento são conhecidos: carga tributária demais, investimento de menos e um Estado ineficiente no cumprimento de suas funções básicas.”
(“Muitos Brasis e um só desejo”, artigo de Geraldo Alckmin.)
Este trecho é mais gostoso de comentar, por ser mais amplo e filosófico. Divagar e divagar sempre. Vago, mas também por causa da nossa covardia que não valoriza as palavras quando estas saem do coração e vão para a boca pelo caminho do Amor. Mas onde eu estava? Esse trem de crescimento e estabilidade ficou muito bom, mas precisa de um tempero picante. E vermelho. Precisamos de você, Maria da Conceição Tavares.
“Uma economia que diz que precisa primeiro estabilizar, depois crescer e depois distribuir; é uma falácia. E tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui. E esta é a história da economia brasileira desde o pós-guerra (1945). Ou não é?”
(Trecho da entrevista da professora, economista, escritora e política Maria da Conceição Tavares ao programa Roda Viva; da TV Cultura. Inteligente, raciocínio rápido, oratória, idealista; trechos desta sua entrevista tornaram-se um fenômeno cultural no site YouTube.)
E? E nem sei o que comentar. Crescer com estabilidade, sem esquecer de distribuir durante o processo. Quando criança eu assistia aos telejornais ao lado de meus pais e achava uma coisa muito curiosa: o governo tendo… problemas. “Uai”, eu infantilmente pensava, “não basta o presidente e a equipe dele querer que uma coisa aconteça para ela acontecer?”. Mas é mesmo curioso isso na economia: os economistas, todos inteligentes e de boa-fé, se reúnem durante horas semanas meses e… o plano dá errado do mesmo jeito.
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