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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O Caminho do Eduardo

 

O Caminho do Eduardo


No final de sua História do Brasil (1997, Folha da Manhã e Zero Hora/RBS Jornal. Segunda edição.), Eduardo Bueno dá muitas indicações valiosas de leitura. É um verdadeiro tesouro este final de livro, esta bibliografia crítica. Segue uma seleção minha. Ah, que lista de desejos…!


Comecemos pelo começo, pela visão geral: os nossos dois grandes historiadores: Capistrano de Abreu e Sérgio Buarque de Holanda. Interessante em Capistrano é que não podemos ficar nos seus três livros “prontos” (Descobrimento do Brasil, Caminhos Antigos e Povoação do Brasil e Capítulos de História Colonial), mas também temos que procurar volumes que reúnam parte de suas cartas. É, cartas. Não sei onde li, mas uma vez saí por aí pela internet à procura de Capistrano de Abreu e descobri que ele escrevia cartas demais e isso até prejudicou ele que era desorganizado e assim ficou sem conseguir escrever a sua História Geral do Brasil. Ele sofria de “febre de cartas”, coisa comum na belle époque. Acho que hoje, 2022, Capistrano de Abreu ficaria viciado em redes sociais de internet sempre querendo chamar a atenção pelos seus comentários. Já o Sérgio Buarque de Holanda o caminho é reto: Raízes do Brasil, Caminhos e Fronteiras, Monções e Visão do Paraíso.

Agora dois nomes interessantes: José Honório Rodrigues e Francisco Iglesias (não é meu parente). Estes dois merecem uma olhada também.


Agora o trem fica mais pessoal. Do enigma brasileiro, os três temas para mim mais especiais: índios, negros e a república.

História dos Índios do Brasil – Organizado pela Manuela C. Da Cunha.

O Escravagismo Colonial – Jacob Gorender.

A Escravidão no BrasilPerdigão Malheiro.

Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin e a BahiaPierre Verger.

A Abolição do Tráfico de Escravos no BrasilLeslie Bethell.

Os Últimos Anos da Escravatura no BrasilRobert Conrad.

Abolição da EscravidãoSuely R. Reis de Queiroz.

O Tigre da AboliçãoOsvaldo Orico.

O Precursor do Abolicionismo no BrasilSud Menucci.

A Escravidão ReabilitadaJacob Gorender.

Os Republicanos Paulistas e a AboliçãoJosé Maria dos Santos.

Dialética da ColonizaçãoAlfredo Bosi.

Os Militares e a RepúblicaCelso Castro.

Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que Não FoiJosé Murilo de Carvalho.

O Exército na PolíticaJohn Schultz.

Relações entre Civis e Militares no Brasil (1889-1898)June Hahner.

Baile da Ilha FiscalJosué Montello.


Eu sonho e vocês compram esses livros todos para mim!

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Muito Bacon e um pouco de Leibniz

 

Muito Bacon e um pouco de Leibniz


Em meu antigo blog um resumo que fiz da Teoria dos Ídolos, de Francis Bacon, ajudou uma pessoa em seu trabalho. Era uma jovem, mas não sei se universitária. E o episódio faz muito mas muito tempo mesmo. Mais de 10 anos. Nem lembro do nome dela, minha vaidade quis apenas guardar que ela agradeceu. Mesmo porque ninguém comentava em meu blog e o comentário dela me deu um susto tremendo. Bom, reencontrei o texto e achei legal publicá-lo aqui também. Acrescentei algumas coisas para tornar o texto melhor.


Bryan Magee, no capítulo dedicado a Leibniz em História da Filosofia, diz que a distinção de Leibniz entre “verdades de fato” e “verdades da razão” (em linguagem moderna, respectivamente, “analíticas” e “sintéticas”) já foi considerada a teoria em que, se, pelo menos, ela for bem compreendida por uma aluna ou aluno; o estudo deste em filosofia terá valido a pena. Acho razoável, mas pessoalmente eu escolheria a Teoria dos Ídolos, de Francis Bacon. Está em sua obra-prima Novum Organum, como ferramente para as novas ciências que vai nos ajudar a construir um mundo mais feliz. O livro não é muito difícil de ler e quando a leitura me levava aos trechos mais citados das diversas Histórias da Filosofia que eu tinha, minha vaidade intelectual agradecia muito. Então vamos logo ao que interessa. Eu tenho certeza que você vai achar útil.

A formação de noções e axiomas pela verdadeira indução é, sem dúvida, o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos.




IDOLA TRIBUSÍdolos da Tribo / Raça (Erros inerentes à espécie humana).

Esperar mais ordem nos fenômenos naturais do que se encontra realmente. Acreditar demais demais em nossos sentidos, como visão, olfato… Conhecimento dado pelos sentidos é parcial. Imperfeições do intelecto (uma sementinha para Kant, que homenageia Bacon logo no início da sua obra-prima A Crítica da Razão Pura). Imagina paralelismos, correspondências, relações… Tendência verificacionista (só tem olhos para aquilo que confirma o que você quer acreditar). Acreditar naquilo que lhe é conveniente.

O trecho famoso merece toda a fama que tem (o trecho do “espelho”), mas Bacon é mais didático justamente nas frases anteriores ao trecho.

É falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas. Muito ao contrário, todas as percepções, tanto dos sentidos como os da mente, guardam analogia com a natureza humana e não com o universo.



IDOLA SPECUS” Ídolos da Caverna (Erros inerentes às particularidades de cada pessoa).

Referência à parábola da caverna da obra A República, o trecho mais famoso de Platão senão de toda literatura filosófica ocidental. Bacon particulariza a metáfora criada pelo grego para indicar a dificuldade para conhecer além das sombras da verdade. Preconceitos pessoais. A “caverna” de cada indivíduo. De sua formação particular. Tomar o seu mundo como sendo a realidade verdadeira. Procurar o conhecimento no seu mundinho e não no mundo maior, comum a todos. A verdade não tem partido, não sendo sua e nem minha; para ser justamente nossa. Imagino o que Francis Bacon diria sobre a Internet e o celular, o logaritmo que prende em vez de justamente libertar. Imagino o que Francis Bacon diria sobre o Brasil do dia 28 de outubro de 2022.

Os ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos. Pois cada um – além das aberrações próprias da natureza humana em geral – tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza: seja devido à natureza própria e singular de cada um; seja devido à educação ou conversação com os outros; seja pela leitura dos livros ou pela autoridade daqueles que se respeitam e admiram; seja pela diferença de impressões segundo ocorram em ânimo preocupado e predisposto ou em ânimo equânime e tranquilo; de tal forma que o espírito humano – tal como se acha disposto em cada um – é coisa vária, sujeita a múltiplas perturbações, e até certo ponto sujeita ao acaso. Por isso, bem proclamou Heráclito que os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal.



IDOLA FORI” “Ídolos do Foro / Mercado / Praça Pública (Erros inerentes à linguagem)

Tirania das palavras. Vinda da ambiguidade das palavras. Os humanos têm uma acentuada tendência a confundir o que se diz com a realidade. Dos quatro ídolos, este é o mais incômodo. Basta um erro, uma inequação no uso das palavras para o intelecto inteiro ficar perturbado e corrigir depois é quase impossível. O que hoje chamados de “hipótese ad hoc”: hipóteses cogitadas e introduzidas nas teorias em perigo, com o único objetivo de salvá-las das críticas e refutações. Palavras são violentas. Tínhamos que ser honestos e claros; e simplesmente parar de mentir.

Aqui a melhor citação não provém de Bacon, e sim de alguém mais sábio e poético: a Raposa, a amiga do Pequeno Príncipe:

Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...



IDOLA THEATRI” Ídolos do Teatro, das Escola (Erros inerentes às escolas de pensamento)

Sistemas de pensamento tradicionais. Regra cega, antiga, ocupando o lugar do juízo pessoal. Representações sistemáticas da realidade que não são mais adequadas. Seguir uma ideologia de forma dogmática. Falsa consciência. Falsas demonstrações. Invencionices especulativas. Erros provenientes da fé cega, do desleixo e da tradição. O mundo descrito por Platão é o mundo construído por Platão, e não o mundo. Acreditar em alguma escola de pensamento é importante, mas é preciso conhecer outras escolas e não ser um fanático. Ser sempre um aluno curioso querendo sempre descobrir.

Ademais, não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na sua universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência.

Mas aqui também podemos e devemos pedir a colaboração de outro autor inglês: minha primeira paixão intelectual: o queridão Bertrand Russell em Ensaios Céticos:

O que é necessário não é a vontade de acreditar, mas o desejo de descobrir; que é justamente o oposto.




Segue aqui mais três trechos de Novum Organum que eu considero importantes:

Pois não há paridade entre o risco que se corre ao não se tentar a prova e o proveniente do insucesso. No primeiro caso nos expomos à perda de um imenso bem; no segundo, há uma pequena perda de trabalho humano. Assim, tanto do que se há dito como do que não se disse, parece subsistirem grandes motivos para que o homem destemido se disponha a tentar e para que o prudente e comedido adquira confiança.


Todavia, a investigação natural se orienta da melhor forma quando a física é rematada com auxílio da matemática. E então, que ninguém se espante com as multiplicações e com os fracionamentos, pois, quando se trata com números, tanto faz colocar ou pensar em mil ou em um, ou na milésima parte ou no infinito.


Também devem ser coligidos os cânones a respeito de predomínio. É o caso seguinte: quanto mais comum é o bem que se almeja tanto mais forte será o movimento; assim, o movimento de conexão que diz respeito à inteira comunidade do universo, é mais forte que o movimento de gravidade, que diz respeito apenas à comunidade dos corpos densos. Ou ainda: os apetites do bem privado não prevalecem na maioria dos casos sobre os apetites do bem público. Que assim também fosse nos assuntos civis!

Gostaram? Francis Bacon é bom, não é? Ainda vou ler e escrever a respeito do seu livro Ensaios. Mas antes de ir embora, um pouco do citado Leibniz e a sua celebrada teoria sobre verdades de fato e verdades da razão. Vocês podem ter ficado curiosos.

A – Um dos meus vizinhos são uma família, composta por quatro pessoas e no terreno deles há duas casas e muitos pés de mandioca.

B – Eu tenho uma bola redonda e triangular.

Na primeira afirmação, como você procederia para verificar a falsidade ou veracidade? Teria que me visitar, conhecer os meus vizinhos, ver se são quatro pessoas, ou mais ou menos, e se mesmo tem vários pés de mandioca plantados… Teria que “ver para crer”, teria que ir lá, teria que experimentar, agir, fazer um gesto. Ação, experimento, sentidos. No segundo caso, descontando a curiosidade; pela estrutura lógica da declaração você percebe que é um absurdo e que não pode ser verdade.

É interessante observar que no dia a dia você vai precisar estudar muito, ler, conhecer muitas coisas para não acreditar na quantidade de porcarias que são divulgadas nos grandes meios de comunicação. Além de ter um ensino formal sofisticado, você não pode ser preguiçoso. É difícil. Eu, por exemplo, acho difícil demais. Mas Leibniz e Bacon nos fornece duas peneiras poderosas para nos proteger. Espero que você as ache úteis.


POST SCRIPTUM Uma notinha acadêmica

Esqueci de um detalhe: as fontes. O que eu li sobre Francis Bacon antes de ler o seu Novum Organum. O que, inclusive, explica os diferentes nomes dos ídolos.

- Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998.

- História da Filosofia, de Bryan Magee.

- O texto introdutório da coleção Os Pensadores, do volume dedicado a Francis Bacon. A tradução e notas é do José Aluysio Reis de Andrade e provavelmente o texto introdutório também seja dele.

- Respeito, Senhores do Parlamento; texto de Roberto Romano. Folha de S. Paulo, mas não anotei a data.

- História da Filosofia, da coleção Os Pensadores edição de 1999 (aquela azul escura, em da parceria Abril Cultural e Folha de S. Paulo). O volume especial, de autoria de Bernadette Siqueira Abraão.

- História da Filosofia, de Antiseri e Reali.

A parte do Leibniz vem de História da Filosofia, de Bryan Magee

Lamento que as fontes não sigam as regras da ABNT (Agência Brasileira de Normas Técnicas), mas daria muito trabalho procurar tudo e eu sou preguiçoso.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Contos Tradicionais do Brasil, Cascudo

 

Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima. Mais tarde as vozes começaram na falaria:

De onde vem você?

Do reino de Acelóis!

Como vai o príncipe?

Vai mal, coitado, não tem remédio!

Ora não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma moça donzela que queira morrer por ele!

Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo quando ela avistou o reinado de Acelóis.”

(O Papagaio Real)


O rei perguntava:

Como vai, Quirino?

Com a graça de Deus e o favor do meu amo!

A obrigação?

Em paz e a salvamento.

As vacas?

Umas gordas e outras magras.

O boi barroso?

Vai forte, valente e mimoso!

O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia.

Vamos apostar, Majestade?

Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com os chifres dourados?

Está apostado!

O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego.

Rosa se vestiu como mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso.”

(Quirino, Vaqueiro do Rei)


O conto transcrito é, evidentemente, um espécimens as sobrevivência africana na literatura oral brasileira com o motivo puro e legítimo da aranha, talqualmente vivia há séculos no continente negro onde nasceu e emigrou. Uma aranha agindo na Bahia sem influência cristã moralizadora.”

(Nota sobre o conto “A Aranha-Caranguejeira e o Quibungo)


CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL – Luís da Câmara Cascudo.

Lendas Brasileiras, Cascudo

 

Ao amanhecer, o chefe foi a cavalo, acompanhado por um pajem, à pedra indicada por Jaíra, mas só achou ali a roupa da infeliz criatura, com uma coroa de flores de maracujá do mato, em cima. O tenente soltou um grito de desespero, e ficou tão alucinado, que se lançou à corrente e não veio mais a terra.

A senhora branca soube do ocorrido, dirigiu-se a cavalo ao rio, onde só viu a roupa de Jaíra e o lugar em que sucumbira o esposo, e em prantos, a vociferar, amaldiçoou o rio em que cuspiu três vezes. Então as águas cavaram o solo e se esconderam no fundo da terra, os peixes ficaram cegos, a mata fanou-se e morreu!…

Contam que quem descia, de noite, à gruta de Itararé veria Jaíra, vestida de branco, com agrinalda de flores de maracujá, tendo ao colo o corpo do moço que morrera por ela. Às vezes, a sua sombra vinha à beira da estrada, matava os viajantes, tirava-lhes o sangue e com ele ia ver se reanimava o seu morto querido.”

(A Lenda de Ítararé)


Desta vez o amor fizeram mais um milagre. A madrugada surpreendeu, fora da sua furna, a salvadora do bandeirante. Despertando em sobressalto, levou as mãos aos olhos e com gestos desesperados tentou arrastar o moço para a caverna. Só então pôde vê-la e por ela conhecer os da sua tribo. Era pequenina e branca; cabelos longos, de um louro embaçado, caíam-lhe abundantes sobre as costas. Quanto mais clareava o dia, maior parecia a angústia da princesinha dos “tatus brancos” que tapava com as mãos os olhos gázeos, bracejava e gemia, incapaz de caminhar, às tontas, como inteiramente cega. O bandeirante olhou uma última vez para a triste selvagem, e fugiu da terra maldita.

- Eis aí, se não me traiu a memória, a lenda, lida em criança, da existência de uma tribo de canibais trogloditas, ou habitantes das cavernas, notívagos como as corujas.”

(Os tatus brancos)


LENDAS BRASILEIRAS – Luís da Câmara Cascudo.

Rede de Dormir, Cascudo

 

"Uma denúncia é a pergunta aos amigos hóspedes: "Dorme em cama ou em rede?"

Há, forçosamente, de ambas na residência ou no hotel do interior. Há poucos anos dizia-se, torcendo o lábio num esgar de desprezo: "É um homem cheio de luxos, de "bondades"; só dorme em cama!..."


"Uma condição essencial para antropologistas e etnógrafos é ser um bom poeta. Mesmo que não faça versos. Sem a poesia os seus trabalhos perdem, no plano da comunicação fiel e positiva, a graça verídica, a possibilidade justa, a idéia da vida, valendo, pela glacial explanação verídica, relatório de autópsia. Jamais darão, fora dos iniciados sonolentos que, em última análise renunciaram ao direito natural da vibração e do entusiasmo, nada mais do que um frio parecer de comissão de tomadas de contas em balanço de banco de crédito hipotecário. Não me diagam que a Ciência é nua e despida de ornatos e galanterias porque a Deusa Minerva, que devia entender dela, despojando-se das vestes alguma vez o fez para disputar um concurso de beleza."


"Ainda nos dias presentes há uma maioria alta de redes no quarto de dormir ao lado da cama bonitona. Serve para "o primeiro sono". Para "refrescar". Para "descansar". Depois vão fazer companhia à mulher. E muitos voltam para a rede, para "acabar o sono"."


REDE DE DORMIR - UMA PESQUISA ETNOGRÁFICA - Luís da Câmara Cascudo.

Antologia do Folclore Brasileiro, Cascudo

 

"Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão de saber que eles são súditos tributários das Amazonas, e conhecida a nossa vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós a vimos, que andavam combatendo diante de todos os índios como capitães e lutavam tão corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, ao que fugia diante de nós, matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.

Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entraçado e enrolado, na cabeça. São muito menbrudas e andam nuas em pêlo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma dessas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porcos-espinhos."

(Frei Gaspar de Carvajal)


"Deve ser ainda mencionada aqui uma farsa, denominada SERRAÇÃO DA VELHA, indicadora de que já passou metade da quaresma. Essa brincadeira é organizada pelos soldados. Para a zombaria é escolhida, entre as moradoras da cidade, uma mulher já idosa, mas ainda coquete. Quando pois, é chegado o tempo, já essas mulheres estão preocupadas e temerosas de serem colhidas pela sorte. Faz-se uma figura recheada de palha, tão parecida quanto possível com a mulher em apreço, com trajes iguais aos que ela costuma usar, de modo a ser reconhecida imediatamente. Numa das mãos põe-se-lhe um rosário e na outra uma serra para indicar que o jejum quaresmal é cortado ao meio. Então a figura é posta numa padiola e, acompanhada pelos soldados com sabres desembainhados e archotes, é conduzida por quatro negros através da cidade, por entre a jubilosa gritaria dos negros e das crianças. Um grotesco mascarado abre o cortejo e, durante as paradas, lê o testamento da velha, composto com grande exagero, em que são vituperadas as suas vaidades da maneira mais inconveniente. Toda a tropilha aplaude furiosamente. Finalmente, chegando cortejo à residência da própria mulher, a figura é serrada em duas e queimada, o que sempre termina em pancadaria, porque os parentes da vítima se sentem igualmente ofendidos e procuram enxotar os indelicados visitantes."

(Johann Emmanuel Pohl)


"Começou a seguir um caminho muito longo. Lá adiante encontrou Acarajé e pediu-lhe que o ajudasse a preparar-se que lhe ensinaria o caminho. Ela o fez de boa vontade e ele indicou-lhe a estrada. Andou, andou e lá adiante encontrou umas pedras grandes com forma de gente que lhe pediram que ela os colocasse melhor. A menina com muito esforço conseguiu fazer e as pedras lhe ensinaram o seu caminho. Adiante encontrou Adjinacu (Cágado?) que também lhe pediu prestasse o serviço de auxiliá-lo no trabalho que estava fazendoe a menina prestou-se de boa vontade. Também Adjinacu mostrou-lhe o caminho. Muito adiante encontrou uma onça parida, a quem pediu que ensinasse o caminho e a onça lhe perguntou se não tinha medo de ser comida, repondeu que a comesse logo para acabar com a sua lida. A onça ensinou-lhe o caminho. Adiante encontrou um menino que batia feijão. Pediu que lhe ensinasse o caminho, e o menino disse que o fazia se ela o ajudasse."

(Raimundo Nina Rodrigues)


"A PIRANHA

Compõe-se de homens, mulheres e até crianças que formam uma grande roda, saindo ao meio dela um dos dançantes que executa passos variados ao tempo, em que os da roda girando à direita e à esquerda, cantam:

Chora, chora, piranha.

Torna a chorar, piranha:

Põe a mão na cabeça, piranha.

Piranha!

Põe a mão na cintura...

Piranha

Dá um sapateadinho.

Mais um requebradozinho...

Piranha

Diz adeus ao povo,

Piranha

Pega na mão de todos,

Piranha

A tal piranha faz o que se lhe manda, chorando, pondo a mão na cabeça, etc. Por fim conseguindo agarrar a mão de um qualquer dos da roda, puxa-o para o meio do círculo, tomando-lhe o lugar. Assim se continua."

(Antônio Americano do Brasil)


ANTOLOGIA DO FOLCLORE BRASILEIRO – Luís da Câmara Cascudo.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

O Rei ouvirá

O REI OUVIRÁ
Adagiário Brasileiro”, de Leonardo Mota, 1979; com a ajuda dos filhos Moacir Mota e Orlando Mota.

(Editora Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1987, Segunda série da coleção “Reconquista do Brasil”. Volume 115. Capa do artista plástico Poty, ilustrações internas do artista plástico Aldemir Martins e prefácio de Paulo Rónai.)


" - Gritar pelo rei da França – pedir socorro (ouvido na Bahia)."
Mas isso é surpreendente! Como, na Bahia, em tempos imemoriais; a expressão “gritar pelo rei da França!” tornou-se sinônimo de clamar por socorro? Isso foi antes ou depois de 1789? A França tentou invadir o Brasil ainda no século XVI e no seguinte, e no comecinho do século XVII tivemos uma última experiência especialmente dramática. É provável que estes acontecimentos tenham influenciado sim a origem desta expressão popular. E como os franceses, e seus aliados daqui, foram os derrotados; esta expressão acaba ganhando um peso bem sinistro.

sábado, 19 de setembro de 2020

19 de setembro de 2020

 


Se eu fosse um economista e fizesse parte da escola de pensamento socialista, o meu “problema” seria estudar muito muito. Por que o planejamento excessivo atrapalha o desenvolvimento econômico? Por quê a União Soviética antes e a Venezuela em 2020, são pobres? Por outro lado, se eu fosse um economista e fizesse parte da escola de pensamento liberal, o meu “problema” seria lembrar sempre sempre que as pessoas pobres sentem fome e devo combater sempre aquilo que podemos chamar de “ingenuidade canalha” nas análises.

É para os produtores rurais e os donos de supermercados serem patriotas e solidários neste segundo semestre de 2020? É isso mesmo que ouço nos meio de comunicação governistas? É esta a solução a curto e médio prazo neste segundo semestre sinistro? Ah, gente…

O aumento de preço dos alimentos durante a recessão econômica assusta a todos e é motivo de discussão constante na imprensa em geral. Assisti hoje, com grande prazer e também preocupação, a um debate sobre este assunto na Rádio Itatiaia. O Governo Bolsonaro não organizou um estoque de alimentos (poderia ajudar no trabalho de “boia” em relação ao aumento dos preços), o dólar esta de um jeito que fez os produtores rurais correrem para vender no exterior e as famílias pobres ao receberem auxílio emergencial do mesmo Governo Bolsonaro correram aos supermercados comprar alimentos: eis os motivos imediatos dos aumentos de preços dos alimentos nesta recessão. Falei em “motivos imediatos”, pois os motivos históricos são os de sempre: políticos que não planejam o futuro e a pobreza do povo. Parece que o Brasil é um país muito doente que deve contentar-se em viver um dia de cada vez, não por humildade e sim por impotência. Assim o futuro nosso não é construído por nós.


Leonardo Mota e a Sabedoria Brasileira

“Não quero saber quem fui; quero saber quem sou.”


Comentários.

Ah, fácil, fácil. E bonito bonito, também. Cite o Raul, Aldrin! Uma metamorfose ambulante, claro. A perspectiva desta opção é atraente, irresistível estar sempre jovem por estar sempre aprendendo e que nem a perfeição consegue te deixar satisfeito! Mudar e aprender, e aprender e mudar.


Lendo ELOGIO DA LOUCURA (1510), de Erasmo de Rotterdam


É possível ser sábio e ser feliz ao mesmo tempo? Há algo escondido nesta pergunta: a definição de felicidade como coisa de criança e/ou coisa de quem vive no “mundo da Lua” e é bobo. Me entendem? Mas não pode ser assim! Passar por este mundo como um zumbi, como se estivesse sempre iludido e totalmente indiferente? Deve ser possível ser sábio e ser feliz ao mesmo tempo. Enfrentar a realidade e sorrir! Deve ser possível!

O “galo do Luciano” viveu muitos e muitos anos entre os humanos e acabou por aprender a conversar conosco. Nossa, isso deve ter sido interessante de testemunhar. É a segunda vez que Luciano é citado em Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam. Luciano é um autor satírico que viveu na Idade Antiga. Tenho que procurar mais obras deste período.

Assim, claro, encarar a realidade sempre; mas podemos relaxar um pouco e bancarmos o maluco. Só um pouquinho. Só um pouquinho.

O empreendimento, o trabalho, a missão é difícil? Não aflige-se, peça auxílio às Musas!

Uma referência venenosa à Aristóteles e aos aristotélicos. Aristóteles, junto com o seu mestre Platão e o Immanuel Kant vários séculos depois, formam o mais importante trio parada dura da história da filosofia ocidental. É sério, são estes três e o resto. Mas, leitoras e leitores, principalmente vocês mulheres, vocês sabem como é a moda: ela é cruel. Como Aristóteles “reinou” durante a Idade Média, foi chegar o Renascimento e aí… 

Uma lenda popular envolvendo o São Bernardo. Dizia-se que este santo bebia óleo pensando que era vinho! Naturalmente esta lenda é mais uma referência ao poder do espírito em suportar e vencer os desejos e os sofrimentos deste corpo.

Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam, esta chegando as suas últimas páginas. Este mundo é louco, este mundo é mentiroso e hipócrita. Queremos a verdade, os renascentistas querem a verdade, os renascentistas querem uma verdade que seja nova para eles. O que seria isso? Em Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam, podemos ver parte disso em sua crítica à sociedade europeia do século XVI: a busca por um cristianismo sincero e simples, respeito e amadurecimento diante dos desejos humanos (uma forma de epicurismo) e, por fim, o desejo o anseio por algo que não se sabia bem o que era: a ciência moderna para varrer as superstições do mundo.

O próximo livro que vamos aqui usar como aquela cama voadora de Decamerão, de Boccaccio, para viajarmos pelo tempo e espaço, é A Cabana, de William P. Young, Wayne Jacobsen e Brad Cummings. Assim como o livro de Erasmo de Rotterdam, A Cabana é um livro cristão, mas num tom mais espiritualizado. Tem uma mensagem positiva, que pretende inspirar os leitores a enfrentarem a dor e mudarem para melhor as suas próprias vidas. O livro fez sucesso, é um best seller. Até virou um filme com Octavia Spencer. Eu não comprei este livro, o exemplar que tenho em mãos é uma doação que a biblioteca comunitária daqui recebeu. Normalmente não leito este tipo de livro, passaria por ele numa livraria com o narizinho meu todo arrebitado... Estou lendo porque a Camilla, minha amiga e matriarca deste site, deu uma indireta bem indireta quando disse a mim “acho que todo mundo devia ler este livro”. Eu sou homem, mas esta mensagem feminina eu consegui compreender. Estou ficando inteligente!

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

16 de setembro de 2020

 

Trovão (in memoriam). Saudade dele. Muita! Cada um de seus olhos era adornado em seu em torno por uma estrela negra, formando um conjunto que lembrava-me uma maquiagem igual ao de um palhaço de circo. Eu devia ter brincado mais com ele, mas nem os cachorros eu deixo aproximarem de mim. Ele era educado, disciplinado, observou uma vez meu pai; não parecendo mesmo ser um cachorro de rua que visitava e ficava frequentemente em nossa casa. A minha memória fixou a sua imagem distante da porta da cozinha, sentado obediente, à espera de atenção e comida. Eu gostava de segurar a sua cabeça gigante e ficar olhando para dentro de seus olhos, enquanto pensava o quanto ele era bobo e ele, por sua vez, devia pensar o quanto eu fazia muito menos que podia de minha própria vida.

O Brasil está doente de Covid-19, a sua economia em recessão e meus pais estão envelhecendo depressa. Que momento para uma cigarra infantil de 37 anos virar formiga burguesa com sua loja de artesanato! Mas talvez a metáfora seja outra. “Aldrin”, eu gosto de lembrar sempre, é o nome de um pesticida banido pelo Órgão das Nações Unidas por ser tóxico além do que pode ser tolerado e é também nome de um importante astronauta que caminhou pela Lua. Em um exercício metafísico, concluo que talvez eu seja mesmo é um astronauta que foi exilado. Só se vive olhando adiante, mas minha roupa de astronauta bem que podia ter alguma pista de meu verdadeiro planeta. Bom, quando criança o planeta que eu mais amava desenhar era Saturno… 


Lúcio Flávio Pinto, o Maior Jornalista do Brasil + Portal UOL + Rádio Itatiaia = Atualidades Comentadas.

Pantanal queimando a meses e o nordeste sofrendo a maior seca em décadas. A natureza selvagem é mais sincera e eficiente em mostrar como é o Brasil atual sob o Governo Bolsonaro. Porque a imprensa brasileira não consegue e não quer e as redes sociais da internet, por sua vez, estão inundadas por mentiras e agressividade. Que momento horroroso!

A ciência é uma das atividades humanas mais excitantes e é triste que a educação formal brasileira, assim como muitos veículos de imprensa brasileiros, não sejam tão efetivos em apresentar ao grande público as maravilhas da ciência. Uma consequência disso é a popularidade de opiniões tolas sobre vacinas e o formato do planeta Terra ainda em 2020. Bom, mas nem tudo são espinhos. Foi descoberto, na atmosfera de Vênus, moléculas de fosfina. É uma boa evidência de vida extraterrestre. Mas pode não ser, mas enquanto isso ficamos encantados que cientistas consigam saber detalhes a respeito da atmosfera de outros planetas.

Falei em “boa evidência” de que pode haver vida no planeta Vênus. O que parece ser mais do que uma boa evidência é a postura da Advocacia-Geral da União ser boazinha demais com o Governo Bolsonaro. Dilma e Temer foram traumáticos, é verdade, mas a inércia do Sistema não pode justificar tanta “colher de chá” diante de mais um governo ruim.

HISTÓRIA DO SÉCULO 20 - BPC Publishing LTD/Abril Cultural, 1973.

A população dos subúrbios crescia, com a ajuda dos novos meios de transporte. Ônibus e automóveis já estavam deixando de ser novidade, a ponto do governo da Inglaterra ter que aumentar a velocidade do automóvel de seis para vinte quilômetros por hora. E isso antes do ano de 1900! Além do telégrafo e cinema. E os mercados amplos, onde justamente muitos trabalhadores vinham dos subúrbios para trabalhar. E as vezes consumir também, mas o destaque quanto ao crescimento econômico ficou para a classe média.

Diante de tantas mudanças e mudanças que eram radicais, nem todos eram otimistas. Muitos tinham receios profundos quanto ao futuro, naquele início do século XX. O membro do Partido Liberal Charles Masterman levantava a questão: a vida será mais rica e feliz quando for normal que a maioria dos trabalhadores tenham despesas novas porque desejarão adquirir objetos de luxo como agora são os automóveis? Marie Corelli era mais lírica, chamando a avareza de “nossa estrela do mal”. Esta escritora popular antevê o cenário em que pessoas cuja a única virtude foi adquirir muito dinheiro, por qualquer meios, influenciando o caminho da comunidade devido ao seu poder sobre os políticos.

Marie e Charles estavam corretos, a ganância se espalhou entre humildes e o poder econômico envenenou a política? 


Leonardo Mota e a Sabedoria Brasileira

“Mais Amor e menos confiança.”

Comentários.

Meu amado Bertie (Bertrand Russell) falou algo semelhante. Deixe-me procurar, porque é bonito fazer uma ponte aqui. Achei! Demorou, mas foi gostoso porque lembrei bastante de quando li Ensaios Céticos pela primeira vez. Então vamos lá: “Nossas relações com os que amamos podem perfeitamente ser confiadas ao instinto; são nossas relações com aqueles que detestamos que deveriam ser postas sob controle da razão.” Aviso logo que meu Bertie, apesar de ser um dos maiores filósofos do mundo, era bastante ingênuo. A questão aqui é se conhecer bem. Se conhecendo bem podemos ser mais espontâneos. E isso tudo tornaria as coisas mais leves. Quem sabe um dia?


Lendo ELOGIO DA LOUCURA (1510), de Erasmo de Rotterdam.

“… aplaudido pelos verdadeiros doutos! Bolas! Que grande sacrifício! Raramente sucede ...”

Um nome importante que devemos buscar mais informações: Alceu de Mitilene: um dos vértices da poesia da antiguidade e inimigo figadal de todos os tiranos! Uau!

Aqui vou ter que reproduzir na íntegra a nota de rodapé do Paulo M. Oliveira, porque isso aqui é legal demais. É puro Amor.

“87 No templo de Dodona, havia um lugar dedicado a Júpiter, no qual se achavam vários vasos dispostos de maneira tal que, ao se bater no primeiro, o som se propagava até ao último, produzindo um barulho insuportável.”

Erasmo de Rotterdam citou o “bronze de dodônio” para ironizar e criticar os dialéticos do século XVI, que ficavam discutindo e discutindo sem se importar com a verdade e a educação.

Mais até do que os estoicos e os comerciantes, o maior alvo de críticas irônicas de Erasmo de Rotterdam é mesmo o clero católico. Dogmatismo, hipocrisia, elitismo, distanciamento quanto aos ensinamentos mais básicos de Cristo… O final de Elogio da Loucura é mesmo pesado quanto a isto.

Achei legal encontrar referências a Guilherme de Ockham e Duns Scott. Sinal que eram autores conhecidos, mesmo muito tempo após a morte deles. Scott, mais do que Ockham, aparece como exemplo de teólogo que propositalmente é obscuro em seus textos para parecer profundo, mas que na verdade é um autor irrelevante. Acontece que isso não é verdade, Scott é profundo sim. Mas durante séculos o seu nome caiu em desgraça porque seus opositores eram maioria. “Duns” até virou, na língua inglesa, um  termo pejorativo. Mas Duns Scott, assim como a filosofia medieval, nas últimas décadas vem recebendo a merecida atenção. Legal isso.

Há também, em Elogio da Loucura, referências à intolerância religiosa. Discussões e agressividade entre cristãos por causa de detalhes quanto ao dogma. Quanto sofrimento, quanto!

Uma nota mais alegre: cuidado com a sua flatulência, senão você pode ser tão barulhento quanto o Priapo, que acabou assustando as bruxas Canídia e Ságana! 

Bonito, os comentários sobre como deve ser um líder político de valor feitos por Erasmo de Rotterdam. É visível sinais da democracia moderna ali. Gostei de ler esses trechos. Acho que vocês também gostariam.

Um costume horrível daqueles tempos: em Roma, se você fosse excomungado pela Igreja Católica, as vezes um retrato seu era pintado em um pano acompanhado por demônios e este pano era exposto ao público. 

“99 Trata-se, muito provavelmente, de uma alusão a Júlio II, papa cujo fanatismo guerreiro tantos males causou à humanidade.” (Nota de Paulo M. Oliveira)

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

2 de setembro de 2020


 Há milhões de anos atrás, em algum lugar entre o que hoje conhecemos como África do Sul e Etiópia, um primata esquisito pra caramba desceu de uma árvore e começou a fazer coisas muito interessantes. A arte em cerâmica, assim como a companhia do cachorro, parece nos acompanhar desde o início de nossa aventura aqui na Terra. É mesmo irresistível o seu apelo. No ATELIER VALNIZE IGLESIAS você encontra peças de cerâmica muito bonitas, de tamanho variado e com tinta feitas com terra. É exclusivo, é mágico. Tamanhos e preços variados. Mais informações: valnizeterra@yahoo.com.br ou aldrin_iglesias@yahoo.com.br.


Lúcio Flávio Pinto, o maior jornalista do Brasil + Portal UOL + Portal UAI = Atualidades Comentadas

O Brasil esta entre os três primeiros países do mundo a sofrer com a epidemia do Novo Corona Vírus. Isso se acreditarmos nos números oficiais. Terrível.

Vai acontecer com o trabalho remoto o que aconteceu com a profissão de cobrador de passagens nos coletivos no período Pós-Dilma Rousseff? Eu não sei dirigir carro, então sempre andei muito de ônibus. Os cobradores não voltaram depois da Dilma e nem depois do Michel Temer, quando dizia-se que a economia estava recuperando-se. Acho que o trabalho remoto veio para ficar: é barato e é moderno, além que o transporte coletivo nas cidades grandes é complicado. Mas regiões pobres do Brasil e os trabalhadores com menos educação formal, ficaram ainda mais distantes de uma situação digna com este novo arranjo do trabalho. Ainda na questão do trabalho: as demissões de professoras e professores de escolas particulares já esta chamando a atenção. Que segundo semestre sinistro!

É preciso cuidar da pele não só por causa da luz do Sol, mas das luzes de computadores e lâmpadas modernas em nossas casas. Isso mesmo: protetor solar dentro de casa.

Para quem, como eu, achou tocante o filme "Hotel Ruanda" (Hotel Rwanda, Terry George, Keir Pearson e Don Cheadle, 2004), assusta as últimas notícias sobre este país africano. É verdade, Paul?

Li uma entrevista com uma estadunidense que é ambientalista e luta pela Amazônia e ali eu lembrei-me de um documentário sobre o Caso Mar de Aral que assisti na TV Escola há muitos anos atrás (Avisos da Natureza). O que que acontece: as autoridades soviéticas perceberam que estavam prejudicando o Mar de Aral e pararam, mas isso não adiantou! O lago gigantesco começou a secar e não parou mais. Inércia, entendem? Dependendo do golpe e do tempo, o ambiente se estabilizará de maneira horrível. A questão é que lendo a entrevista, parece que em mais ou menos cinco anos a Amazônia vai também chegar em um ponto crítico e que dali em diante ela vai definitivamente transformar-se em algo diferente do que é hoje, algo pior.

Parece que o tênis de mesa brasileiro vai ter um novo momento de brilho. Irmãs Takahashi, Laura Watanabe e Hugo Calderano; são estrelas que já estão brilhando bastante. Uma notícia legal.

HISTÓRIA DO SÉCULO 20 - BPC Publishing LTD/Abril Cultural, 1973.

É preciso humildade e sinceridade para perceber o quanto o irracional em nós nos tornou, e ainda nos torna, vulneráveis ao grande jogo dos meios de comunicação de massa. Educação formal de qualidade e calma são ferramentas para evitar tanta vulnerabilidade. 

Não era raro revistas e jornais terem colunas femininas no início do século XX, quando nasce a imprensa de massa. É correto considerar que o Movimento Feminista se beneficiou com o nascimento desta novidade.

- Eu gosto tanto dessas notinhas curtas e curiosas! Porque os jornais não são feitos só com elas? A maior parte dos jornais são feitas de textos grandes, complicados, chatos... - Uai, então porque você mesmo não faz um jornal só com essas notas curtinhas? - Vou fazer um jornal com que dinheiro, mulher?! No final do século XIX, na cidade de Manchester, Inglaterra, era aberto um restaurante vegetariano. Além de uma mulher prática, a Senhora Newnes também era uma cozinheira talentosa. Algum tempo depois nascia Tit Bits (Miscelâneas de Notícias). O senhor Newnes agora tinha o seu jornal. Alguns anos antes, em 1870, houve uma mudança na lei de ensino na Inglaterra, ampliando o número de pessoas alfabetizadas e instruídas entre os pobres. E essas pessoas iriam querer uma imprensa nova, mais próximas a elas. E a flor da imprensa de massa desabrochava.

William Randolph Hearst, a gente sabe, e os espanhóis que dominavam Cuba também, foi o mais poderoso; mas o mais importante foi Alfred Harmsworth (mais tarde Lorde Northcliffe) criando o "cardápio" que seria seguido até por portais de notícias da internet nesse nosso 2020: empresa limitada visando lucro e atraindo investidores, fofocas sobre pessoas importantes, comentários políticos, palpites para corridas de cavalo, as já mencionadas colunas femininas, manchetes sensacionalistas, circulação ampla... Northcliffe sabia das coisas. E o "pecado original" também já é dessa época: como conciliar baixo custo artificial com ampla circulação? A relação ambígua com os donos do dinheiro, na questão da publicidade (políticos e empresários)...

É divertido dizer que tudo é culpa dos vegetarianos de Manchester e é difícil não ficar impressionado com o poder de Hearst e a visão de Northcliffe; mas a gente sabe como funciona a História: não há "muros" ou "fronteiras" marcando as grandes mudanças. Não podemos esquecer alguns precursores daquilo que ficou conhecido como imprensa de massa: 

Lloys Weekly News

Reynold News

News of the World
Star
The Truth (australiano)
Le Petit Journal
New York Journal
A imprensa japonesa aprendeu rápido e logo estava copiando a imprensa de massa ocidental. 
A importância das revistas populares como a francesa Le Pompon.



Leonardo Mota e a Sabedoria Brasileira 
"Lágrima com pão passageiras são."

Comentários.
Não há muito o que comentar aqui: ou você ergue-se e sacode a poeira, ou torna-se um zumbi. Zumbi sem o George Andrew Romero. Já foi dito, em algum lugar, que a depressão tem lugar de destaque entre os males do século XXI. Eu me relaciono com ela desde 1997 e sou testemunho de seu poder. É preciso confiar e lutar.



Lendo Elogio da Loucura (1510), de Erasmo de Rotterdam

Um dos maiores prazeres ao ler Elogio da Loucura, é deparar-me com as notas explicativas do tradutor Paulo M. Oliveira. Paulo?, merci merci! É uma das coisas óbvias que a gente esquece: Erasmo pode ter pensado em escrever para todos e para o futuro, mas também, e principalmente, para a sua época; e na época do Renascimento a erudição era beeeem diferentes. As notas do Paulo são pura melodia.

Um reencontro. O nome do diálogo platônico é Fedro. A nota explicativa de Paulo M. Oliveira não diz o nome do diálogo, "apenas" menciona o trecho famoso em que Sócrates, o inventor Teuto, o Rei Tâmus e a gramática aparecem. Esse trecho é especial para mim porque eu o conheço desde o início de minha adolescência ao estudar no colégio a gramática Curso de Língua Portuguesa, de Jorge Miguel (Editora Habra Ltda, 1989, São Paulo, SP.). Reencontro bonito, mas a questão polêmica continua viva e ardente: a gramática vai fazer os humanos não respeitarem mais a memória, uma vez que precisarão de sinais externos e artificiais? A tecnologia e a ciência farão o humano mais fraco e infantil? 

O que Tácito diria da Constituição Brasileira de 1988? A cada dois meses ela ganha uma emenda! É um trem doido! Como pode isso? Sem mencionar as leis de cada Estado da federação. Bom, Tácito é claro em sua advertência: se precisa ficar fazendo leis sem parar é porque o governo é ruim e a nação esta em decadência, uma vez que há crimes demais acontecendo sem parar. 

Diz a tradição que o povo caldeu inventou a magia e a astrologia.

Erasmo epicurista e hippie avant la lettre! Gramáticos, físicos, advogados, médicos... Todas essas profissões, toda essa técnica, toda essa ciência contribui para o quê? O humano ficou mais feliz e independente? Ficou? Ficou mesmo? Tem certeza? 

Não sei se é historicamente exato, mas o Pitágoras que aparece em Elogio da Loucura não se parece com o da aula de matemática no colégio: comunista e uma pessoa que ao longo da vida transformou-se em rã, mulher, esponja, rei, cavalo... É interessante, mas o que Pitágoras aprendeu com estas transformações é que não é tão agradável assim, pois toca em uma de nossas feridas narcisistas: uma abelha conhece a paz, pois esta satisfeita com o que a natureza deu-lhe; o humano nunca conseguiu e nem vai conseguir esta mesma paz. O humano deseja demais para estar conciliado com o que a natureza deu-lhe de presente.

Um pouco de machismo renascentista e mais uma crítica à erudição que apenas encobre vaidades humanas e nos afasta da natureza simples e feliz: é claro que as mulheres gostam dos loucos e dos bobos, pois eles são dóceis e só eles conseguem ser sinceros e com eles o "belo sexo" pode muito melhor praticar os seus jogos de aparências. Que maldade, Erasmo... 

É a terceira ou quarta vez que a escola de pensamento estoica é ironizada aqui em Elogio da Loucura? Era comum, no tempo de Erasmo de Rotterdam, informa-nos uma nota de Paulo M. Oliveira, os estoicos serem chamados de "rãs". Por quê? Porque naquela época os estoicos eram tagarelas e ninguém aguentava isso!!

E se é exótico a presença de estoicos nas vilas e cidades naquela época, saiba você que também havia os alquimistas. Alquimistas, seu Jorge Ben, alquimistas! Hoje são os precursores da química moderna, mas naquela época talvez você sentisse medo deles. Você sentiria, não o nosso Erasmo. Não a sua Loucura, que ri e os lista como outra classe que a tem como padroeira e fonte de inspiração e felicidade. Os alquimistas sempre tentando a fórmula da imortalidade e da fórmula que transformaria o que eles quisessem em ouro! A loucura de nunca desistir e de ver cada derrota humilhante como apenas uma pedrinha no caminho!

Não é na tempestade que se conhece o marinheiro bom, é quando este navega no Cabo de Maléia, na província de Peloponeso. Coragem, marinheiro e esqueça o que ama e vá sem medo!

Outro alvo de ironia: sincretismo religioso. Só que na época de Erasmo de Rotterdam não é a mistura de religiosidade católica e religiosidade de origem africana, aqui é religiosidade católica misturada com religiosidade da antiga Roma e antiga Atenas. Não é mais o guerreiro Hipólito resistindo às investidas da sua madrasta (!) o alvo de devoção, agora é o guerreiro São Jorge. E lá vai mais um cavalo todo enfeitado, diante da qual os devotos ajoelham e pedem proteção.

E Erasmo de Rotterdam antecipa uma distinção que em Voltaire será fundamental alguns séculos depois durante o Iluminismo: a distinção entre superstição e religiosidade. Ah, então se você repetir tal e tal oração e pagar tal e tal quantia tem o perdão divino garantido? Pode até dar-se o luxo de pecar só mais uma vez? Ora, ora... 
Não que os sacerdotes sejam muito melhores, pois alguns são tão mentirosos e pecadores como muitos dos seus fiéis. Ensinar o cristianismo pelo exemplo? Ora, ora, ora... 

Amor-próprio, iludir-se, elogiar um companheiro igualmente fútil, vangloriar-se por algo bobo, desejar algo absurdo... Como viver e ser feliz neste muito de dor e frustração sem guiar-se pelo caminho delicioso da loucura? Seja louco!

Os turcos na época do renascimento achavam graça na idolatria e nas superstições dos cristãos e os alemães, por sua vez, tinham por orgulho nacional a habilidade na ciência da magia. Acho que em 2020 os turcos continuam orgulhosos, mas os alemães já não se veem como magos.

 Ah, esse paganismo é irresistível... Morro de amores...:
Vênus concede a beleza.
Mercúrio concede o dom da oratória.
Hércules é a divindade para quem quer ficar cheio da grana.
Júpiter coloca a coroa na cabeça dos escolhidos.
Marte ajuda o exército a vencer uma guerra.
Apolo diz tudo o que precisa saber a quem vai ao seu oráculo.
O filho de Saturno lança setas. Não sei o que isso significa, o Erasmo e o Paulo M. Oliveira não explica.
Febo as vezes fica nervoso e manda uma peste aqui para o nosso planeta.
Netuno salva todos que navegam pelo mar.

E os ricos? São infantis com seus brinquedos caros e quando morrem querem caixões de luxo e um funeral pomposo porque nem ali deixam de serem vaidosos. E os advogados e juízes? Enrolam os envolvidos porque quanto mais tempo dura o processo mais ganham. Sobre os negociantes nem vou comentar aqui porque a Loucura usa uns adjetivos bem pesados. 

Não sei quem foi Menipo, mas sei que ele foi um dia à Lua e olhou para a gente de lá. Deve ter sido muito bacana.

Quem é sábio, mas sábio mesmo, mesmo mesmo; tem o ramo de ouro do poeta Virgílio.

Os negociantes são sinistros, mas são os gramáticos que merecem da Loucura um dos melhores e mais extensos momentos do livro. Uma descrição inesquecível. Bela crítica a uma educação artificial e morta, longe da realidade do mundo. 

Poetas e pintores livres? Pausa. É outra coisa óbvia e que não é tão óbvia. Hoje, em 2020, temos arte de vanguarda que você vê em um museu e as vezes não entende e acha feio e tem vontade de rir de raiva. Ora, e em 1510 não haveria artistas vanguardistas que deixavam o povo também perplexos e confusos? A Loucura, ao comentar a arte moderna do início do século XVI, menciona este dito popular: poetas e pintores são livres. Com certezas livres demais a ponto de espantar. Renascimento foi um período de grandes mudanças.

Preciso ler o que Quintiliano escreveu sobre o riso. E outras coisas sobre o Quintiliano. Tem em português?

sábado, 29 de agosto de 2020

29 de agosto de 2020

 


Reforma na casa de minha avó.

Lendo alguns textos do Lúcio Flávio Pinto. A proteção à Floresta Amazônica, e à vegetação nativa brasileira em geral, esta comprometida pelo Governo Bolsonaro. As últimas más notícias envolvem corte de verbas em grande escala e o encerramento de diversas atividades ligadas à área. O choque da situação é tão intenso que atinge até outros países que ficam perplexos e provoca atritos dentro do próprio Governo Bolsonaro. Que situação horrível, que governo horrível; mas é o governo que o Brasil escolheu.                                                                                 Agora vamos às notícias mais gerais. O desembargador que ofendeu um guarda porque não queria usar uma máscara que protegeria a saúde pública foi afastado, mas vai continuar ganhando o salário de mais de 33 mil Reais. No Peru, chama a atenção a violência contra as mulheres, com o triste destaque de um número alto de desaparecimento delas. Em Minas Gerais o Governo Zema tem dificuldades em fazer uma reforma da previdência: falta diálogo, falta números confiáveis, as sessões virtuais não são muito produtivas e para piorar tem eleição próxima o que torna os políticos mais sensíveis e cheios de terceiras intenções. 

30 DE JUNHO DE 1983                                                                                         30 de junho é Dia Internacional do Asteroide, criada pelo Órgão das Nações Unidas para alertar a comunidade internacional para o perigo que vem do espaço. 30 de junho também é Dia Nacional do Bumba Meu Boi, uma das glórias criativas da cultura popular brasileira. E dia 30 de junho é Dia da Independência da República Democrática do Congo.                                                                           O mundo em que eu nasci escutava "Flashdance... What i feeling", de Irene Cara e ficou assustado com acidentes em usinas nucleares na Argentina e na Alemanha. E a Austrália não queria saber de construir represas, ora pois! No Brasil nascia a atriz Maria Flor. 


Leonardo Mota e a Sabedoria Brasileira                                                     "Ituano come na gaveta."                                                                                       (Os paulistas de Itu tem fama de egoístas e uma das histórias populares sobre eles inclui uma gaveta onde eles esconderiam pratos de comida caso diante de uma visita inesperada.)

Comentário.                                                                                                       Queria visitar Itu só por causa deste trecho de Adagiário Brasileiro, de Leonardo Mota. O que impede-me de montar uma mochila e sair de casa, definitivamente? Dinheiro, medo, oficialmente é o centro cultural que esta sendo feito aqui. É estranho, sinto que esta quarentena me prepara para algo, mas não sei o que é ainda.


Lendo ELOGIO DA LOUCURA (1510), de Erasmo de Rotterdam (3 de 5)

No último texto ao mencionar um trecho em que os filósofos eram ridicularizados, eu disse que ali Erasmo antecipava Rousseau e Nietzsche. Justo, mas no último comentário meu eu podia acrescentar Freud também pois ali Erasmo falava em cólera e desejo sexual como duas paixões a tiranizar a razão humana. 

A utopia de Platão em A República; que bobagem! Quem animou-se em colocar em prática aquele projeto? Luciano de Samos sentencia: "Platão é o único morador de sua cidade". 

"Jardins de Tântalo" é uma expressão do grego antigo e significa "lugar que não existe". É preciso, porém, observar que Tântalo é personagem da mitologia grega e as vezes uma expressão popular não coincide com a história original.

Mais uma vez Erasmo critica impiedosamente a escola de pensamento estoica. Ou os estoicos serviam de modelo para o típico filósofo arrogante diante dos aspectos mundanos do mundo em que vivia, ou havia mesmo muitos estoicos nos tempos de Erasmo. Um pouco dos dois, imagino. Os estoicos são humanos que não querem ser humanos e isso é patético, resumidamente diz a crítica de Elogio da Loucura.

Mas o que é ser um humano, afinal? Saber experimentar o tempo. Perceber a lição da história de Quirão, professor de Aquiles, e que recusou a imortalidade oferecida pelos deuses porque sabia que ia sofrer de tédio. Isso é sabedoria. Tão sabedoria quantos os velhos que usam dentaduras feitas de dentes de porcos (!) e se casam com mulheres mais novas sem se importar com quantos anos ainda lhe restam. Ou as velhas que escrevem cartas amorosas aos homens mais novos e bebem e bebem a vontade. Nem esses velhos e nem essas velhas se importam com o que a sociedade diz, porque problema de verdade é uma pedra caindo na cabeça! Eis a perfeição da Loucura!

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

28 de agosto de 2020

 

Pedaço do teto da farmácia popular aqui de Rio Acima. Aquele trem marrom ali é um ninho de vespas. Gosto de fotos assim: presença humana indireta, arquitetura em um close mais ou menos abstrato e sinais de decadência. 


Algumas observações. As vezes a diagramação do texto aqui do blog fica estranha, mas não precisam se preocupar. Não é o Fahrid Murray Abraham que aparece em Caravaggio (Derek Jarma, 1986), e sim o Jonathan Hyde. Peço perdão a vocês e aproveito para dizer que Hyde já apareceu em diversos filmes populares (de Titanic, de James Cameron, a Jumanji, de Joe Johnston) de modo que eu aposto que você já viu ele no cinema e na televisão. Posso ainda dizer que ele tem um belo site pessoal: http://jonathanhyde.net/ . Lembrando que site pessoal de atores não é algo comum aqui no Brasil. Uma pena, somo pobres e desatentos quanto a este detalhe que não parece-me irrelevante.

Dando uma olhada nas notícias. A interrupção terapêutica da gravidez vai ficar mais difícil no Brasil, depois do último caso que teve repercussão nacional. Uma receita milenar basca tornou-se popular na internet. Universidade estadunidense faz pesquisa e o povo brasileiro fica entre os povos menos empáticos do mundo. E em Minas Gerais eu destaco a notícia que a capital Belo Horizonte esta abrindo ainda mais o comércio e outros serviços nestes tempos de Covid-19. 


Leonardo Mota e a Sabedoria Brasileira                                                                 "Há sempre um chinelo velho pra um pé doente."

Comentário.                                                                                                                  Não é bom estar só, sempre há alguém que combine com você por mais filhote-de-Cruz-Credo que tu sejas! A questão é como procurar e como merecer um Amorzinho. Estou fazendo aquecimento e alongamento todo dia. Como não tenho orientação profissional, eu não exagero. Tocar os dedos dos pés foi uma surpresa para alguém tão sedentário como eu, mas lamento ainda não ter os ombros de um praticante de polo aquático e os braços de um pedreiro que carrega saco de cimento o dia todo. Mas pelo menos eu sou careca igual ao Jason Statham e isso não há mulher interessante que possa negar.


Lendo ELOGIO DA LOUCURA (1510), de Erasmo de Rotterdam (2 de 5)          

Acho que toda criança tem um pouco de Filoxeno, personagem do dramaturgo grego Sófocles: quem nunca assoou o nariz em cima da mesa de comida? Aí o bolo de aniversário fica todo para você, seja o aniversariante você ou não! Outro exemplo: como afastar pessoas chatas numa fila de restaurante fast food

Imagine uma criança sábia ou um idoso consciente de todos os arrependimentos e remorsos ao longo de tantos anos. Não seriam tristes? Agradeça à Loucura que sabe tirar o juízo da gente.

Erasmo de Rotterdam antecipando a crítica de Rousseau e Nietzsche: olhe para o filósofo refletindo, que coisa patética e mórbida! Como se não bastasse a tristeza, essas pessoas também envelhecem depressa. 

Mais Grécia Clássica. Gosto da deusa Diana, pois o seu nome é o mesmo de uma antiga quase namorada minha. Lamento não ter tido coragem para ser um Endimião. Se eu tivesse sido corajoso, se eu me amasse também, eu receberia beijos e bênçãos da Lua todas todas as noites...

Olha a hierarquia de preferência dos humanos, que gostam mais da deusa Adulação, do que da deusa Ate (discórdia) e da deusa Momo (o sono do juízo).

Loucura reina no mundo, controla os humanos. Júpiter fez mesmo um bom trabalho. Olhe para a constituição de um humano: a razão esta num cantinho da cabeça, já as paixões estendem os seus domínios pelo reeeeesto do corpo. E mais, como se não bastasse a razão ser pequena e fraca, a ela Júpiter uniu dois tiranos: a raiva e o desejo sexual. Minto? Olhe para o comportamento de você e da humanidade!